"Semimórias"- 1973 - Primeiros contactos com Oficiais descontentes.

   1973 - Primeiros contactos com Oficiais descontentes. (Semimórias).


O acaso viria a ter um papel determinante na minha vida, sendo porém pautado por opções que, embora não estivesse procurando de modo totalmente empenhado, não deixaria de tomar quando e se porventura se apresentassem - como viria a ocorrer nomeadamente em Dezembro de 1966 e em Novembro de 1973 (como mais tarde revelarei) - e em fins de Setembro de 1973, em que uma breve passagem pelo Clube Militar Naval proporcionou que me fosse apresentado pelo então Primeiro-Tenente Lima Bacelar o então Major Mariz Fernandes, que tinha sido convidado por aquele Oficial para um café.
Após uma longa troca de ideias sobre notícias de descontentamentos no Exército, o Major Mariz Fernandes perguntou-me se eu acederia a ir com ele nessa mesma noite a um encontro de Oficiais na Academia Militar, em que tais assuntos seriam abordados, convite que de pronto aceitei, tendo então conhecido o então Major Hugo dos Santos, com quem eu viria a contactar regularmente, trocando informações sobre o que era discutido em reuniões a propósito de questões profissionais.
Reuniões sobre as quais deixarei oportunamente adequado testemunho relativamente a diversas que viriam a ocorrer nos meios navais.

Poucos dias depois o Major Hugo dos Santos convidou-me a participar numa reunião em casa do Capitão Dinis de Almeida, e na qual estiveram diversos Oficiais do Exército que viriam a ter grande relevância na sublevação militar de Abril do ano seguinte (1974) - alguns até pelas reservas que manifestaram quanto à sua realização, quer na respectiva participação, quer na concretização.

Recordo-me de ter usado da palavra para acentuar alguns aspectos decorrentes do momento militar que se vivia, e das suas eventuais implicações, tendo ficado com a sensação de que tinha deixado perspectivas para reflexão.

Porém, uma das intervenções que mais me impressionou foi precisamente a do Capitão Dinis de Almeida, pela convicção que revelava, bem como o idealismo e generosidade que transmitia, sustentadas por um notório  conhecimento de teorias políticas (adivinhando-se uma certa tendência de simpatia para com a área do socialismo) num perfil que constituiu uma surpresa para alguém como eu que dois anos antes tinha conhecido na Guiné algumas dezenas de Capitães enquanto "hóspedes" da LDG "Montante", que então comandava, e que não tinha sentido da parte de muitos deles quaisquer preocupações com o futuro político de Portugal (salvo raras excepções, de que destaco o já falecido então Capitão Barbosa Henriques - que aliás viria mais tarde a expressar opiniões políticas bem diferentes das do Capitão Dinis de Almeida).

E qual a razão pela qual neste texto é tão destacado o então Capitão Dinis de Almeida ?

Faleceu ontem.

Mantendo o seu perfil de generosidade e de empenhamento na defesa dos seus ideais, dando ao longo da sua vida um exemplo de coerência e de dedicação ao seu próximo.

16.Maio.2021