"Ponto de vista": Kim, e o dedo de Xi.


   Kim, e o dedo de Xi.

"Kim, e o dedo de Xi", parece um título misterioso para quem não siga o evoluir da situação política no Sueste da Ásia, mas parece ser o mais apropriado no momento em que surgem na imprensa internacional referências à viagem que R.Tillerson, responsável pela política externa dos EUA, acaba de fazer a Pequim, e às suas declarações de que há agora um canal de comunicação directa entre a Coreia do Norte e os EUA.

Coincidente com os dias de acalmia no conflito verbal entre aqueles dois Estados, a viagem de R.Tillerson e as pouco habituais e algo inesperadas palavras daquele relevante membro da Administração dos EUA indiciam a intervenção directa da República Popular da China, sendo de admitir que um alto representante de Kim tenha estado presente em discreto encontro com o Secretário de Estado americano, com a presença de importante personalidade política chinesa.

Na sequência da mudança de orientação da China relativamente às suas posições no Conselho de Segurança da ONU, e ao início a que procedeu da aplicação das sanções à Coreia do Norte, não é de surpreender que Xi Xinping tenha decidido - em vésperas de Congresso do Partido Comunista da China - ameaçar a Coreia do Norte (para além das próprias sanções) com a interrupção total de importantes fornecimentos vitais não só para a economia norte-coreana como também para a respectiva área militar.

Não conviria nada a Xi que ocorresse perto das suas fronteiras uma confrontação militar, agora que calmamente vai prosseguindo a continuação da política de pequenos passos que lhe tem valido uma crescente supremacia no plano interno, e que poderá sair reforçada do Congresso que se iniciará em 18 de Outubro.

A questão que se colocará é se não terá deixado crescer excessivamente as capacidades militares da Coreia do Norte, que terão alimentado durante duas décadas o predomínio chinês no sueste asiático enquanto não obtivesse os necessários e almejados recursos das suas Forças Armadas para se afirmarem como traves de sustentação das políticas chinesas.

R.Tillerson, ao afirmar também que os EUA dispunham (agora?) de canais directos de comunicação com a Coreia do Norte, levantou uma ponta do véu sobre o papel da China em todo este processo, pois não é crível que tais sistemas de contactos existissem até à "Hora H" - "H", de Hidrogénio ...

E a Coreia do Norte, que durante anos teve um "refém" para as suas ameaças militares que era a Coreia do Sul, tendo passado depois a ter mais um (o Japão), reféns que lhe possibilitaram ir alimentando minimamente os seus súbditos - com algum êxito após as grandes carências do final do século passado - estará a poucos passos de atingir o patamar da inclusão dos EUA,

Mas a afirmação oficial dos EUA de que não pretenderiam promover o colapso do regime norte-coreano, se bem que apontando para uma aparente descompressão, apenas constituirá mais um adiamento de uma situação conflitual de fuga para frente em que Kim tinha vindo a apostar (com o seu também imprevisível "aliado" D.Trump/D.Trwitter) - porém nunca tendo esperado que a China lhe tirasse o tapete de apoio...

1.Outubro.2017