"Ponto de vista": União, ou Desunião, Europeia ?


   União, ou Desunião, Europeia ?

Na mais recente votação na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, criticando a decisão dos EUA de transferir a sua Embaixada em Israel para Jerusalém, e que foi aprovada por larguíssima maioria, houve seis Estados-membros da União Europeia que optaram pela abstenção (República Checa, Croácia, Hungria, Letónia, Polónia, e Roménia).

Tratou-se de mais um sinal significativo de um caminho de alguma desagregação acelerado pela Brexit, e ao mesmo tempo revelador da falta de visão de diversos Estados-membros e de parte da sua população no que respeita à adopção de decisões comuns essenciais para a existência de uma união política, entre as quais a política externa assume um papel relevante.

E, como consequência de uma política externa coerente, a de defesa é o seu complemento lógico, concorrendo para o mesmo efeito a de segurança nas fronteiras.

Acresce que em alguns daqueles Estados se notam decisões que embora embrionariamente indiciam algum afastamento, quando não perspectivas de rejeição, de políticas que são fundamentais na constituição de Estados de Direito Democrático, sem que o Parlamento Europeu - instituição que seria a apropriada para formular apropriadas observações ou resoluções nestas matérias - tome posições adequadas.

Não admira, assim, que o Presidente dos EUA aparente olhar displicentemente para a UE e que tome atitudes de apreço pela Brexit, em claro desrespeito por uma União que deveria considerar como aliada dos EUA na grande maioria dos assuntos comuns às duas Uniões (os Estados Unidos da América, e a União Europeia).

A União Europeia está assim num momento em que deve reflectir sobre como solidificar os alicerces sobre os quais foi construída, acrescentando se necessário outros, pois os caminhos que até agora seguiu não foram suficientes para actuar e se apresentar como um bloco robusto, gerador de bem-estar, e que procura manter boas relações com o resto do mundo.

Tais caminhos pecaram por alguma falta de ambição, pois embora tenham cumprido parte apreciável dos seus propósitos - tanto os iniciais, como os que foram sucessivamente sendo acrescidos - os resultados e a situação actual demonstram que teria sido necessário ir mais longe, ou aplicar metodologias que a prazo se mostrassem capazes de tais avanços.

E o caminho que faltou foi o de dar mais prioridade ao inter-conhecimento dos povos, em particular dos mais jovens, e para o qual nunca é tarde para o melhorar uma vez que constitui a base profunda do relacionamento intercultural e político.

Sendo certo que houve larga aplicação do princípio da livre circulação de pessoas, bem como das possibilidades de residir, estudar, e trabalhar noutro Estado-Membro, faltou porém a ambição de se procurar adaptar o programa Erasmus (criado - apenas em 1987 ... - para permitir apoiar o estudo e formação de jovens noutro país) a uma dimensão muito superior, quer em tempo de estudo, quer na quantidade de alunos envolvidos, quer no financiamento individual atribuído.

E proceder de modo análogo no que respeita ao que foi o Programa Leonardo (entretanto integrado em 2014 no novel Erasmus+), permitindo que estágios para jovens trabalhadores fossem igualmente objecto de idêntica reformulação.

Não falo de 700 mil jovens por ano, como sucedeu em 2016 no Erasmus+.
Falo em abranger pelo menos 4 milhões, em permanências de 2 anos.

Objectivos bastante mais ambiciosos do que os que foram expressos há dias pelo Presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.

Mas talvez ainda insuficientes para atingir em tempo útil o objectivo essencial da consolidação política da União Europeia, pelo que o ritmo desejável deveria ser adequadamente examinado, e consequentemente ajustado.

Só assim se conseguirá a união possível.

24.Dezembro.2017