"Ponto de vista": Ergue-te, Europa !


    Ergue-te, Europa !

Esquece o incidente de percurso que ocorreu na Grã-Bretanha, em que a maioria da população inglesa, manipulada por campanhas baseadas em falsos argumentos, optou por abandonar a União Europeia, num referendo em que parte apreciável da população preferiu abster-se levando a que tal decisão tivesse sido tomada por apenas um terço dos eleitores, e com uma escassa margem sobre os que contra tal votaram.

Nos meses que precederam o referendo - convocado aliás visando principalmente objectivos de natureza partidária relativamente à manutenção do poder político,  desfilaram perante a opinião pública afirmações totalmente descabidas, quando não ridículas, perante a inépcia e torpor da Comissão Europeia e de grande parte do próprio Parlamento Europeu, ao assistirem quase emudecidos ou articulando débeis argumentos em "Contactos com os cidadãos" convocados sem fervor.

Referendo terminado, tivemos que assistir a penosas manobras partidárias em que Boris Johnson demonstrou bem que o que lhe interessava essencialmente era a tomada do poder, sendo a ideia da Brexit apenas um instrumento para que tal pudesse ocorrer, e em que não hesitou em prometer o que não conseguiu cumprir - como sucedeu com a promessa de ir para a valeta caso não conseguisse a Brexit no passado dia 31 de Outubro.

Claro que agora - novas promessas feitas no sentido de dever estar tudo pronto para a saída no final de 2020 - irá apostar numa perspectiva inicial de sorrisos para com os "european friends" que tanto gosta de citar, para depois acusar a União Europeia de colocar entraves à elaboração dos acordos de execução que permitissem tal tipo de apressada saída.

Não quero entretanto deixar de voltar a referir, como já o fiz nestas páginas, que em referendos importantes para um país, dois terços dos eleitores seria a maioria válida de participação (e, nela, uma nova maioria de dois terços dos votantes) que muito provavelmente evitariam a ocorrência de situações como a que vimos, e que qualquer que seja o evoluir do processo ainda em curso dará a origem a feridas sociais que já se notam e por certo irão persistir.

Ergue-te pois, União Europeia, e aproveita o momento atual para te afirmares perante o mundo em todas as áreas em que tens apenas esboçado tímidas posições, sem teres que ouvir constantemente o "yes, but" com que têm sido martelados os nossos ouvidos.

Nós, sim, "will never be slaves"!

22.Dezembro.2019.

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Comentário de um leitor (Almirante João Nobre de Carvalho):

"Apesar de ter consciência das minhas limitações em matéria de economia  e finanças, eis as minhas reflexões:.
Primeiro, parece-me que estamos numa “Desunião Europeia”, com a saída do Reino Unido e o acentuar de conceitos de democracia musculada nos Estados do Leste, nomeadamente na Polónia, bem como importantes interesses estratégicos divergentes entre a França e a Alemanha. A Sul, Portugal parece-me estar com a economia cada vez mais estagnada e divergente relativamente ao progresso dos membros  a Norte e a Leste. A questão da imigração, nomeadamente a muçulmana, é vista de modo bastante diferente pela França e Alemanha e pelos Estados do Leste. Não vejo um plano credível da Europa para estabilizar os países africanos em termos de segurança e económicos para reduzir as tentativas de imigração anárquica para Norte. Vai haver uma Cimeira EU-África, aguardemos o resultado. Parece-me que a imigração tem de ser selectiva, escolhendo os imigrantes com capacidades para trabalharem entre nós, preferencialmente de língua portuguesa.
No jardim à beira-mar plantado continuamos a viver com dificuldade, espartilhados pelos juros, por enquanto mínimos, de uma dívida enorme, o Estado com um aparelho administrativo enorme, a começar pela dimensão do Governo, as Empresas e os cidadãos afogadas em impostos. Um esquema de grandes atrasos nos pagamentos entre os actores da economia, a começar pelo Estado, que provoca custos acrescidos.
A Presidente da Comissão Europeia parece estar a colocar a tónica da politica da UE no combate às alterações climáticas. Parece-me não haver vantagem em que a EU exagere neste campo, porque vai ser muito difícil convencer a Índia, a Indonésia, outros países do SE asiático a tomar medidas para abdicar das suas fontes energéticas baratas que lhes permitem desenvolver a economia. Mesmo que a UE recorra à imposição de taxas aos mais poluidores, afigura-se que vai ser complicado. Notei  que a Presidente da Comissão falou em apoiar a ligação da rede eléctrica de Portugal e Espanha à rede francesa e alemã além Pirinéus, o que me parece fazer sentido para nós, pois tem sido combatido pela França e outros.
Sobre a política externa da UE, a prática tem demonstrado grandes divergências na actuação na Síria e na Líbia, por exemplo.
Relativamente à Defesa, nem sei o que diga. Adriano Moreira diz que a UE devia começar por assentar num Conceito Estratégico. Agora com a saída do Reino Unido e os EUA a distanciarem-se, temos de ter cuidado com a posição portuguesa, para preservar a defesa dos nossos interesses. Parece-me que a importância estratégica dos Açores irá aumentar."

Eis alguns breves comentários a estas francas e na sua maioria certeiras observações:

"A Sul, Portugal parece-me estar com a economia cada vez mais estagnada e divergente relativamente ao progresso dos membros  a Norte e a Leste.":

    - Comentário: o Conselho Europeu deveria solicitar ao Banco Europeu de Investimento que criasse grandes linhas de crédito para os países que, apesar dos esforços da Comissão Europeia no que respeita a planos de desenvolvimento regionais  continuam ainda bastante atrasados em Estados-membros como Portugal.

"Não vejo um plano credível da Europa para estabilizar os países africanos em termos de segurança e económicos para reduzir as tentativas de imigração anárquica para Norte. Vai haver uma Cimeira EU-África - aguardemos o resultado'":

    - Comentário: há que distinguir os pedidos de asilo e os de imigração económica; os de asilo tēm uma tramitação que parece aceitável, excepto se entrarem no campo dos genocídios; e quanto aos segundos a União Europeia deveria lançar uma espécie de plano Marshall visando os países dos quais tais pedidos surjem; não esqueçamos o que foi feito relativamente à Turquia no que respeita a um enorme auxílio financeiro visando os imigrados sírios desviando-os assim dos caminhos para a Europa.

"Sobre a política externa da UE, a prática tem demonstrado grandes divergências na actuação na Síria e na Líbia, por exemplo.

Relativamente à Defesa, nem sei o que diga. Adriano Moreira diz que a UE devia começar por assentar num Conceito Estratégico. Agora com a saída do Reino Unido e os EUA a distanciarem-se, temos de ter cuidado com a posição portuguesa, para preservar a defesa dos nossos interesses. Parece-me que a importância estratégica dos Açores irá aumentar."
- Comentário: a saída do Reino Unido implica a necessidade de uma revisão dos actuais Tratados, que devem dar mais preponderância às políticas de defesa e segurança."

25.Dezembro.2019

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