1974. 25 de Abril. Comemorações e eventuais esquecimentos.
Não conheço em pormenor o programa de comemorações do cinquentenário da data de 25 de Abril de 1974 .
Procurei-o, sem sucesso, nas telepáginas da Associação "25 de Abril", em
mas presumo que no âmbito das comemorações de actos ocorridos em 1973 parece ser provável que venha a ser dado relevo (aliás justíssimo) à data de 9 de Setembro, em que mais de uma centena e meia de Capitães do Exército se reuniram discretamente em Alcáçovas, e que por consequência certos actos relevantes anteriores a tal data possam também vir a ser objecto de referência histórica - enquanto prenunciadores de uma mudança do regime político de então.
Seria o caso do requerimento oficial de três Aspirantes da Escola Naval que requereram - leal e formalmente - às competentes entidades autorização para participarem no Congresso da Oposição Democrática que ocorreria em Aveiro (e ocorreu) em Março de 1973, e que não só foi indeferido como também suscitou em determinados sectores da Marinha um movimento que visaria a sua expulsão da Escola Naval - o qual aliás não teve êxito.
A iniciativa da ida ao Congresso de Aveiro surgiu na sequência de diversas intervenções culturais e cívicas que, entre outras, promoveram a edição na Escola Naval, em 1972, de uma publicação policopiada, inspirada nas que então se produziam nas universidades, a que deram o título de "ABERTURA", e em cuja apresentação a definiram do seguinte modo:
: «Para já, um meio de informação, um local onde se abordam todos os problemas, onde se publica o que cada um e o grupo desejarem publicar. Agora o grupo é pequeno, mas esperamos que se alargue tanto que englobe toda a Escola, pois estamos convencidos de que todos desejamos o mesmo: a construção dum país onde nos sintamos em "casa", a abertura de pensamento, mostrar a todos que podemos ter uma acção decisiva na evolução da vida portuguesa.».
O primeiro número teve um tal impacto que não foi autorizada a publicação do segundo, apesar de estar pronto.
Os requerimentos individuais onde pediam autorização para irem ao Congresso de Aveiro, associados às iniciativas anteriores como a "ABERTURA", desencadearam assim - como já referido - um movimento informal da parte de alguns sectores da Marinha, que visava expulsá-los da Escola Naval, malgrado serem os melhores classificados dos respectivos cursos.
Tal iniciativa não se formalizou, nem teve consequências para os três Aspirantes, porque os Oficiais que então prestavam serviço na Escola Naval não a apoiaram, inviabilizando assim aquelas intençőes.
Tratou-se de um acto de invulgar coragem nos tempos de então, que merece ser recordado agora, principalmente se nos lembrarmos que as primeiras exposições assinadas em 1973 por oficiais (e aliás então sem objectivos políticos) ocorreram apenas em Julho, alguns meses depois.
Foram três os citados Aspirantes - os quais, apesar destes incidentes, viriam a terminar os seus cursos com elevadas classificações.
29.Agosto.2023
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30.Agosto.2023
Em tempo: leitor atento informou-me julgar ter havido outros três Aspirantes que optaram por irem a Aveiro sem se exporem à hierarquia.
Mas de tal menos arriscada opção pouco rezará a História.
Luís Costa Correia.
