"Ponto de vista": A nova Cortina de Ferro.

A nova Cortina de Ferro.

A reacção do Governo húngaro face ao grande afluxo de refugiados que procuraram atravessar as suas fronteiras a sul e a leste visando chegar aos Estados-Membros da União Europeia provocou um enorme desagrado em muitos sectores da opinião pública europeia, que assistia perplexa à construção de uma nova "Cortina de ferro" - desta vez com objectivos diferentes dos que presidiram à anterior , mas nem por isso menos mórbidos.

lnvocando de um modo literal as disposições do Acordo de Schengen e do Estatuto dos Refugiados e sem procurar a solidariedade que a generalidade dos Estados-Membros da União Europeia lhe poderia proporcionar infligiu- se um golpe profundo na União, que poderá ter que vir a hibernar durante alguns anos até serem curadas as feridas provocadas pela presente crise e pelas dicotomias criadas pela apressada criação da moeda única, quer no âmbito da Zona Euro quer no da própria União.

Há certamente que rever os termos do Acordo de Shengen, que poderão não estar adaptados quer à existência de fluxos enormes de refugiados quer à situação de descontinuidades geográficas como as que se verificam no caso da Grécia, sem fronteiras comuns com outros Estados-Membros da União.

Porém tal não é razão para se construírem novos "muros da vergonha", acrescendo que estes foram criados por quem tinha a obrigação de se lembrar da existência dos anteriores - parte deles nos mesmos locais.

É assim responsabilidade dos actuais dirigentes dos Estados-Membros da União Europeia pensarem na descoberta de um novo rumo para a União.

De urna clarificação do que deve ser o novo Espírito Europeu, algo diferente do que em 1946 levou à construção de uma comunidade europeia cujos objectivos, se bem que nobres, eram excessivamente eurocêntricos e económicos.

Esqueciam o Mundo e o dever do exemplo pela demonstração dos valores que a ele deveriam presidir.

Não colocaram suficientemente as pessoas em primeiro lugar.

Deste modo e tal como tenho vindo a recordar desde há dois anos nestas páginas, cabe assim e agora a todos, e em particular aos de maior propensão intelectual, reflectir de novo sobre a nossa Europa, e colocar os seus dirigentes face às suas responsabilidades.

20.Setembro.2015.
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