"Ponto de vista": "In Google we trust".


   "In Google we trust".

Um amigo meu de longa data, de forte personalidade e convicções profundas, enviou-me ontem cópia de uma mensagem electrónica em que pedia desculpa por ter retransmitido para a sua rede de conhecimentos uma informação que chegara ao seu conhecimento pela mesma via contendo um erro grosseiro sobre a identidade de uma pessoa que teria procedido a movimentação de capitais de forma irregular.

E em tal pedido de desculpas informava que tinha retransmitido a informação na convicção de que era correcta, mas que em boa hora um amigo de longa data, cuja palavra lhe merece toda a confiança, lhe remeteu uma mensagem referindo que a informação era falsa, pelo que de imediato alertou todos os destinatários iniciais solicitando-lhes que tomassem conhecimento do erro e que igualmente reencaminhassem a correcção para quem tivesse retransmitido a informação inicial.

E, naturalmente, apresentava as desculpas públicas à pessoa vítima do erro involuntariamente cometido.

A dignidade do procedimento, bem reveladora do elevado carácter do meu Amigo, é um exemplo que deveria ser observado por todos quantos constatassem erros grosseiros atentatórios do bom nome de outrem, e que agora proliferam nas redes de informação electrónica, seja em correio, em páginas pessoais, ou nas "redes sociais".

Porém o aumento exponencial da informação pública circulante, quer através dos meios mais clássicos - nomeadamente a radio, a televisão, o cinema, e a que se difunde sobre suporte em papel - quer a que se apresenta através de diversas formas electrónicas, em especial na Internet, torna porém cada vez mais difícil destrinçarmos a verdade, pois até na área audiovisual surgem formas mais subtis e "requintadas" em termos de distorção e manipulação.

E é aqui que entra em cena o fenómeno "googliano", pois este motor de pesquisa adquiriu um tal relevo e preponderância que leva a que quando surgem diferenças de opinião ou de interpretação sobre factos o argumento "vi no Google" acaba por ser frequentemente invocado, apesar de caso se pesquisasse um pouco mais se tivesse podido encontrar o procurado contraditório - procedimento este que muito menos frequentemente é observado.

E é então que nas "redes sociais" o que caracterizei com a adaptação da simbólica frase "In God we trust" à expressão "In Google we trust" assume todo o seu poder manipulatório, pois caso uma informação errónea seja atingida pelo nirvânico "tornou-se viral", poderá expandir-se até atingir o estatuto de "In Internet we trust", após ter subido o patamar "In Facebook we trust", de modo a aniquilar os esforços tendentes a corrigir erros cometidos na difusão de informação.

Só muito lentamente e ao longo do tempo é que os cidadãos poderão atingir a prática - infelizmente necessária - de não acreditarem logo no que se lhes transmite, e de o tentarem verificar por consulta de fontes alternativas (e não esqueço os que vivem sob regimes ditatoriais em que o controle da informação é férreo) - antes de apressadamente o retransmitirem.

13.Março.2016,