"Ponto de vista"- D.Trump: Trwitter, ou Trumpwitter ?


   D.Trump: Trwitter, ou Trumpwitter ?

Já há alguns dias e nestas páginas procurei atribuir um cognome a D.Trump, uma vez apelidando-o de Trumpwitter e outra caracterizando-o como Trwitter, duas perspectivas para a forma de comunicação que encontrou para difundir o seu pensamento - cuja "profundidade" já tinha sido possível apreciar ao longo da sua campanha eleitoral.

Adenda-se entretanto a curiosidade sobre se continuará a usar tal metodologia após a tomada de posse no próximo dia 20, não sendo de se excluir a possibilidade de tal suceder concomitantemente com outras formas de comunicação - mesmo as de natureza oficial - pois os comentários que tem vindo a "trwittar" denotam um elevado grau de espontaneidade que não parece ser susceptível de passar a ser atenuada pelos seus conselheiros.

De tal parece ser indicativa a existência de "trweets" pouco elegantes (para se usar esta forma de os caracterizar) para com o Presidente actual, nomeadamente quando elogiou a atitude de V.Putin de não retaliar contra a expulsão de 40 diplomatas russos ordenada pelos Estados Unidos na sequência de alegadas interferências nas eleições presidenciais., bem como quando criticou negativamente o voto dos EUA quanto a Israel na questão dos colonatos.

No entanto, quer continue ou não a trwittar, o que já é conhecido quanto ao modo como encara o seu futuro mandato presidencial permite extrair algumas pistas sobre as atitudes que tomará, mesmo que se considere que o seu círculo de colaboradores directos possa refrear algumas das intenções que publicamente tem vindo a expressar.

Aliás a escolha de tais colaboradores já diz muito sobre os rumos que os EUA tomarão em breve - pelo menos durante os próximos dois anos, pois em 2018 haverá eleições para todos os 435 membros da Câmara dos Representantes e para 33 dos 100 senadores.

Embora por outro lado não se deva esquecer que D."Trwitter" Trump foi eleito sem o apoio claramente explícito do GOP (Grand Old Party), o que pode significar que pelo menos até ao fim de 2018 deparará em diversos casos com oposições do Congresso quanto a iniciativas que queira tomar. (recordemos B.Obama e Guantanamo...).

Mas também devemos ter presente que D.Trump afirmou que escolherá para Presidente do Supremo Tribunal de Justiça (acto que lhe compete concretizar no início do seu mandato, uma vez que tal cargo apenas ficou vago recentemente devido ao falecimento do Juiz A.Scalia) uma personalidade de pensamento conservador, situação que se manterá até à próxima vacatura de um dos 9 Juízes.

E que pistas se poderão deduzir do que se pode extrair das afirmações públicas de D.Trump (orais, pois pouco haverá quanto a escritas - excepto notas para o discurso de aceitação da candidatura pelo GOP, e talvez assinaturas em livros de cheques...)?

Como ideias principais, ressaltam o apelo à unidade, obras em infraestruturas, mais emprego, ordem pública, controle da imigração e o inevitável muro mexicano, isolacionismo comercial - porém conflitual com a China, política externa inexistente - mas com "pay for protection", uso das reservas de energia, a extinção do ACA ("ObamaCare").

Resistirá o ego profundo de D.Trwitter a fazer preceder as suas intervenções oficiais de um "trwitterzinho" aos seus "fellow americans" ou a comentar do mesmo modo qualquer observação negativa de um Senador a propósito de uma disposição legislativa ?

Ou a dirigir-se do mesmo modo a um Presidente ou a propósito da política de um Estado, como já o tem feito por exemplo em relação a Taiwan, Filipinas, ou China ?

Ou em relação à Rússia, quiçá propondo um novo modelo de Tratado de Tordesilhas ? E o escudo defensivo anti-mísseis, que fazer dele ?

Só a solidez política de alguns Senadores poderá introduzir mecanismos de controle tanto em matéria de políticas internas como externas que induzissem - a serem aprovadas - profundos desequilíbrios no frágil relacionamento internacional.

Até lá, "trwittemos".

1.Janeiro.2016