.....11.Set.2022
Um desafiador artigo publicado em "O Templário " pelo Coronel Adriano Lima:
A guerra na Ucrânia.
Não é por acaso que no título figura a expressão "guerra na Ucrânia" em vez de "guerra da Ucrânia", como alguns usam, o que para mim faz diferença e representa uma inadvertência ou pouca atenção ao rigor semântico das palavras. Porque essa segunda expressão - guerra da Ucrânia - subentende uma relação biunívoca na responsabilidade substantiva entre os contendores que está longe de traduzir a verdade. E é por esse pressuposto que alguns comentadores tendem a admitir que o fim das hostilidades - leia-se agressão militar- está em parte igual ao alcance dos dois beligerantes, desde que o queiram e sopesem os ganhos e as perdas, mediante uma ponderação racional das conveniências de um cessar-fogo em que ambos possam sair de cabeça levantada. É como ilusoriamente pensam alguns pseudopacifistas. Mas o próprio Papa, no seu veemente apelo à paz, sabe que há uma distância entre a retórica ambígua e os complexos meandros da realidade.
De facto, está hoje bem demonstrado que foi por cálculo bem gizado e amadurecido que a Rússia de Putin invadiu o estado soberano da Ucrânia, mandando às urtigas a lei internacional, para submeter o país aos seus desígnios de reconstituir o mítico "Russkiy Mir" (Mundo Russo) idealizado por Alexander Dugin. Teorização baseada no pensamento do filósofo fascista Ivan Ilyin, só podia ser recuperada e perfilhada por mentes engradeadas no tempo, deslocadas do curso da história. Porque a estirpe dos actuais inquilinos do Kremlin é tributária de um misto de czarismo e estalinismo, com tudo o que isso tem de perverso e regressão civilizacional.
Daí ser pouco provável que este conflito termine sem que a potência agressora entenda ter atingido os seus objectivos, que é esmagar e submeter os ucranianos. Só que desde o primeiro momento a Ucrânia demonstrou que não é uma falácia a sua proclamação de defender a pátria, rechaçar o invasor e lutar pela sua integração inequívoca na comunidade das democracias.
Frustrando a expectativa do invasor, o mundo livre foi unânime e interventivo na condenação do seu acto e não tem regateado o apoio político e em meios militares à Ucrânia, o que permitiu que mais de 6 meses depois o conflito chegue a uma situação que alguns consideram de impasse mas a todo o momento passível de evoluir para uma escalada.
E quando os pseudopacifistas falam em escalada, associando-a naturalmente ao uso de armamento nuclear, percebe-se que para eles a dissuasão nuclear só é entendível para o lado dos russos, nunca para o lado ocidental, e que perante a velada ameaça o mundo livre está inibida de apoiar o país invadido. Não lêem a história para aprender que foi assim que o nazismo de Hitler logrou os seus intentos e lançou o planeta numa guerra devastadora que haveria de abrir caminho para um novo capítulo da história. Parecem não querer reconhecer que apenas no estilo pessoal Putin difere de Hitler e que as linhas da sua estratégia são uma réplica da utilizada pelo líder nazi.
Depois, olha-se para a realidade social e política da Rússia e vê-se que ela é o espelho de um paradoxo. Que resulta da desmesurada extensão territorial do país e da sua incapacidade orgânica de promover uma correlação lógica entre a geografia humana e uma economia geradora de equilíbrio, harmonia e coesão do todo nacional. Ora, é pela consciência das suas limitações naturais que a Rússia se armou com um poderoso arsenal nuclear que lhe permite "ladrar" em jeito de ameaça porque de antemão sabe que não consegue "morder" em igualdade de circunstância com os que disputam o poder mundial. Isto é causa de um complexo de inferioridade para o qual não lobrigam outra cura senão uma injunção de irracionalidade. Esta predispõe alienação ao invés de ilumina consciência e estimular o sentido da realidade.
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