"Ponto de vista": Meios de informação pública: confiar e desconfiar.

Meios de informação pública: confiar e desconfiar.

    Há alguns dias foi profusamente divulgado um video relativo a uma conferência em que Yanis Varoufakis aparecia fazendo um gesto, considerado habitualmente como obsceno, associando-o à Alemanha.

    Y.Varoufakis, actual Ministro das Finanças da Grécia, rapidamente desmentiu ter feito tal gesto, considerando que o video tinha sido manipulado, e que a conferência filmada não era recente pois tinha sido proferida em 2013 - se bem que tivesse feito referências desprimorosas à política alemã.

    No dia seguinte Jan Böhmermann, responsável pelo programa satírico no qual tinha passado o video em causa, veio afirmar que a cena respeitante ao discutível gesto tinha sido inserida através de manipulação de imagens de modo a coincidir com as afirmações críticas relativas à Alemanha.

    Seguiram-se novos desmentidos em sentido contrário, desta vez por parte dos produtores do programa, e profunda controvérsia em especial na Alemanha relativamente ao que passou a ser denominado como "Varoufake" - talvez como antecâmara para "Varougate"...

    Este episódio demonstra bem como cada vez é mais importante a ponderação dos cidadãos sobre a qualidade e a fiabilidade da informação que lhes é transmitida, em particular por meios audio-visuais, uma vez que as técnicas de manipulação de imagens e sons atingem actualmente níveis de sofisticação absolutamente impressionantes.

    Já em 2010, nestas páginas, tinha tido a oportunidade de dar a conhecer (e pode-se ver a partir daqui) como se tinha fabricado a filmagem de um acidente de autocarro - que não tinha acontecido - em Lyon, e que é uma boa lição sobre o cuidado que devemos ter na apreciação da informação que nos chega, pois tal como então referi nestas páginas se há alguns anos os detentores dos meios de transmissão em massa de informação estavam relativamente bem identificados, agora contam-se por milhões.

    Acresce o facto de o correio electrónico, os blogues, e as redes sociais electrónicas permitirem a proliferação de informação ou de documentos de reduzida credibilidade - para não referir os que envolvem mistificação - bem como a publicação de comentários anónimos com a inevitável probabilidade do insulto ou da falta de fundamentação.

    Debate-se entretanto o jornalismo com o problema da manutenção gratuita das versões "on-line" dos orgãos de informação escrita face à por enquanto ainda reduzida vertente da publicidade paga, problema que poderá chegar às próprias estações de televisão e radio dado o aumento da banda larga na Internet, suscitando então quer uma maior presença da publicidade comercial quer o pagamento do acesso aos conteúdos; ou, o que parece ser mais provável, um misto das duas opções.


    O facto é que o cidadão desejoso de obter a informação com maior grau de credibilidade terá que a procurar onde existem profissionais de mérito, que obviamente têm que ser pagos tanto através da aquisição do produto, como dos rendimentos decorrentes da publicidade.

    Por outro lado, permanecerá a dúvida sobre se os possuidores dos meios de informação pública interferem - mesmo que subliminarmente - no trabalho dos jornalistas, levando a que a informação transmitida não seja isenta e que a independência seja algo posta em causa.

    O facto de não ter sido renovado recentemente o contrato de um prestigiado jornalista de um dos periódicos de maior prestígio em Portugal permite continuar a acalentar dúvidas sobre este tipo de questões, pois cada vez mais somos obrigados a aferir da consistência da informação em função da qualidade do seu difusor.

    E a assumirmos, mesmo assim, uma postura de verificação permanente, nomeadamente através da comparação de fontes, sobre o que nos vai sendo transmitido.

    22.Março.2015.