"Ponto de vista" - Os retratos de A. Salazar, A.Tomás, e M.Caetano na sede da DGS/PIDE: um simbolismo pouco celebrado.


    Os retratos de A. Salazar, A.Tomás, e M.Caetano na sede da DGS/PIDE: um simbolismo pouco celebrado.

Uma distinta Historiadora (Luísa Tiago de Oliveira) tem vindo a sustentar desde há dezenas de anos - mais precisamente desde 26 de Abril de 1974 - que o episódio do assassinato de populares por elementos da DGS/PIDE  no final da tarde do dia 25 de Abril, seguido do cerco e ocupação na manhã seguinte da sede respectiva, tinham sido o equivalente da tomada da Bastilha.

Porém um episódio terá passado desapercebido no seu profundo simbolismo, tendo antes os meios de informação pública centrado a atenção sobre tal acto numa perspectiva mais susceptível de ser classificada como de desempenho algo teatral de relação entre vencidos e vencedores.

Refiro-me ao momento em que o responsável pela coordenação das Forças de Fuzileiros  que participaram na ocupação da citada sede perguntou ao Major Silva Pais, Director daquela polícia política, quando este logo lhe afirmou que a Direção-Geral de Segurança estava ao lado do movimento militar, porque é que então ainda estavam no seu gabinete, em lugar de relevo, os retratos do Dr.A. Salazar, Alm.A.Tomás, e Prof.M.Caetano, ao que o Major Silva Pais respondeu com um gesto de intenção de ir ele mesmo proceder à respectiva retirada, esboçando até um movimento no sentido do uso de uma cadeira para tal efeito.

Porém, quase ninguém destacou o simbolismo associado à retirada formal dos retratos que marcavam o poder político do sistema autoritário que estava a ser deposto, acção essa a ocorrer precisamente na sede da polícia política - um dos principais sustentáculos do regime.

Acto final de um processo de transferência formal de poder que tinha tido a primeira representação na véspera, no encontro do Gen.António de Spínola com o Prof.Marcelo Caetano.

Simbolismo também pelo facto de prenunciar - pelas circunstâncias que caracterizaram a demorada rendição da polícia política - a cisão entre os militares que preconizavam a continuação da existência da Direcção-Geral de Seguranca, e os que não admitiam tal perspectiva.
Acto único, e que com a imediata prisão preventiva dos agentes da DGS/PIDE determinou outro compasso político: no sentido da procura do exercício democrático da Liberdade.

25.Abril. 2020
...........................................

E hoje o Embaixador britânico tocou o tema Grândola Vila Morena !