"Ponto de vista": A manipulação das massas


     A manipulação das massas.

Ortega y Gasset deu o premonitório tom em "A rebelião das massas", ao referir que quando a opinião pública não existe não é viável o exercício de uma autoridade democrática, pelo que o espaço vazio que surge é preenchido pela força bruta.

Referia-se obviamente a uma opinião pública ponderada e consistente, formulada a partir de um civilizado confronto de pontos de vista, e em que os valores fundamentais que devem reger a convivência humana se impõem não pela imposição mas pela aceitação voluntária do reconhecimento da validade da argumentação apresentada.

É neste quadro que devem ser examinados cuidadosamente todos os sistemas a partir dos quais a informação chega até nós, pois crescem dia a dia dúvidas sobre se por exemplo terá havido manipulação de notícias tendentes a influenciar a votação nas eleições presidenciais dos EUA e no referendo sobre a Brexit, bem como nos recentes actos eleitorais alemãos e italianos - sem esquecer os analogamente ocorridos na Áustria e no grupo de Visegrad.

Se admitirmos a hipótese de que tenha havido uma acção conjunta, o alvo principal parece ter sido a União Europeia, sendo o objectivo secundário o enfraquecimento da componente europeia da NATO, o que tende a demonstrar que à sublevação amórfica das massas denunciada por Ortega, e prenunciadora de tomadas de poder ditatoriais, poderá seguir-se a sua manipulação visando o seu domínio por métodos subtis.

Assim, além da guerra telemática, a que se tem chamado cibernética, tem surgido uma nova forma de luta pelo domínio do pensamento, através da colocação de notícias e informações visando a modulação sub-liminar do pensamento.

Informações falsas ou distorcidas, habilmente elaboradas, que circulam com rapidez por públicos pouco preparados para avaliarem do respectivo grau de credibilidade.

Ao vazio criado pela Rebelião das massas, ocupado por poderes ditatoriais, sucedem-se assim as técnicas de Manipulação das massas visando o seu controle - por meios muito menos onerosos.

Que paradoxo este, o de termos que demonstrar que há que duvidar sistematicamente de quase tudo o que nos é transmitido!

(A começar por este mesmo texto...).

22.Julho.2018.