"Ponto de vista": Catalisadores e transformações políticas.
Catalisadores e transformações políticas.
Diversos exemplos demonstram o papel dos catalisadores nas transformações de natureza política que sem a sua existência evoluiriam muito gradualmente, e em muitos casos não na direcção que acabaria por ser imprimida às reacções sociais na sequência de tais detonadores.
Em Portugal temos exemplos relativamente recentes de tais fenómenos, dos quais o mais saliente foi o movimento militar de 25 de Abril de 1974, que originou uma profunda modificação na sociedade portuguesa e nos territórios coloniais que ascenderam posteriormente à independência.
Outros houve, sendo igualmente relevante a tentativa de golpe de Estado de 11 de Março de 1975, que acabou por desempenhar um papel catalisador contrário aos objectivos desejados pelos seus autores.
Também, e com grande relevância, assume características algo semelhantes a sublevação de paraquedistas ocorrida na segunda quinzena de Novembro de 1975, que acabou por actuar como detonador de uma reacção militar com cobertura institucional em 25 de Novembro, neutralizando o poder político que vinha a crescer depois dos acontecimentos de 11 de Março.
Mais recentemente temos um exemplo de uma intenção política que actuou como catalisador de uma forte manifestação pública de oposição aos seus propósitos: o anúncio, há cerca de três anos, da descida da Taxa Social Única para as entidades patronais em paralelo com a subida de tal taxa para os trabalhadores, levando ao recuo governamental.
Outros exemplos há em que situações propícias a terem um efeito catalítico de uma grande modificação acabaram por não o provocar, tendo sido uma delas a falta de uma política apropriada para evitar a invasão militar do então Estado da Índia, cujos reflexos nas Forças Armadas portuguesas deixaram marcas profundas - porém não as suficientes para a deposição do poder político de então.
E não é por acaso que o imobilismo social em Portugal tem vindo a coabitar com o cada vez maior número de observadores que se apresentam como defensores de profundas modificações no sistema político, mas que nada conseguem dada a defesa intransigente do modelo actual por parte nomeadamente dos partidos políticos - que só se reformariam caso e quando aparecesse um fenómeno indutor de catalisação apropriada.
A nível mundial não é possível, como é evidente, prever-se quando poderão surgir fenómenos de catalisação nem em que direcção produzirão efeitos, mas apenas pressentir-se esta ou aquela área onde poderão surgir dado haver condições para a sua eclosão.
Angola, Venezuela, Brasil, África do Sul e China aparecem como hipóteses mais prováveis, mas nada exclui a sempre surpreendente França de vir a aparecer em tal grupo - e a Grécia poderá talvez contribuir para se apresentar como detonador de uma crise no seio da União Europeia.
E, claro, depois das catálises aparecem as inevitáveis análises.
2.Agosto.2015.
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