"Ponto de vista" - Vazios de poder na UE e nos EUA.
Vazios de poder na UE e nos EUA.
Sentindo os vazios de poder criados pelos próximos "Brexit" e "Obamexit", V.Putin prossegue a sua estratégia de progressão de influência regional aproveitando os deslizes da política internacional da União Europeia (será que existiu alguma vez) e o apagamento progressivo do intervencionismo dos Estados Unidos da América para se instalar na Crimeia e na Ucrânia oriental, bem como para intervir na Síria, acenar ao Irão, e reestabecer laços de cooperação com a Turquia.
A construção - já em curso - da ponte de Kerch, que ligaria a Crimeia directamente ao território russo, seria um símbolo de tal política, pelo que se aguarda com curiosidade se a Rússia conseguirá custear o respectivo financiamento - até porque se envolveu noutro ambicioso projecto com o Irão, cujos custos seriam por certo exorbitantes: um canal ligando o Golfo Pérsico ao Mar Cáspio.
Por outro lado, os sinais de fricção em operações aeronavais no Mar Báltico, bem como nas relações com a Finlândia e com outros Estados limítrofes, mostram que V.Putin não descura igualmente o flanco noroeste da Rússia, mantendo porém um cuidado mínimo em evitar incidentes em que a NATO considerasse que deveria mostrar algum tipo de resposta.
Ou seja, V.Putin procura aumentar a influência russa em termos regionais, visando atingir um ponto em que a Rússia tenha capacidade para se impor mais decisivamente no quadro das relações internacionais.
E a propósito destes assuntos, sendo certo que é fácil discorrermos sobre o passado, não podemos contudo deixar de formular algumas interrogações.
Caso se tivesse optado por ajudar a Turquia a aderir rapidamente à admissão na UE quando o respectivo regime político era estruturalmente laico - e a influência militar já tinha sido colocada no plano habitual dos sistemas democráticos - teriam os movimentos políticos baseados no islamismo conseguido obter as maiorias de que ora disfrutam ? A liberdade de circulação de pessoas, obviamente regulada de modo a não desequilibrar subitamente a União, não teria ajudado a sustentar uma Turquia que então olhava para a UE como um farol de progresso - económico e político ?
Não foi pela ostracização da Turquia que se evitou a imigração muçulmana, e as comunidades turcas - nomeadamente na Alemanha - cedo demonstraram a ausência de radicalismo.
E a UE, continuando a olhar para as árvores e esquecendo a floresta, continua sem procurar responder às questões essenciais sobre o seu futuro, das quais ressaltam em primeiro lugar o que somos e o que queremos ser.
À falta, já referida, de uma verdadeira política externa da "união", agravada agora pelo limbo em que se entra uma vez declarada a Brexit, vem juntar-se o recente apagamento dos EUA na cena internacional nos últimos anos, agora potenciado pelo semestre eleitoral, pelo que o vazio do espaço político internacional tenderá a ser ocupado - por um ou por mais candidatos.
14.Agosto.2016.