Clotilde Moreira - uma Cidadã exemplar.

Homenagem a Clotilde Moreira - uma Cidadã exemplar.

Faleceu, inesperada e subitamente, Clotilde Moreira.

Em preito de saudade e de profunda admiração pelas suas elevadas qualidades, que me habituei a apreciar desde há cerca de doze anos, apenso um texto que publiquei em 2010, em que a parte final lhe é dedicada, e que mantém bastante da actualidade de que então se revestia.
(Um exemplo da sua constante acção, em Algés, pode ser visto a partir daqui).

     "Insatisfação popular, e participação politica.

Só através de uma maior e mais profunda participação dos cidadãos na vida política será possível encontrar melhores soluções para os graves problemas por que passamos e que se irão certamente agravar. E tal participação deve começar obviamente a nível local, dado o adensar da distância entre eleitores e eleitos.
É notória a insatisfação generalizada dos cidadãos com a situação do nosso país, e em particular com a actuação dos representantes políticos independentemente dos diversos quadrantes em que se situam. E sendo óbvio e natural que tal descontentamento incida mais sobre as forças políticas que constituem governo, nem por isso se pressente do que se ouve um nítido sentimento de que possa haver substanciais melhorias caso outras forças políticas assumam responsabilidades governativas.
As excepções a tais estados de espírito provêm mais, e como seria de esperar, dos militantes dos partidos políticos, uns porque pensam que os problemas do país estão a ser tratados do melhor modo possível, outros pelas razões contrárias, mas o que transparece cada vez mais da grande maioria das portuguesas e dos portugueses é um sentimento de frustração e de impotência perante a incapacidade de que os políticos em geral têm dado provas nomeadamente nas últimas duas dezenas de anos.
E o actual sistema político, em que se delegam poderes de quatro em quatro anos, sem grande margem para participação entre eleições, não parece poder corresponder à necessidade de mobilização que será necessária durante a próxima década, durante a qual o nosso país terá que reencontrar o seu lugar no Mundo.
Tais níveis de participação têm que ser começar por ser encontrados, como o tenho repetido múltiplas vezes, no reforço das competências dos órgãos eleitos das freguesias, não só ao nível das intervenções nas infraestruturas dos seus territórios mas também das respectivas atribuições de carácter político, visando uma maior interferência na vida política nacional.

E há cidadãos muito capazes e dedicados que poderiam dar um melhor contributo à vida política se sentissem que tal esforço tivesse frutos. Cidadãos empenhados já os há - e não resisto a citar o caso de Clotilde Moreira, que infatigavel e quase diariamente percorre a freguesia onde reside anotando situações que depois expõe à respectiva Junta nas reuniões públicas mensais, ou à própria Câmara, dando assim um exemplo de cidadania que certamente seria seguido por mais caso sentissem que os seus pontos de vista fossem susceptíveis de serem acolhidos por Juntas com maiores poderes de intervenção, e que os seus representantes nas Assembleias de Freguesia tivessem a capacidade de elegerem quer uma segunda Câmara de Representantes, quer uma parte do Parlamento.

Muito se fala agora em revisão da Constituição. Porém, sem nesta se melhorar o essencial, restará apenas mais um conjunto de disposições que entreterão os órgãos de soberania na respectiva interpretação, enquanto o povo se afasta cada vez mais dos seus dirigentes.

12.Setembro.2010 . "

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