Textos e outros documentos: 2011.

Um Natal subjugado.
Poucos imaginariam há 25 anos que após a adesão às então Comunidades Europeias, e depois de ultrapassadas as dificuldades financeiras decorrentes das transformações políticas ocorridas em 1974 e anos seguintes, estaríamos agora na situação em que nos encontramos.
Se nos recordarmos que a adesão de Portugal à CEE teve que ser precedida pela transição para um pleno sistema democrático sem a tutela militar, e pela obtenção do equilíbrio orçamental através do concurso do Fundo Monetário Internacional, constataremos que o nosso país tinha todas as condições para conseguir o crescimento equilibrado que lhe era facultado pelos diversos fundos que lhe passaram a ser concedidos graças aos sucessivos quadros comunitários de apoio que - mesmo até ao presente momento - têm sido facultados.
Que falhou portanto ?
Alguns - poucos - apontaram erros importantes cujas consequências ainda se sentem e para as quais não se antevêem soluções em prazos razoáveis.
Tais erros - relativamente bem identificados - remontam pois ao momento em que Portugal iniciou uma nova vida na Europa, e parecem estar associados à fraca qualidade da maioria dos políticos que desde então nos têm dirigido.
O distanciamento de muitos partidos políticos relativamente aos cidadãos, provocado por um sistema que não permite um adequado refrescamento a partir do Poder local, está por certo na base do desencanto que é notoriamente sentido na sociedade portuguesa, descontente com a falta de visão de longo prazo dos seus dirigentes.
Esperar-se-á, pois, que os eleitores deixem de escolher como seus representantes os responsáveis pelos sucessivos erros cometidos, e contribuam para a eleição dos que se proponham aperfeiçoar o sistema
político no sentido de ser propiciada uma melhor ligação com os cidadãos e uma selecção dos que, eleitos, coloquem os interesses nacionais acima da mera conquista de lugares para a consequente obtenção de interesses altamente discutíveis sob a óptica do bem comum.
Poderemos então sonhar com um Portugal em que deixemos de estar curvados a ditames de credores, como é o presente caso.
O de um Natal subjugado.
24.Dezembro.2011
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Índia: onde começou o Império ...
… E onde ocorreu o princípio do fim do Império.
Foi há precisamente 50 anos, com a invasão pela então União Indiana das possessões portuguesas de Goa, Damão e Diu - aliás já prenunciada em 1954 pela ocupação dos enclaves de Dadrá e Nagar-Haveli, bem como pelo fim - no mesmo ano - da presença francesa em Pondichery (ano em que também ocorreu a simbólica derrota francesa em Dien-Bien-Phu), sem se dever esquecer que no mesmo ano teve lugar a conferência de Bogor - antecessora da de Bandung (1955).
O Presidente do Conselho de Ministros de Portugal não soube interpretar então os sinais dos tempos, que desde há muito apontavam para o termo dos impérios de raiz colonial na sequência do respectivo enfraquecimento após diversos séculos de lutas fratricidas na Europa que culminaram nas grandes guerras do séc.XX, e que já se tinham começado a traduzir com as independências no continente americano.
Por outro lado, o pensamento político filosófico que precursoramente começou a ter mais relevo nos EUA e na Europa, tendente a reconhecer os princípios da igualdade das pessoas bem como dos povos, impôs-se à cultura cristã levando-a a libertar-se de um pacto de colaboração com as autoridades dominantes, e a afirmar mais claramente o direito à liberdade, obrigando o poder político europeu, debilitado pelas dissensões que ocorriam, a ter que abandonar a dominação de outros povos, completando o ciclo iniciado na América do séc.XVIII.
António de Oliveira Salazar, excessivamente idolatrado por um povo que nele via quem tinha evitado a participação de Portugal na guerra mundial de 1939/45 mas que esquecia que caso a Espanha tivesse optado pela intervenção ao lado da Alemanha dificilmente Portugal poderia manter a sua neutralidade, não compreendeu que a recém-independente União Indiana não aceitaria por muito tempo a existência de enclaves estrangeiros no sub-continente, e confiou em excesso na hipótese de as potências europeias pressionarem a União Indiana no sentido de ser evitada uma ocupação para a qual Portugal já não tinha obviamente meios militares para a impedir.
Não compreendeu contudo o significado do fracasso da tentativa de criação, em 1952, de uma Comunidade Europeia de Defesa, fracasso que corroborava a continuação dos sinais de divisão política europeia e a consequente falta de capacidade de obtenção de um estatuto de grande potência prenunciador de uma União Europeia - que afinal viria a optar por uma metodologia de unificação "comercial" - com os resultados que estão à vista (e agora bem demonstrados quer pela teimosia alemã quer pelo egocentrismo britânico),
Ainda estaria a tempo de perceber os novos sinais da política de John F.Kennedy, que logo após a sua eleição em 1960 aprofundou um processo de satelitização europeia, passivamente aceite pelos Estados mais influentes, que preferiram o caminho da subserviência e do mero crescimento económico "sem custos para o utilizador" ...
Mas não.
Preferiu um caminho de arrogância, que levou a uma saida triste do "Estado da Índia" - embora com laivos de glória, de que o comportamento nomeadamente do Comandante Oliveira e Carmo, e de outros valorosos militares (de que se junta inédito testemunho) foi bem demonstrativo.
