"Ponto de vista": Desporto profissional, dependência, e alienação.

Desporto profissional, dependência, e alienação.

Hesitei antes de abordar o tema das relações entre o espectáculo desportivo profissional e a dependência e alienação das realidades provocadas por este tipo de manifestações, mas considerei que não deveria deixar de voltar a tentar apelar ao bom senso e a mostrar o exagero em que se tem caído no quase endeusamento dos principais actores de tais exibições.

Como já o fiz em textos anteriores, publicados nestas net-páginas, volto a afirmar que tem vindo a aumentar a alienação relativa a este tipo de espectáculos, que se aproximam muito mais de desempenhos circences em que as compras de artistas mais qualificados, e dos seus treinadores" (quase diria "tratadores"...) são determinantes para o sucesso financeiro das empresas que os sustentam, eufemisticamente designadas por "clubes".

Tais empresas jogam habilmente com o lado emocional das pessoas que por motivos que têm muito de irracional resolvem aderir à condição de simpatizantes, mesmo de "militantes" - por vezes ferozes - das associações que se dedicam principalmente ao fomento de demonstrações "desportivas".

O seguidismo relativamente a uma empresa "desportiva" faz esquecer que o factor nele determinante é o sucesso de uma actividade empresarial que recorre a meios financeiros cuja origem e ligações são frequentemente associadas a negócios menos claros, como se constatou recentemente a nível mundial com o futebol profissional, em que os quantitativos financeiros circulantes são avultadíssimos.

E, claro, também a nível nacional, com o recente episódio de um treinador de futebol contratado num quadro em que os números envolvidos são exorbitantes, e em que os pormenores das negociações são rocambolescos.

As consequências da alienação colectiva à volta destas situações fazem esquecer que jogadores e treinadores, "comprados" por empresários que depois os "vendem" aos donos de "empresas desportivas" - sejam eles indivíduos como ocorre cada vez mais com árabes, russos, e outros novos-ricos, ou empresas cotadas em bolsa - defrontarão numa época os que já foram seus colegas ou colaboradores em situações anteriores.

E não devemos deixar de recordar as marchas "legionárias" de adeptos, entoando canções obscenas e envolvendo-se em lutas cujos resultados são muitas vezes bem funestos, ou procedendo a selváticas destruições de bens materiais, bem como as provocações e infindáveis discussões televisivas sobre o pormenor de uma situação de golo, alimentadas por juristas e profissionais liberais que quase se insultam mutuamente, contribuindo para a criação de ambientes de ódio em vez de pugnarem por uma sã convivência.

Esperemos entretanto que os cidadãos vão progressivamente compreendendo que estão - também no âmbito dos espectáculos "desportivo-profissionais" - a ser alvo de manipulações sobre o seu pensamento que visam fazê-los esquecer outras questões mais candentes.

7.Junho.2015.