A tartufiana Alemanha financeira.
Recorro à analogia que é invocada em recente artigo ("Herr Tartüff", Jornal Económico, 18.4.17) do Prof.Leonardo Costa para caracterizar a hipocrisia tartufiana da política económico-financeira da zona Euro, através do BCE e da influência determinante que nesta é imposta pela Alemanha.
Trata-se de assunto que tenho abordado diversas vezes nestas páginas, e que com a deterioração provocada pelas "exits" - quer formais, como a do Reino Unido, quer disfarçadas, como a dos EUA face à OTAN e à UE e da Hungria e Polónia também quanto a esta última - é importante termos presente a fim de se evitar a possibilidade da desaparição da UE
Acentua aquele distinto Professor da Universidade Católica que os excedentes comerciais da Alemanha "estão na base dos desequilíbrios macroeconómicos com que o BCE ameaça agora penalizar países em dificuldades como Portugal", de acordo com os"interesses de muitíssimo curto prazo dos credores", BCE "cuja independência do sistema financeiro é, no mínimo, questionável", preferindo apoiar os bancos em vez de aplicar o "quantitative easing" na economia real, "via Banco Europeu de Investimento e Fundo Europeu de Investimento, em projectos geradores de riqueza e emprego", pois este "não faz parte das missões do BCE.".
E termina o seu notável artigo afirmando ser assim que se caminha para o fim da UE, e que só "uma nova liderança na Alemanha poderá alterar o actual estado das coisas."
Há muito que não lia um artigo em que se apontasse adequadamente o papel essencial do BEI e FEI no crescimento e reequilíbrio da zona Euro (e por consequência na União).
BEI e FEI que estatutariamente devem privilegiar as PME, geradoras da grande maioria dos empregos na UE.
Contudo, em trocas de impressões com responsáveis de topo na Banca "nacional" foi-me referido que esta não concedia mais empréstimos a PME por "não serem apresentados adequados projectos".
No entanto, há muito que defendo, tal como a Dra.Teodora Cardoso, a opinião de que o nosso país só pode reequilibrar as finanças através do apoio às empresas exportadoras - nomeadamente as de média dimensão, e que para tal se deveria privilegiar o recurso ao BEI/FEI, pelo que dada a alegada invocação da falta de projectos se poderia lançar a figura das "entreprise angels", especializadas na ajuda à elaboração de projectos, mediante financiamento também sustentado por parte dos lucros de exploração. além do proporcionado nomeadamente pelas citadas fontes de financiamento europeias - que estatutariamente têm que intervir em associação com Bancos nacionais.
Anote-se que esta perspectiva de fomento do crescimento e emprego respeita a toda a União, e nāo apenas à zona Euro.
E que é neste momento em que altos responsáveis de diversos Estados - desde a Rússia aos EUA e do Reino Unido à Turquia - veriam de bom grado a diminuição da coesão e influência da União, que o Conselho, o Parlamento, e a Comissão lhe devem dar um novo impulso, que passa necessariamente por uma estratégia de crescimento sã.
E não hipocritamente "tartufiana".
23.Abril.2017