Preferiu a continuação da sua atitude arrogante, em vez de procurar soluções de transição no restante império colonial que dignificassem todos os intervenientes e que evitassem os custos humanos que viriam a envolver tantos cidadãos naqueles territórios, tanto civis como militares - estes, já amargurados pelo modo como tinha ocorrido a retirada da Índia.
Soluções que tivessem possibilitado circunstâncias em que todos tivessem beneficiado das vantagens de uma sã e leal cooperação.
Não esqueçamos, pois, a data que hoje passa: há 50 anos, em 18 de Dezembro de 1961.
Que ela ainda nos possa servir como exemplo para a necessidade de se procurar antever o tempo que inexoravelmente se nos desenha.
18.Dez.2011
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A Divisão Europeia.
Não, não se trata de nenhuma força militar destinada a combater fora do seu espaço territorial, mas sim o corpo algo informe em que a até aqui denominada União Europeia corre o risco de se tornar.
Numa "União Europeia" de 27 Estados-Membros - em breve 28, com a eventual confirmação da Croácia - coexistem diversos sub-conjuntos, cujo processo de inter-relacionamento gera obviamente zonas de indecisão e de difícil cooperação.
O mais evidente destes sub-conjuntos é o dos aderentes à OTAN, pois são apenas 21 (talvez passando a 22, com a Croácia), estando de fora por exemplo a Irlanda, a Suécia, e Malta, o que automaticamente implica que a UE não tem enquanto tal uma política de defesa, sendo assim por exemplo impossível que cada um dos seus Estados-Membros se "especializasse" em determinadas áreas da industria de defesa, resultando também como tendência o facto de cada país privilegiar a manutenção de forças militares autónomas.
Não esqueçamos que a defesa é uma das caracteríticas de base dos poderes soberanos.
Outro sub-conjunto é precisamente um que respeita à liberdade de circulação dos cidadãos. Trata-se do "Acordo de Shengen), ao qual apenas aderiram 25 Estados-Membros, dos quais diversos têm mantido ou criado excepções temporárias. E assim se evidencia mais um ponto determinante do conceito de Estado independente, ou de Federação: a segurança interna, e no qual a UE também não é uma união.
Quanto a política externa, a criação de um enorme serviço de representação diplomática comum não correspondeu a praticamente nenhuma política externa, tendo-se esta limitado a vagas declarações da sua responsável. E asssim se demonstra como é interpretada mais uma das vertentes essenciais de um poder soberano.
Finalmente, o folhetim do Euro acaba de completar mais um dos episódios da efémera vida do acordo conhecido como "Tratado de Lisboa", pois a recente reunião de Chefes de Estado e de Governo dos actuais 27 Estados-Membros demonstrou a inexistência da restante vertente definidora de um entidade política soberana a nível da UE: a prerrogativa de emitir moeda própria, e que quanto à sobrevivência do actual Euro deixa também muitas dúvidas sobre o seu futuro.
Tal reunião cimeira produziu mais uma proposta de novo Tratado Intergovernamental, de cuja adesão já se afastou a "pérfida Albion" (com o desacordo de N.Clegg...), e cuja aprovação já produziu uma complexa teia de declarações de intenção por parte de diversos Estados-Membros, desde os não aderentes ao Euro que a irão submeter às aprovações parlamentares respectivas, ao que dentro dos aderentes - a Irlanda - admite a hipótese de referendo dos cidadãos respectivos.
À miríade de Presidentes que proliferam dentro da União, desde Rompuy a Barroso e desde a Presidência rotativa à do Parlamento Europeu e à do Euro-grupo, virá juntar-se a de Presidência da nova instituição ora criada: a União Orçamental e Económica, que por certo coabitará com a Presidência do Governo da Alemanha...
Toda esta cacofonia não augura nada de bom, principalmente se a economia da UE continuar a fraquejar, esquecendo que a "Proposta despretenciosa" de Holland e Varoufakis poderia ser uma excelente solução para os problemas que existem na Zona Euro.
Os cidadãos europeus necessitam de se livrar quanto antes dos pequenos burocratas que dirigem os Estados-Membros da União Europeia, pois em vez de procurarem soluções conjuntas e duradouras preferem a contemplação das suas limitadas vitórias eleitorais.
Antes que seja tarde.
11.Dez.2011.
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A Cominação Europeia
Cominação Europeia: novo vocábulo, de "Comissão" e "Inação", para designar o torpor em que a Comissão Europeia parece ter vivido nos últimos anos, e nomeadamente após a entrada em vigor dos Tratados de Lisboa.
Não foi por acaso que há poucos dias Jacques Delors, personalidade que soube interpretar bem e de forma dinâmica o papel reservado à Comissão Europeia, e a quem sucederam apagados políticos, criticou o rumo que as principais Instituições da União Europeia têm vindo a seguir, nomeadamente no que respeita ao Euro.
Com efeito, a proliferação de "Presidentes" - da União Europeia (e nesta, de Van Rompuy e da Presidência rotativa) , da Comissão, e do Eurogrupo (e sem esquecermos o Parlamento Europeu) - aliada a um de facto exercício presidencial bicéfalo do Eurogrupo pela que nestas páginas já em Junho passado apelidei de "Alemança" (de Alemanha e França) de "Nicolangela Sarkozy", e que agora se propõe instaurar novas disposições de natureza constitucional, tem criado um vazio de efectivo poder que tem sido uma das razões que têm estado na base de tantas "não decisões" que têm ocorrido nos últimos meses.
