Nice, 14 de Julho : o "franchising" fascislamita.
Volto a citar o que escrevi em 2015 nestas páginas:
"Quem iria dizer que o discurso mais notável pronunciado nos tempos mais recentes contra o radicalismo de grupos muçulmanos viria a ser pronunciado por um militar que ascendeu à Presidência do Egipto na sequência de um golpe-de-estado (se bem que legitimado por posteriores eleições geralmente reconhecidas como validando uma maioria significativa de adesão entre os egípcios) ?
O General Abdu l-Fattāḥ Sa‘īd Ḥusayn Khalīl as-Sīsī, mais conhecido por Al-Sisi, interveio na comemoração anual do nascimento do profeta Maomé da Universidade Al-Azhar (Cairo), no final de Dezembro passado, para referir que se tinha deixado que a ideologia se apoderasse da religião através de uma lógica que não corresponde à época em que vivemos.
Dirigindo-se em especial aos teólogos e aos clérigos, sugeriu que examinassem profundamente a situação actual, considerando preocupante que a ideologia continuasse a ser santificada a tal ponto que seja difícil analisá-la sem preconceitos, e que a religião a ela associada esteja assim a ser hostil ao resto do mundo, sendo inconcebível que 1 bilião e meio de muçulmanos pudessem querer eliminar os restantes 7 biliões de "infiéis".
"Temos que mudar radicalmente a nossa religião"."
Quer a origem ideológica dos atentados suicidas que nos últimos anos têm ocorrido tanto no mundo muçulmano como nos EUA e na Europa tenha sido e continue a ser radicada no "wahabismo" ou no "salafismo" (doutrinas com génese primária no Egipto, e agora implantadas fortemente nos sauditas), constata-se que no ocorrido recentemente em Nice pode ter havido uma mudança de orientação determinada pelos seus mentores, cujos objectivos continuarão provavelmente a ser a destruição dos "infieis", associada caso possível à reconstrução de califados.
Enquanto o atentado sobre o aeroporto de Bruxelas já indiciava uma mudança de métodos, mas mantendo o uso de explosivos, no que teve lugar num comboio na Alemanha já não houve o uso de explosivos, bastando simples armas "brancas" para provocar o efeito pretendido de insegurança.
Ou seja, tanto na Alemanha como em Nice (e mesmo nos EUA) terá bastado uma "conversão" isolada, quiçá discreta ou com reduzidíssimos contactos exteriores, para com relativamente poucos recursos se provocar um aumento da sensação de insegurança na sequência de mortíferos atentados recorrendo a metodologias inovadoras.
Em Nice, por exemplo, nem teria sido preciso um camião de grande porte para semear o pânico e matar - para além de ferir - diversas dezenas de pessoas, pois para tal teria bastado um veículo monovolume.
Nice poderá ter sido assim a confirmação de um novo modelo de actuação, caracterizado pela actuação de suicidas isolados, em autêntico "franchising", com utilização de recursos simples e mudança de sistemas de acção e tipos de alvo, nestes incidindo-se preferencialmente sobre grupos de pessoas.
Suicidas que, modulados por discursos religiosos dirigidos a frustrados de diversos tipos, procuram corresponder mediante a busca de soluções imaginativas difíceis de serem neutralizadas a tempo.
Discursos que por certo terão associada a promessa de paraísos e glórias, com o apelo à eliminação do maior número possível de "infiéis"
Sabe-se onde estão as raizes de tais apelos. Como extirpá-las ?
24.Julho.2016