"Ponto de vista": O penoso espectáculo de D.Barroso.


   O penoso espectáculo de D.Barroso.

É confrangedor assistirmos a cenas televisivas em que um ex-Presidente da Comissão Europeia se arrasta penosamente por um corredor de uma qualquer instituição tentando ao mesmo tempo explicar no seu francês a um jornalista de segunda linha que não via razão para tanto alarido por ter aceitado um "convite" para presidir ao ramo europeu do Banco Goldman Sachs.

E, tanto nessas declarações como noutras de teor análogo e com entrevistadores de perfil semelhante (pois outros não terá conseguido...), utilizando argumentos de natureza comparativa com casos que reputa de parecidos ao seu, chegando inclusivamente a dar a entender que o percurso de M.Draghi é idêntico ao seu, como se fosse a mesma coisa ter trabalhado num Banco e ir depois presidir ao BCE ou sair do BCE e ir presidir a um Banco., esquecendo além disso que mesmo que esse procedimento fosse considerado aceitável em termos relativos e legais nem por isso tal conferiria uma isenção de reprovação sob o ponto de vista da respectiva avaliação em valor absoluto.

Esqueceu-se também D.Barroso do facto de ter brandido como argumento ponderoso que o teria levado a aceitar trabalhar no Goldman o facto de assim poder contribuir para ajudar - crê-se que o Banco - a superar inconvenientes decorrentes da "Brexit", não lhe tendo ocorrido que o facto de a sede onde vai (ou iria...) prestar as suas consultorias estar situada precisamente em Londres, criaria provavelmente a imagem, mesmo que porventura não correspondente à realidade dado o perfil ético geralmente atribuído a tal banco de investimento, de que iria contribuir mesmo que indirectamente para minimizar os efeitos negativos de tal "exit" relativamente ao próprio Reino Unido, e provavelmente com "êxito" suficiente para aumentar as consequências negativas para a União Europeia.

Por outro lado, conhecedor como certamente será, do perfil médio dos altos funcionários das Instituições da UE, bem como dos membros da Comissão Europeia, dos deputados ao Parlamento, e de outras entidades, deveria saber que provavelmente qualquer tentativa de contacto seu seria acolhida com extrema prudência, mesmo por parte daqueles que "devessem" favores.

Ingenuidade, portanto.

Não faltarão talvez muitos meses até que o seu empregador lhe proponha uma mudança de funções, precedendo uma possível saída da organização, que com a crueldade característica daquele tipo de organizações comerciais e de investimento, o declare "expendable".

Pena para Portugal, que viu passar ao lado a possibilidade de marcar posição a nível mundial com um desempenho que na Comissão Europeia poderia ter sido marcante numa década tão decisiva.

E pena que que a sua saída seja associada a uma decisão tão mal pensada.

25.Setembro.2016.