Jornalismo: factos, fontes, e opiniões .
O Diário de Notícias (DN) publicou ante-ontem na sua eleição electrónica, cerca das 21:46, o seguinte texto, sob o título:
"Chefe da Armada pressiona governo com nova nomeação" ,
e com o seguinte sub-titulo:
"Depois de ter visto recusado o primeiro nome pelo Ministro da Defesa, Mendes Calado insiste e vai propor o contra-almirante Nobre de Sousa para o cargo de Comandante Naval, o mais importante posto operacional da Marinha".
Texto:
"O Chefe de Estado-Maior da Armada, almirante Mendes Calado, quer nomear o ex-vice-chefe de Estado-Maior do Comando Conjunto de Operações Militares (CCOM) do Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA), contra-almirante Nobre de Sousa, para o cargo de Comandante Naval, o mais importante posto operacional da Marinha.
A proposta de nomeação foi esta quinta-feira levada ao Conselho de Almirantado, que reúne os oficiais-generais de topo da Marinha e, apesar de ter sido alvo de alguma contestação, foi aprovada. No entanto, esta iniciativa não deixou de causar estranheza em alguns setores da Defesa e da própria Armada.
Nos primeiros, porque ainda em setembro passado, Mendes Calado tinha visto chumbado pelo Ministro João Gomes Cravinho outro nome que tinha proposto para o cargo, o seu chefe de gabinete, o contra-almirante Oliveira Silva. Por outro lado, fontes da Defesa ouvidas pelo DN não entendem esta iniciativa nesta altura.
Como foi já noticiado, o CEMA está informado que está a prazo no cargo e que será substituído pelo vice-almirante Gouveia e Melo, que só não assumiu o posto no topo da hierarquia no início do ano porque foi destacado para coordenar a task force da vacinação contra a covid-19.
"Esta insistência só pode ser entendida como uma tentativa de pressão sobre o governo, fazendo aproveitamento do conflito que ocorreu entre o Ministro Cravinho e o Presidente da República, quando foi anunciada há cerca de um mês a exoneração de Mendes Calado e travada por Marcelo", assinala fonte da Defesa.
Esta nomeação terá também de ter o aval de João Cravinho o que dificilmente acontecerá. A acontecer significaria que, caso venha a tomar posse, Gouveia Melo teria como comandante naval não só alguém que não escolheu, mas especificamente um oficial que, de acordo com fontes da Marinha, é um dos que se tem oposto à promoção do vice-almirante para CEMA.
O DN perguntou ao Gabinete de Mendes Calado porque propôs esta nomeação nesta altura, sabendo que está a prazo no cargo, mas não recebeu ainda resposta."
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COMENTÁRIO
Na Imprensa de referência é habitual (e desejável) que em notícias deste tipo se comece pela apresentação dos factos, indicando o tipo de fontes, só depois eventualmente perorando sobre o assunto, e então referindo de novo o tipo de fontes opinantes.
Eis assim, uma sugestão de texto, elaborada de acordo com estes princípios, e utilizando todos os elementos constantes da notícia transcrita inicialmente..
TÍTULO:
Chefe da Armada apresenta ao governo novo nome para Comandante Naval.
(Nota: eliminada a palavra "pressiona")
SUBTITULO:
Depois de ter visto recusado o primeiro nome pelo Ministro da Defesa Nacional, Mendes Calado vai, segundo fontes da Marinha, propor o contra-almirante Nobre de Sousa para o cargo de Comandante Naval, o mais importante posto operacional da Marinha.
TEXTO:
O Chefe do Estado-Maior da Armada, almirante Mendes Calado, irá propor o ex-vice-chefe do Estado-Maior do Comando Conjunto de Operações Militares (CCOM) do Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA), contra-almirante Nobre de Sousa, para o cargo de Comandante Naval, o mais importante posto operacional da Marinha.
A proposta de nomeação terá sido esta quinta-feira apresentada ao Conselho de Almirantado, que reúne os vice-Almirantes em serviço activo, tendo sido aprovada, se bem que o DN julga saber por fontes da Marinha, que no Conselho do Almirantado terá havido inicialmente algumas reservas quanto ao nome proposto, que actualmente exerce funções na dependência do CEMGFA.
Fontes do Ministério da Defesa Nacional recordaram entretanto ao DN que em Setembro passado Mendes Calado tinha visto rejeitado pelo Ministro João Gomes Cravinho o primeiro nome que tinha proposto para o cargo, o contra-almirante Oliveira Silva, seu chefe de gabinete, entendendo que uma nova iniciativa não deveria ter sido tomada neste momento.
O DN perguntou ao Gabinete de Mendes Calado porque propôs esta nomeação nesta altura, sabendo que está a prazo no cargo, mas não recebeu ainda resposta.
Recorde-se que, como foi já noticiado, o Presidente da República informou publicamente que o CEMA tinha concordado em cessar funções antes do final do mandato, de modo a permitir a sua substituição na sequência de eventual escolha de oficiais prestes a passarem à reserva devido a atingirem o limite de idade para prestação de serviço activo.
Entre estes oficiais conta-se o vice-almirante Gouveia e Melo, insistentemente referido pela Imprensa como sendo o sucessor do almirante Mendes Calado e que só não teria assumido o posto no topo da hierarquia no início do ano porque foi destacado para coordenar a task force da vacinação contra a covid-19.
As mesmas fontes do Ministério da Defesa Nacional interpretam esta iniciativa de Mendes Calado como uma tentativa de pressão sobre o governo, fazendo aproveitamento do conflito que teria ocorrido "entre o Ministro Cravinho e o Presidente da República, quando foi anunciada há cerca de um mês a exoneração de Mendes Calado e travada por Marcelo", e referem que esta nomeação terá também de ter o aval de João Cravinho, o que supõem que dificilmente acontecerá.
A acontecer, e ainda segundo as mesmas fontes, tal significaria que, caso venha a tomar posse, Gouveia Melo teria como Comandante Naval não só alguém que não escolheu, mas especificamente um oficial que, de acordo com fontes da Marinha, é um dos que se tem oposto à nomeação do vice-almirante para CEMA.
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OBSERVAÇÕES FINAIS
Factos prováveis:
- Reunião do Conselho do Almirantado.
- Aprovação de um nome para proposta para Comandante Naval.
Suposições do DN:
- o nome proposto terá suscitado inicialmente algumas objecções (fontes da Marinha).
Fontes do M.Defesa:
- não deveria haver nova proposta para Comandante Naval.
DN recorda:
- Alm.M. Calado antecipará o fim do mandato.
- V/Alm. G.e Melo possível sucessor.
Fontes do M.Defesa:
- Alm. M. Calado aproveitou o conflito entre o Presidente da República e o M. Defesa sobre a sua permanência no cargo para pressionar o M. Defesa, que dificilmente cederá na proposta nomeação.
Fontes da Marinha:
- O proposto Comandante Naval opõe-se a eventual nomeação do Alm.G.e Melo para Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA).
Em resumo:
- Dois factos prováveis.
- Meras suposições do DN.
- Ausência chocante de contraditório nas fontes.
Espera-se que o CEMA responda rapida e cabalmente às perguntas do DN, e esclareça se a razão da proposta não teria sido a necessidade de não se deixar vago o importante cargo de Comandante Naval, uma vez que não é conhecido o tempo em que continuará nas funções de Chefe do Estado-Maior da Armada.
Tendo como consequência:
Uma Marinha sem Comandante Naval...
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