Pandemia, comunicação, política.
O surto pandémico que se abateu sobre a população mundial tem sido caracterizado por uma enorme diferença relativamente aos anteriores, em particular quanto à pandemia ocorrida em 1918/19: actualmente há grande acesso à radiodifusão sonora e televisiva, bem como à Internet - nas suas vertentes de capacidade de obtenção de informação instalada bem como de comunicação "horizontal" com múltiplas pessoas - o que não ocorria em grande parte do século passado, então limitado ao uso do telefone, à audição da Radio e leitura da imprensa (e após 1950, à áudio-visualização da TV) porém com áreas de difusão diferentes conforme padrões económicos diferenciados.
Tais factores não deixaram de ter óbvias consequências na vida política, também variáveis - como é evidente - conforme os modelos respectivos nomeadamente em função do grau de autoritarismo e de liberdade de associação ou expressão.
Como uma vida política saudável tem dependido - e deve depender - do relacionamento presencial, o actual modelo de democracia representativa fica ferido pelo facto de o diálogo ter passado a ser exercido (enquanto possível) principalmente através de meios informáticos, favorecendo-se assim ainda mais a democracia representativa face à democracia participativa - esta sempre muito mais vibrante.
Acrescendo que, como é do conhecimento geral, a informação "estridente" não comprovada circula muito mais velozmente do que os desmentidos - mesmo irrefutáveis - o que inquina as bases informativas que levam à tomada de opções.
Assim, a crescente prevalência do poder da informação não-presencial, agravada pelas restrições de confinamento e pelo aumento obrigatório do distanciamento social, pode provocar a nível local um crescente afastamento dos eleitores relativamente aos eleitos.
As democracias saudáveis assentam no conhecimento directo dos representantes locais, não só através do conhecimento dos programas que se propõem realizar mas também da avaliação que os eleitores fazem relativamente ao modo como o executam, e como promovem e aceitam o diálogo - em pleno exercício de uma democracia participativa que depois se repercute a outros níveis de organização do poder político, melhorando assim a qualidade da representação política.
A inevitável redução do conhecimento de proximidade que a pandemia provoca não é susceptível de ser totalmente colmatada por meios não presenciais, pois não devemos deixar de ter em conta os efeitos do confinamento não só na percepção da realidade como também no trato entre pessoas - por pouco que seja - pelo que se torna assim necessário promover de forma sustentada a existência do contraditório na informação pública, pois de outro modo os detentores de poderosos meios de informação podem ficar à vontade para promover imagens de pessoas que não correspondem à realidade do que verdadeiramente são, e difundir afirmações sem sustentação.
Influenciando a seu bel-prazer as escolhas políticas dos eleitorados, que ficam assim à mercê de quem tenha mais recursos para tentar promover imagens exageradamente favoráveis de certos candidatos e difundir informações distorcidas de modo tal que seja extremamente difícil desmascará-las em tempo útil.
Não é fácil. Mas é imperativo.
Assim, a crescente prevalência do poder da informação não-presencial, agravada pelas restrições de confinamento e pelo aumento obrigatório do distanciamento social, pode provocar a nível local um crescente afastamento dos eleitores relativamente aos eleitos.
As democracias saudáveis assentam no conhecimento directo dos representantes locais, não só através do conhecimento dos programas que se propõem realizar mas também da avaliação que os eleitores fazem relativamente ao modo como o executam, e como promovem e aceitam o diálogo - em pleno exercício de uma democracia participativa que depois se repercute a outros níveis de organização do poder político, melhorando assim a qualidade da representação política.
A inevitável redução do conhecimento de proximidade que a pandemia provoca não é susceptível de ser totalmente colmatada por meios não presenciais, pois não devemos deixar de ter em conta os efeitos do confinamento não só na percepção da realidade como também no trato entre pessoas - por pouco que seja - pelo que se torna assim necessário promover de forma sustentada a existência do contraditório na informação pública, pois de outro modo os detentores de poderosos meios de informação podem ficar à vontade para promover imagens de pessoas que não correspondem à realidade do que verdadeiramente são, e difundir afirmações sem sustentação.
Influenciando a seu bel-prazer as escolhas políticas dos eleitorados, que ficam assim à mercê de quem tenha mais recursos para tentar promover imagens exageradamente favoráveis de certos candidatos e difundir informações distorcidas de modo tal que seja extremamente difícil desmascará-las em tempo útil.
Não é fácil. Mas é imperativo.
20.Julho.2020.