Recordemos que um dos princípios basilares da construção da União Europeia, logo desde a criação da Comunidade Europeia, foi o de assegurar o princípio da igualdade dos Estados-Membros independentemente do seu peso demográfico, princípio de que a Comissão Europeia, apesar alguns ajustamentos entretanto feitos, era um símbolo e que era acrescido pelo facto de lhe estar reservada a iniciativa legislativa.
A Comissão Europeia desempenhou assim um papel decisivo no equilíbrio de poderes europeus, e continuou a poder exercê-lo mesmo após a criação do Parlamento Europeu, instituição cuja existência era necessária (se bem que não no seu método de eleição - assunto que abordarei oportunamente), pois a iniciativa legislativa continuou a pertencer-lhe, embora depois exercida em processos de co-decisão.
Porém, à medida que os Estados-Membros com maior peso económico procuraram passar a ter um papel mais relevante nos processos de decisão, nomeadamente após a reunificação alemã, constatou-se que nas designações dos Presidentes da Comissão Europeia que sucederam a J.Delors se procurava mais um perfil de executante do que de criador de novas ideias, ou de crítico de acções políticas desgarradas originadas pelos Estados-Membros de maior peso económico.
E nestas últimas entrou o Euro, cuja concepção a Comissão Europeia não criticou adequadamente, apesar de nela estarem economistas de alta competência. E que "esqueceu" que a Alemanha e a França foram os primeiros países a logo em 2003 não respeitar um dos critérios de sustentação do Euro: o "deficit" orçamental. E que não soube analisar correctamente os efeitos que a crise financeira nos EUA e a consequente procura de "refúgios" dos mercados financeiros no recurso à especulação sobre as dívidas soberanas viria a ter numa Europa dividida entre a zona Euro (e nesta, entre os estados periféricos do Sul e do Oeste, e os restantes), os Estados-Membros não aderentes mas com economias sólidas, e a generalidade dos da Europa do Leste.
E obviamente a inação que a caracterizou, nomeadamente no que repeita à sua capacidade de iniciativa e "dever" de procurar assegurar um equilíbrio entre Estados-Membros que não pusesse de parte os que têm menor população ou capacidade económica, tem contribuído para um resvalar da União que só não será maior porque os altos interesses económicos e financeiros em jogo se encarregarão de obter soluções que minorem o decréscimo do Produto Interno da União (para não se referirem outros factores decisivos nos processos de decisão a nível mundial como o são o poder militar - factor que tem sido "esquecido" desde a ideia criadora da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço: evitar a existência de guerras na Europa).
4.Dez.2011.
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O Parlamento Europeu e a crise.
Num momento em que a União Europeia atravessa uma crise grave, e em risco de passar a gravíssima, o Parlamento Europeu parece estar longe das preocupações dos cidadãos, dado que aparentemente pouca atenção tem dado ao que ocorre no que respeita aos problemas com que se debate a zona Euro.
A única vez que nas últimas semanas houve algum debate sobre as questões de fundo que impendem sobre a União foi aquando da apresentação do programa de trabalho da Comissão Europeia relativamente ao próximo ano, a propósito do qual "a maioria dos representantes dos grupos políticos salientou que o Parlamento e a Comissão têm de voltar à ribalta política e trabalhar em conjunto para ajudar a UE a sair da crise" - reconhecendo implicitamente que tal não está a suceder.
Poderia dizer-se que a zona Euro corresponde apenas a uma parte do universo representado no Parlamento, mas o facto é que parece evidente que os problemas que nela acontecem não deixarão de, caso se agravem, afectar profundamente o todo - e aliás já se reflectem em Estados-membros não aderentes ao Euro.
Entretanto Angela Merkel diz, com o punho cerrado (em atitude que faz lembrar tempos de triste memória), que os "Eurobonds" não são uma solução, e com o seu "assessor" Nicolas Sarkozy propõe um novo "Pacto de estabilidade" para assim rodear as disposições do Tratado de Lisboa e fazer instaurar como que um "Tratado de Cacilhas", pelo que podemos interrogarmo-nos sobre a passividade do Parlamento Europeu e colocarmos em dúvida se o actual sistema de eleição dos seus Deputados corresponde ao que seria desejável: uma verdadeira representação.
Esperemos contudo que os eventuais fracassos da União neste momento não venham a contribuir para que o nome de Lisboa fique associado a mais um inêxito como o sucedido com a "Estratégia de Lisboa" (que se propunha levar a União a ficar em dez anos, ora terminados, como a área mais competitiva tecnologicamente em todo o mundo), pois o ruir do Tratado de Lisboa seria mais um infeliz passo em tal direcção.
Acrescendo que a aparente passividade que a Comissão Europeia tem demonstrado nos últimos 3 anos (e que só há dias parece ter acordado de tão longo torpor) está associada obviamente ao seu Presidente, cuja carreira política foi precisamente construida em Lisboa ...
O facto é que tanto a Comissão como o pouco arrojado Presidente da União não têm contribuido quanto seria de esperar para o - aliás difícil - funcionamento das Instituições da União tal como desenhadas pelos Tratados.
E o Parlamento Europeu, eleito directamente pelos cidadãos, e a quem caberia assim a principal voz de representação dos eleitores, que faz ? Constate, a partir daqui ...
O problema da União Europeia é um problema de participação política. E esta faz-se a partir da base. E não é o caso.
27.Novembro.2011.
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Globalização financeira: uma Autoridade Monetária Internacional.

