"Ponto de vista" : A reabertura do "Chão Bom" (Tarrafal...) ("Semimórias")


      A reabertura do "Chão Bom" (Tarrafal...)
      ("Semimórias")

Voltando a rebuscar no passado, e recorrendo também a recordações de outros Camaradas d'Armas, lembrei-me de ter iniciado a minha carreira de Oficial de Marinha em Navios-Patrulha que naturalmente tiveram uma importãncia marcante, quer pela personalidade dos respectivos Comandantes e Oficiais, quer pelas missões que lhes estavam atribuídas.

Assim, após alguns meses no NRP "Santo Antão", fui integrar a guarnição do NRP "Fogo", que ainda no decorrer do movimentado ano de 1961 fora colocado no arquipélago de Cabo Verde.

E após um périplo por todas as ilhas - privilegiando obviamente a do Fogo - a base principal do Navio passou a ser o Mindelo (São Vicente) o que me permitiu aliás conhecer pessoalmente as famosas cantoras Cesária e Titina, e estabelecer relações com outras pessoas daquela acolhedora ilha.

E eis que no princípio de 1962 nos é atribuída uma invulgar missão.

O então Ministro do Ultramar (Prof.Doutor Adriano Moreira) tinha ordenado a reabertura das instalações prisionais conhecidas por "Tarrafal", que tinham sido encerradas por pressão internacional em 1954 - ano em que a União Indiana ocupou os enclaves de Dadrá e Nagar-Aveli, num primeiro sinal a que o Governo Português não deu a importância que lhe deveria ter atribuído, tal como então sucedera com a derrota francesa na batalha de Dien Bien Phu, e. pouco depois, com a Conferência de Bandung.

Aquelas instalações passaram então a ser designadas por "Campo de trabalho de Chão Bom",

Recebeu então o Patrulha "Fogo" a incumbência de transportar para aquele "Campo de trabalho" 14 angolanos que tinham sido detidos pela PIDE - Polícia Internacional e de Defesa do Estado - e a quem, por despacho do Ministro do Ultramar, tinha ali sido fixada residência por períodos que iriam dos 6 aos 10 anos.

Aguardavam no Mindelo, onde tinham chegado após viagem em navio mercante, o embarque no NRP "Fogo", que ocorreria em 25 de Fevereiro de 1962.

Não esquecemos o desabafo de André Rodrigues Mingas, Pai de Ruy Mingas, quando desembarcou do Patrulha "Fogo", ao olhar o céu dizendo ser o último dia em que via o sol.

Teria ele chegado a ler a carta que seu Filho lhe enviou em 19 de Julho de 1962, interceptada pela PIDE, e cuja transcrição é consultável ?

Por aquele "Campo de trabalho" passaram depois muitos angolanos, alguns dos quais viriam a desempenhar funções de relevo naquele novo Estado - caso do Ministro Manuel Pacavira, cujo nome consta de uma das listas de que se junta cópia no final do presente texto.

Episódio este, prenunciador de diversos que viriam posteriormente marcar encontro comigo...

8.Julho.2018.