"Ponto de vista": Desemprego, emigração, abstenções eleitorais.


  Desemprego, emigração, abstenções eleitorais.

Um problema, três consequências.

O problema reside no atavicamente fraco desempenho da economia portuguesa desde há alguns séculos, parcialmente ocultado por transferências coloniais bem como - terminadas estas - por financiamentos das Comunidades Europeias.

As consequências têm sido traduzidas em desemprego (para o qual tem contribuído a secular distorção na redistribuição do rendimento nacional), seguido de acentuada e constante emigração em que os destinos foram variando de acordo com diversas circunstâncias, podendo considerar-se que no momento presente um em cada três portugueses reside no estrangeiro, e que do meio milhão que emigrou nos últimos cinco anos a maioria será constituída por jovens.

Problemas que se reflectem obviamente no cálculo das taxas de desemprego - e nas de emprego, não necessariamente correlacionáveis plenamente.

E outra consequência - esta determinada pela decisão da Assembleia da República, em 2008, de tornar o recenseamento eleitoral associado à posse de bilhete de identidade ou cartão de cidadão de quem tivesse 18 ou mais anos de idade - foi a de fazer aumentar a taxa de abstenções eleitorais, uma vez que se estima em cerca de 700 mil os cidadãos que residindo no estrangeiro mantêm aquele sistema de identificação.

Note-se a propósito e entretanto que o que assim verdadeiramente importa aferir, em termos de participação eleitoral comparativa, é a variação do total de votantes, uma vez descontados do conjunto os que entretanto emigraram e que provavelmente não se tenham deslocado a Portugal para exercerem o seu direito de voto.

Outras consequências ocorrem em cadeia, desde o aumento dos jovens que continuam a viver em casa dos pais e dos que se casam mais tarde, a diminuição da natalidade em Portugal, o aumento das fracturas sociais, a dificuldade de financiamento da segurança social, e muitas outras entre as quais será mais relevante o aumento da taxa de abandono escolar bem como a diminuição dos investigadores científicos mais jovens.

Ora a medida que à partida deveria definir o sucesso de uma Nação e do Estado em que se apoia não pode deixar de ser o gosto dos cidadãos de viverem e trabalharem nas terras onde nasceram, pelo que a emigração determinada por incapacidade de o poderem fazer de forma minimamente digna não pode deixar de ser o principal aferidor da "saúde" do nosso País.

E é óbvio que para que tal possa finalmente acontecer será necessário adoptar modelos de participação política que canalizem para tal fim as enormes capacidades do povo português, e motivem as pessoas com melhores capacidades a dedicarem mais do seu tempo e das suas posses a ajudar este por agora pobre Portugal a usufruir gradual e plenamente dos seus recursos - que muitos são.

22.Maio.2016.