"Ponto de vista" - Não precisará a União Europeia de uma política de Defesa comum ?


        Não precisará a União Europeia de uma política de Defesa comum ?

Será por certo mais do que uma coincidência o facto de a Federação Russa (FR) ter há dias anunciado a colocação ao serviço de um novo míssil de cruzeiro (9M729) e quase de imediato ter ocorrido a declaração dos Estados Unidos da América sobre a concretização da possibilidade de denúncia do Tratado bilateral relativo as forças nucleares de alcance intermédio - também conhecido pelas iniciais INF - que estava em vigor desde 1987, e que não permitia o uso de mísseis com alcances entre 500 e 5500 quilómetros - ou seja, englobando o território europeu, possibilidade que tinha sido aventada em Outubro de 2018.

A Federação Russa tinha esclarecido logo a seguir ao anúncio que o citado míssil teria um alcance inferior - curiosamente - em apenas 20 quilómetros aos 500 previstos no citado Tratado, mas parecia evidente que seria bastante fácil aumentar rapidamente as suas capacidades em termos de alcance.

O facto é que a mudança global - pelo menos aparentemente - da política dos EUA no que respeita a assuntos de defesa militar, e apesar das promessas de D.Trump (também conhecido como D."Trwitter"...) de juras eternas face à NATO, coloca a Europa e em particular a União Europeia numa posição de fraqueza face à superioridade militar dos EUA e da FR, pois está sempre dependente de uma Organização sobre a qual não se sentem garantias sólidas por parte da errática personalidade que preside ao mais poderoso membro daquela Aliança.

É certo que de momento e a curto prazo não se desenham hipóteses de ataques militares contra países europeus, mas há sempre que recordar que pode haver mudanças de dirigentes e obviamente das suas políticas, sendo conveniente recordarmos que o "escudo anti-mísseis" (cuja criação esteve aliás na origem da alteração de muitas políticas da FR face à UE e aos EUA) foi oficialmente concebido para responder a eventuais ataques do Irão - que entretanto mudou a sua postura.

Por outro lado, tendo a UE passado a desempenhar um ainda mais apagado papel secundário no plano militar internacional, e desenhando-se uma diminuição do seu poder político qualquer que venha a ser o resultado das negociações sobre a Brexit, a sua influência ficará muito afectada a nível mundial.

E, dado que tal perspectiva de aceitação de um papel de menoridade num quadro comparativo com nomeadamente os EUA, a Federação Russa, a China e - futuramente - a Índia não favorece os interesses da União Europeia, esta deve procurar obter uma capacidade militar autónoma, a qual procuraria uma via de elevada colaboração do Reino Unido, qualquer que seja o resultado do processo da potencial Brexit.

3.Fevereiro.2019
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Comentário do Almirante João Nobre de Carvalho:

"Não vejo possibilidade de a UE alcançar uma política de defesa comum credível, porque não consegue ter uma política externa comum e também por existir uma percepção diferente das ameaças. Nesta última vertente, note-se, por exemplo que os Estados bálticos temem a ameaça da Federação Russa (FR), a Alemanha não parece encarar a (FR) como uma ameaça, quando privelegia a importação de gás originado nesse espaço, nomeadamente através de um pipe-line cuja Empresa gestora é liderada por um antigo responsável político alemão, Schröder. Parece que a Alemanha tem sido “soft” na aplicação de sanções económicas à FR. Também foi recentemente noticiado que o projecto de encaminhar por pipe-line gás recebido liquefeito no porto de Sines, vindo dos EUA, terá deixado de ser prioritário na UE, afectando os interesses portugueses. A saída da Inglaterra, potência militar nuclear,  da UE, também irá afectar negativamente a defesa da UE, suponho. A França, que lidera a intervenção militar no centro de África, também tem uma percepção diferente e interesses diferentes da Alemanha relativamente a este continente. Os Estados do Sul da Europa também têm uma percepção da ameaça vinda do Norte de África algo diferente da Alemanha. Acresce ainda que uns Estados da UE pertencem à NATO e outros não. Francamente, neste quadro,  não estou a ver como a UE, com as suas fissuras poderá alcançar uma política de defesa comum credível. Parece-me que Portugal não devia prescindir da existência de Forças Armadas Nacionais inter-operáveis com as dos outros Estados da NATO.

10.Fevereiro.2019"

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Observação do Autor do texto comentado:

- Trata-se de um comentário oportuno e bem alicerçado, que foca a impossibilidade actual de se concretizar o que é porém apontado como desejável num futuro o mais breve possível.

11,Fevereiro.2019
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