A credibilidade dos meios de informação pública.
As manifestações ocorridas recentemente em França em que as chamadas redes sociais serviram de veículo para a transmissão de descontamentos sobre a carga fiscal congregaram milhares de cidadãos em protesto e foram mais um sinal de como a sociedade mudou desde Maio de 1968 - há meio século - mostrando como a lentidão do boca-a-boca foi ultrapassada pelas citadas redes.
Por outro lado, informações falsas ou distorcidas, habilmente elaboradas e que circulam com rapidez pela Internet, atingem públicos pouco preparados para avaliarem qual o seu grau de credibilidade, permitindo o uso de técnicas de manipulação das massas visando o seu controlo por meios pouco onerosos.
Chegámos a um momento em que temos que duvidar sistematicamente de quase tudo o que nos é transmitido
Recordo um exemplo citado nestas páginas há alguns anos - talvez mesmo 6 ou 7- em que um conjunto de técnicos da área do audiovisual informático montou um vídeo de um suposto acidente de autocarro em Lyon, ocorrência que nunca existiu, e demonstrando na Internet como tinham procedido.
Resta ao cidadão como única alternativa não tomar de imediato uma notícia como verdadeira e antes de sobre ela tomar uma decisão ou formular uma opinião procurar certificar-se de que a fonte é fiável num grau de probabilidade elevada, recorrendo nomeadamente a comparações com outras.
E o mesmo é obviamente válido para os profissionais de jornalismo sendo essencial que regularmente apelem aos seus públicos no sentido de verificarem se as fontes noticiosas cumprem os requisitos de contraditório e de consistência da informação produzida.
O quarto poder - o dos meios de informação pública - está a ser cada vez mais condicionado pela competição gerada pela emocionalidade associada a acontecimentos em que é preciso verificar qual a sua origem e fundamentação, concorrência que procura a sustentação através de publicidade comercial associada ao maior impacto da informação circulante.
Seria então desejável a constituição de conjuntos de cidadãos que financiassem a criação de meios de informação pública isentos, com a consciência de que estão a contribuir para a existência de uma sociedade melhor informada.
De outro modo assistiremos ao crescimento de um poder à medida e segundo as conveniências de quem tem um melhor conhecimento dos metadados identificáveis em "redes sociais", bem como dos principais criadores e redistribuidores de informação.
Há pouco tempo sugeri a 3 jornalistas altamente credenciados e de reconhecida independência a criação de um jornal - necessariamente com uma forte componente digital i- cujo financiamento inicial assentaria por exemplo na contribuição de 1000 € por 1000 cidadãos preocupados com estas questões, números que penso serem atingíveis.
Infelizmente tal sugestão não teve êxito - mas repito-a aqui de novo.
E, de modo complementar, aventaria que quem o possa fazer financie directamente este ou aquele meio de informação pública que considere estar a ser orientado de modo independente e que dê sempre lugar a o exercício do contraditório - procedimento a que credenciados jornais têm apelado com êxito; entre eles, o Guardian, o New York Times, e o Washington Post
Porém não tenhamos dúvidas: será muito difícil lutar na situação actual contra a falta de credibilidade, nomeadamente em redes de informação, a não ser que o poder político democrático tenha a coragem de actuar nesta área procurando o - difícil - equilíbrio entre a liberdade de informação e a intervenção contra manipulações e fomento de ódio.
2.Dezembro.2018
(P.script.: Nem de propósito: o Prof.João Freire debruça-se sobre as "redes sociais" e as "notícias manipuladas", como se pode constatar a partir daqui...)
( https://aideia.blog/2018/11/30/agora-fake-news-propaganda-e-demagogia/ )
(P.script.: Nem de propósito: o Prof.João Freire debruça-se sobre as "redes sociais" e as "notícias manipuladas", como se pode constatar a partir daqui...)
( https://aideia.blog/2018/11/30/agora-fake-news-propaganda-e-demagogia/ )