"Ponto de vista": Bratislava, ou Britishlava ?


  Bratislava, ou Britishlava ?

Sinais preocupantes, os que transparecem da "reunião informal" de 27 membros do Conselho Europeu (pois um dos 28 -~a britânica Theresa May - não poderia obviamente ser convidada para um encontro em que se debateria principalmente, mesmo sem constar de agenda oficial, a situação da União Europeia provocada pelo referendo em que o Reino Unido optou pela "Brexit").

Bratislava, capital da Eslováquia - Estado a quem cabe o exercício da Presidência semestralmente rotativa do Conselho Europeu - transformou-se assim, dado o teor da reunião, numa "Britishlava" em que se decidiu pouco ou se decidiu nada decidir, e em que as tensões discordantes vieram ao de cima não só durante o próprio encontro mas também logo no dia seguinte, quando os 4 "Visegrad" (a própria Eslováquia, a Polónia, a Hungria, e a República Checa) ameaçaram em conjunto vetar o processo de saída do Reino Unido se não se mantivessem no futuro as condições de livre circulação dos seus nacionais para aquele país.

E logo a seguir à reunião Matteo Renzi afirma não poder subscrever os termos do comunicado final ao lado de Angela Merkel e de François Hollande, pois de tal documento inferir-se-ia ter havido acordo consensual, o que segundo M.Renzi não corresponderia à verdade.

M.Renzi, que uns dias antes tinha convidado precisamente A.Merkel e F.Hollande para um idílico encontro a 3 numa simbólica ilha italiana, e de que tinham sido declarações de quase colaboração eterna.

Por outro lado o inefável V.Orban não deixou de salientar de imediato que mantinha o referendo sobre a sua política anti-imigratória contra as orientações do Conselho.

E, com declarações tonitruantes visando "aproximar os cidadãos" relativamente às Instituições da "União", assistiu-se ao afastamento total dos eslovacos do contacto com os representantes máximos do Conselho e da Comissão Europeia, não só no trajecto para o local da reunião como no isolamento para almoço num dos navios que se dedicam a passeios no Danúbio, isolamento também entre pares numa longa mesa com 15 pessoas face a face...

Aguarda-se agora com curiosidade o que ocorrerá nos Conselhos de meados de Outubro e de Dezembro, nos quais Theresa May não deveria deixar de estar presente, uma vez que já declarou que só em "princípios" de 2017 solicitará formalmente a saída do Reino Unido.

Pobre Angela Merkel, transformada em Presidente de facto da União Europeia, mas quiçá fragilizada potencialmente pela possível redução de apoio eleitoral que se perfila no horizonte, "acompanhada" de perto por um solícito François Hollande com problemas semelhantes, e por um M.Renzi que teme os resultados de um referendo no qual apostou a sua carreira.

E pobres "dirigentes" restantes, que me absterei de enunciar para não adensar ainda mais o pessimismo deste escrito.

Pobre "União", que só a prazo recuperará algum do seu vigor, o que só poderá acontecer quando e se houver profundas transformações na sua organização política, começando na base, através de um maior conhecimento e comunicação entre eleitores e eleitos directamente.

18.Setembro.2016.