"Ponto de vista": Alemanha: "Keines Keynes".
Alemanha: "Keines Keynes..."
Tal título pretende ser um jogo de palavras entre "Keines", ("nenhum", podendo mesmo querer dizer "nada", ou "nada de"), e "Keynes" - o economista habitualmente conotado com políticas de desenvolvimento impulsionadas pelo Estado.
E obviamente quer significar que pelo menos até agora a política económica da Alemanha tem sido caracterizada por uma obsessão monetarista assente em equilíbrios orçamentais absolutos, rejeitando totalmente qaisquer ideias de endividamento do Estado, mesmo que para financiar programas geradores de emprego, como Keynes advogava e que um grande número de prestigiados economistas (entre os quais Stiglitz, Krugman e Grawe) continua a defender como solução para economias em situação deflacionária e de grande desemprego como a que a Zona Euro atravessa.
Pode-se compreender a razão pela qual muitos alemães defendem a política actual do seu Governo, bem como a da generalidade dos que o precederam a seguir à confrontação de 39/45, ao recordarem que uma das razões que levou o seu país para tal conflito foi a situação hiper-inflacionária decorrente da obrigação do pagamento de dívidas de guerra impostas pelo Tratado de Versailles de 1919, recordação que persiste como um trauma inapagável.
Porém grande parte dos alemães esqueceu também que os países vencedores do conflito de 39/45 abstrairam do pagamento de parte importante das reparações decorrentes da guerra, reconhecidamente provocada pelos propósitos expansionistas do Reich, e que concederam largo prazo para a regularização da dívida remanescente, associado a condições vantajosas para a respectiva concretização, permitindo igualmente a reunificação dos dois Estados alemães - o que em teoria teria permitido a criação de uma potência económica ainda maior do que a que efectivamente surgiu.
As autoridades políticas e monetárias alemãs continuam assim fixadas numa obsessão que se poderia classificar de monetarista, desconfiando inclusivamente das iniciativas do Banco Central Europeu visando apoiar monetariamente a Banca da Zona Euro de modo a fomentar a concessão de mais crédito à iniciativa privada.
É verdade que é possível que a mais recente destas iniciativas tenha um grau de insucesso semelhante às anteriores, pois está baseada no pressuposto que a Banca passará a conceder muito mais crédito a empresas, o que não é evidente, pois os Bancos não o farão sem prévia verificação sustentada da solidez dos projectos, pelo que voltamos ao cerne do problema, que é o de não haver um clima de confiança no futuro; e este só se consegue através de um profundo empenhamento, tanto dos cidadãos como dos governos, passando assim por um forte programa político a nível da União Europeia que aposte no investimento de iniciativa pública concretizado na sua execução através das empresas privadas - e nestas com a predominância das que criam mais emprego: as de média dimensão.
A "Modest proposal" * (Holland, Varoufakis, Galbraith) contem as ideias para tal concretização - sem recurso ao endividamento público.
Ou seja, em vez de "keines Keynes", "mehr Keynes" (mais Keynes)...
* http://yanisvaroufakis.eu/euro-crisis/modest-proposal/
1.Fevereiro.2015.