...... 31. Julho.2025
Imigração: um notável desabafo de
Jorge Bettencourt, em
DO GRITO AO SONHO
No palco de um país que um dia se sonhou,
Chegam vozes de longe, eco de um grito seu.
Promessas de pão, de um futuro mais claro,
Mas o drama se revela, cruel e amargo.
No Alentejo que labuta, sob o sol a queimar,
Mão-de-obra que a terra insiste em chamar.
Qualificados na alma, com saber e pensar,
Em trabalhos sem rumo, a vida a definhar.
Nos contentores que abrigam, sem lei, sem pudor,
Dez almas num espaço, humilhação, dor.
Rendas que disparam, serviços a escassear,
Portugal, um "simulacro", a dignidade a roubar.
Redes de engano, com sorrisos de luz,
Retêm passaportes, amarrando à cruz.
Dívidas que sufocam, sem fim à vista,
Ameaças de denúncia, na sombra que insiste.
O medo das autoridades, uma prisão sem grade,
Onde a precariedade é mestre, e a liberdade se evade.
Exploração velada, em cada canto a espreitar,
Um trabalho sem contrato, que pode matar.
Discriminação, um olhar que fere e exclui,
Sobrecarga de horas, a saúde se esvai.
Frustrações e desânimo, no rosto se vê,
Um sonho que se perdeu, sem saber porquê.
Mas a solução não está no que já foi,
Nem no lamento, no que o tempo levou.
É erguer novas estruturas, num futuro a criar,
Onde terra, teto e trabalho sejam para se dar.
Que a economia não mate, mas sim faça viver,
E que a dignidade humana possa florescer.
Dar poder aos oprimidos, para ouvir a sua voz,
Porque o sonho comanda a vida, e nos faz caminhar.
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( https://sites.google.com/view/ao-largo/bem-vindo-a-bordo/do-grito-ao-sonho )