"Ponto de vista": Erasmus e o futuro da Europa.



  Erasmus e o futuro da Europa.

A Comissão Europeia apresentou há dias uma consulta pública que tem como finalidade "recolher os pontos de vista do grande público e de várias partes interessadas sobre a relevância dos objectivos do programa Erasmus" (na sua versão mais recente "Erasmus+), bem como sobre "a eficácia das medidas adoptadas para os atingir e a forma como estas são executadas.".

Pretende também "recolher opiniões sobre a coerência do programa e o respectivo valor acrescentado no que refere aos desafios e oportunidades existentes nos domínios do ensino, formação, juventude e desporto, em comparação com o que poderia ser conseguido pelos países da UE se actuassem sozinhos.", convidando a formulação de opiniões sobre o programa que poderá suceder ao Erasmus+ em 2020.

Não deixando de ser curioso o facto de continuar a "arrumar" o desporto na mesma categoria em que estão considerados o ensino, a formação, e a juventude (como se esta não devesse dedicar-se a outras actividades que não as desportivas - aliás em modelo que em Portugal tem vindo a ser aplicado há muitas décadas quase sem interrupções), e por outro lado a quase excluir as gerações menos jovens das possibilidades de intercãmbio que o Erasmus seria susceptível de apresentar, a Comissão Europeia aponta desde já para a continuação do programa para a próxima década, assumindo tal quase como um dever e uma inevitabilidade.

E assim repetindo alguma falta de visão dos fundadores da organização que viria a evoluir para o actual modelo de "União" Europeia, ao não darem mais relevo à necessidade imperiosa de se fomentar a circulação das pessoas nas então "Comunidades Europeias" ao mesmo tempo que se desenvolviam os caminhos no sentido da evolução para mercados únicos.


Não tomaram em devida consideração (ou, se o tentaram, depararam por certo com grandes dificuldades) o facto de em qualquer associação voluntária de povos ser desejável fomentar-se o conhecimento mútuo, bem como o domínio de outra língua além da materna, pensando que a livre circulação de bens, serviços e capitais bastariam para impulsionar decisivamente formas de aproximação a uniões de tipo político.

Perdeu-se assim a oportunidade de se aproveitar doutro modo o enorme esforço usado para financiar uma Política Agrícola Comum (que chegou a absorver 70% do orçamento comunitário), que poderia ter sido utilizado para a implantação de um ambicioso programa de intercâmbio que em vez de alguns (poucos) milhões de jovens europeus, com permanências inferiores a um ano, e com bolsas de estudo ridiculamente pequenas, abrangesse um universo muito maior, com estadias mais prolongadas, e com financiamentos individuais superiores.

E que, não se limitando a objectivos de natureza escolar e académica, absorvesse as finalidades do programa "Leonardo" de intercâmbio de trabalhadores em acções de formação (e que após 20 anos de existência não conseguiu abranger sequer o milhão de participantes) .

Teríamos tido, ao fim de alguns anos, uma Europa com outra maneira de pensar, mais capaz de cooperar e de evoluir para modelos políticos que sustentassem uma maior e melhor coesão entre os cidadãos.

Ainda estamos a tempo de pensar de modo ambicioso.

Comecemos por encontrar um nome que ecoe no espírito europeu.

Fidelio.

Consubstanciando a Liberdade e a luta contra a opressão - seja por que forma se apresente.

Beethoven certamente o aprovaria.



12.Março.2017