"Ponto de vista": O triângulo Alemanha-França-Comissão.


    O triângulo Alemanha-França-Comissão.

A decisão da Brexit terá constituído, paradoxalmente, um momento de algum alívio para os dirigentes da Comissão Europeia, Alemanha e França - os dois últimos ainda na expectativa dos resultados das importantes eleições que nestes Estados-membros ocorrerão em breve - uma vez que desaparecerá dos processos de decisão dentro da União Europeia a muitas vezes incómoda presença do Reino Unido, sempre pronto a procurar privilegiar os seus interesses em detrimento das prioridades da União.

Por outro lado, o processo da Brexit não deixará de conduzir a um resultado em que não haverá nítidos vencedores nem vencidos, mas apenas uma situação em que o Reino Unido constate que teria sido melhor a sua manutenção dentro da União, uma vez que qualquer quadro final muito diferente acabaria por a prazo se revelar desastroso para ambas as partes - mesmo para a aparentemente vencedora no imediato.

Nos referidos sinais de alívio avultam as intenções enunciadas em conjunto por A.Merkel e E.Macron (embora cautelosamente, uma vez que ainda esperam pelos resultados das eleições legislativas em ambos os Estados) relativamente a políticas fulcrais dentro da União - não excluindo uma profunda revisão dos respectivos Tratados em vigor - e, no caso de E.Macron, sustentando ser necessária uma nova política financeira suscitadora de investimento e crescimento capaz de financiar a Segurança Social, sem a qual haverá campo fértil para os movimentos de extrema-direita, investimento para o qual, argumenta, o plano dos "300 mil milhões" de J-C. Juncker não é suficiente.

Por seu turno, J-C. Juncker, experimentado político europeu e por consequência bem conhecedor da vantagem de se ocupar rapidamente qualquer vazio político que surja, apresenta-se como o impulsionador de uma política de Defesa Europeia, afastada que está a hipótese da colaboração activa do Reino Unido nesta matéria, procurando colocar a Comissão no papel catalisador que teve no tempo de J.Delors, e que passa por apresentar múltiplas iniciativas que, face a um Conselho Europeu débil, tenham apoio de um Parlamento Europeu que também procura fazer afirmar a sua presença activa.

Porém uma dificuldade de monta se apresenta no quadro global descrito.

E.Macron sabe que a aceleração política que lhe foi dada pelo resultado da eleição presidencial poderá desvanecer-se caso não consiga formar uma maioria parlamentar consistente.

E, neste caso, não lhe restará alternativa que não seja a de, ao fim de alguns meses, convocar novas eleições. Com que resultado ?

28.Maio.2017.