"Ponto de vista": As "elites" em Portugal.


    As "elites" em Portugal - uma brevíssima reflexão.

Ao ler um dos muitos textos recordatórios escritos por militares portugueses que participaram na luta anti-guerrilhas entre 1961 e 1975 a minha atenção deteve-se sobre o seguinte trecho:

"Entretanto já tinha terminado o período de comissão quanto recebemos a notícia da eclosão do 25 de Abril. A notícia foi bem recebida  porque sabíamos que em breve  regressaríamos à Metrópole.".

Semelhante a tantos outros que têm sido publicados,  aquele texto voltou a provocar em mim uma interrogação que ocorria no meu espírito desde há muitos anos: qual a razão pela qual tantos historiadores e sociólogos nunca se detiveram numa análise profunda das razões pelas quais a "plebe" portuguesa aceitava desde o início do século XV participar em expedições militares em que a mobilização só podia assentar no recrutamento compulsivo ou na promessa de compensações materiais (admitindo-se ser muito reduzida a motivação baseada na propagação da fé cristã)?. "

A este propósito, e tendo enviado cópia destas reflexões ao distinto Professor Doutor João Freire (a titulo excepcional, pois não costumo solicitar opiniões ao que publico), o comentário recebido foi no sentido de tender a pensar "que a hipótese das elites conteria uma parte da verdade, mas que não aderia inteiramente à ideia do "subjugado", pendendo mais para o "mistificado", em que o processo pode encontrar uma ligação à influência religiosa profunda que durante séculos marcou estes povos, no caso, o cristianismo, depois contra-reformado pelo catolicismo."


Acentuou também "que, quer a aristocracia, quer o clero, eram ambas estruturas muito hierarquizadas cujos escalões mais baixos se situavam em grande proximidade do povoléu, e sobretudo do campesinato (e das povoações marítimas), assinalando que a pobreza ajudava muito ao recrutamento para serviçal, soldado ou marinheiro-aventureiro, "pelo que se inclinaria a pensar que a faísca de esperança em encontrar uma vida melhor (espécie de "salvação" terrena) que animou a nossa emigração moderna a partir para o Brasil ou para a América do Norte, mais tarde (um pouco) para África e sobretudo para a França, a Venezuela, etc. - também já acenderia o imaginário dos tais "portugueses de quinhentos, de barbas até ...", talvez não tanto a grumetagem e o camponês assoldadado, mas muito provavelmente os comerciantes habituados ao negócio, os escudeiros e baixos níveis das hierarquias estabelecidas, e muitos dos "filhos naturais" dos níveis mais elevados."

E terminava desafiando à  "troca de ideias, hipóteses de explicação, achegas para a compreensão, o que - à maneira de Weber" - lhe agradaria mais.

Tal como agradaria ao autor das presentes net-páginas, porém desprovido das fontes de informação indispensáveis para tal tarefa, e não dominando o conhecimento das também necessárias metodologias...

Abril de 2020.