"Ponto de vista": Refugiados, jornalismo, e União Europeia.

Refugiados, jornalismo, e União Europeia.

O intenso afluxo de refugiados à Europa tem suscitado obviamente o interesse geral, tendo sido objecto de múltiplas intervenções dos meios de informação pública.

No entanto não parece ter havido até agora a preocupação de explicar claramente os diversos aspectos que têm caracterizado aquelas migrações, desde a origem dos migrantes às razões que os levam a tomar tão decisivo passo nas suas vidas, bem como no que respeita às diversas classes de rendimento de que auferiam e aos tipos de agregados familiares em deslocação - isto, para só citar alguns dos aspectos, pois outros haverá igualmente relevantes como sejam as religiões seguidas.

De acordo com números mencionados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) o número total de refugiados no mundo excederá os 11 milhões, que deverão ser acrescidos de mais 30 milhões de pessoas que embora não tenham migrado estão sob a sua área de preocupações  - caso de apátridas, por exemplo - e que podem vir a fazer crescer ainda mais o número de refugiados.

Os que têm procurado a União Europeia como lugar de refúgio são maioritariamente originários do Médio-Oriente, e em menor quantidade (mas nem por isso menos apreciável) provindos da zona de África ao norte da linha equatorial.

Os refugiados sírios que procuraram acolhimento na Turquia, Líbano e Jordânia já atingiram o enorme número de cerca de 4 milhões (dos quais 2 na Turquia), admitindo-se que provenha de entre eles a maioria dos que através da Grécia, Bulgária, Macedónia e Sérvia procuram agora chegar à Hungria e a partir daí prosseguir para outros Estados-membros da União Europeia.

Os refugiados que têm procurado a Itália como entrada para a UE serão provavelmente originários de África, se bem que haja muitos sírios que através do Egipto e depois da Líbia tenham igualmente procurado a via de acesso pelo Mediterrâneo.

No meio deste quadro, surge logo uma pergunta: e se por exemplo os dois milhões de refugiados na Turquia decidissem deslocar-se para a União Europeia, seguindo o exemplo das já centenas de milhar que o terão conseguido ou estão em vias de conseguir?

E outra pergunta: e porque razão apenas uma minoria dos refugiados sírios decidiu, ou conseguiu, chegar às fronteiras da União Europeia - nomeadamente à Grécia, Itália, e Hungria ?

Qual o seu perfil? Que meios utilizaram ?

Um jornalismo de qualidade deveria apresentar factos que ajudassem os cidadãos a ter perspectivas mais fundamentadas sobre estas questões.

Tais factos serão por certo (ou deveriam ser) do conhecimento dos departamentos apropriados da Comissão Europeia, cuja obrigação de os dar a conhecer é inequívoca - passadas que foram as "sagradas férias" de Agosto...

Através de quem ?

Do tal jornalismo de qualidade, que logicamente já lhe deveria ter colocado as óbvias questões, e de ter investigado e dado a conhecer as condições de sobrevivência e de expectativas de vida nos campos de refugiados do Médio-Oriente.

13.Setembro.
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