E a Crimeia ?
Entra hoje em vigor um cessar-fogo entre separatistas russófilos e as forças militares ucranianas, na sequência de um acordo em Minsk - o segundo, após os ocorridos há alguns meses sob o patrocínio da OSCE, em que tinham participado apenas representantes da Ucrânia, da Rússia, e dos separatistas.
Do acordo de há dias, em que participaram A.Merkel, F.Hollande, P.Poroshenko, e V.Putin, surgiu uma Declaração formal em que estas personalidades se comprometem a usar a respectiva influência sobre as partes em conflito no sentido de lhe ser dado fim, visando a plena aplicação dos diversos compromissos firmados desde 5 de Setembro de 2014.
Porém, logo no parágrafo inicial da citada Declaração, aquelas personalidades reafirmam o seu pleno respeito pela soberania e integridade territorial da Ucrânia.
Mas uma Ucrânia com as fronteiras reconhecidas internacionalmente como as estabelecidas pela própria Rússia, enquanto potência dominante da então URSS ?
Ou uma Ucrânia em que segundo a interpretação de V.Putin a integração na Rússia da Crimeia-Sebastopol foi o resultado de um processo legítimo assente num referendo?
Convem não nos esquecermos que a Assembleia-Geral da ONU adoptou uma Resolução, em Março de 2014, apelando aos Estados-membros para não reconhecerem quaisquer mudanças no estatuto da Crimeia (e de Sebastopol).
O recente acordo de Minsk constitui assim mais um exercício de hipocrisia, com a Rússia a interpretar a integridade ucraniana sem a Crimeia-Sebastopol, e os três outros Estados a considerarem o contrário - com dois deles (França e Alemanha, porém sem delegação formal do Conselho Europeu) assumindo tacitamente uma troca: a intocabilidade das fronteiras sueste Ucrânia em troca da integração russa da Crimeia-Sebastopol...
Em temos estratégicos percebem-se os propósitos de V.Putin: Sebastopol é essencial para as forças aeronavais russas, pelo que a troco do "esquecimento" da península da Crimeia pode perfeitamente deixar de apoiar militarmente os separatistas do leste ucraniano, exercendo então a sua influência no sentido de estes aceitarem soluções políticas que não ponham em causa as actuais fronteiras russo-ucranianas.
No que respeita à União Europeia, o decorrer da situação na Ucrânia desde os meses finais de 2013 demonstra bem a falta de uma consistente política de relações internacionais que aliada a uma débil capacidade militar conjunta são elementos que contribuem para a falta de coesão já decorrente da carência de uma sólida perspectiva de desenvolvimento conjunto - elementos denunciadores de uma quebra do projecto europeu.
15.Fevereiro.2015.