A crise que se desencadeou nos EUA há cerca de 4 anos surpreendeu muita gente, incluindo a maioria dos economistas, que não souberam antecipar o que viria a ocorrer, apesar dos sinais que apontavam em tal direcção e que já eram dados por empresas e bancos como a Enron e a Worldcom, o Bear Sterns e o Lehman, economistas esses que porém souberam explicar bem o que de mal tinha ocorrido.
Para o agravamento da situação financeira internacional que então ocorreu terá em muito contribuído o aumento da velocidade das transacções financeiras que o desenvolvimento da Internet permitiu, levando a um enorme aumento virtual dos créditos financeiros sem sustentação na economia real.

Não foram previstos também (nem pela Comissão Europeia…) os efeitos de propagação às economias europeias mais frágeis, sendo corrente ouvir-se em 2007 e 2008 que a Europa estava imune à crise americana,

Os reflexos desta situação no sistema financeiro e económico mundial não parecem estar em vias de solução, como por exemplo o denotam os débeis esforços de recapitalização notoriamente insuficientes para a reanimação dos
empréstimos inter-bancários, bem como a timidez dos programas de ajuda aos países periféricos da zona Euro.

Por outro lado, a reunião do G-20 em que muitos depositavam esperanças limitou-se a apresentar um mero enunciado de vagas intenções, que prenunciam a sua transformação numa espécie de Grupo de Bilderberg: como dizia a canção, “parole, parole” …

E contudo Lagarde
colocou há pouco em evidênciaHYPERLINK "javascript:void(0);/*1321792246864*/" os erros decorrentes da incapacidade de identificar a acumulação de vulnerabilidades no período anterior à crise, caracterizando-os como um “facto humilhante que deve ser encarado".
Assim, como resolver o impasse em que o mundo caiu, e que em vez de sinais positivos apenas mostra tendências regressivas - e depressivas ?

Tudo aponta para a necessidade urgente da instituição de uma Autoridade Monetária Internacional com poderes de regulação dos sistemas de grandes fluxos financeiros, e com as capacidades de intervenção que o seu Fundo operacional – o FMI – detem e que deveriam ser aumentadas, a par da obrigação do uso os Direitos de Saque Especiais, reajustados de acordo com o novo “peso” relativo das divisas de maior preponderância internacional, nas transacções comerciais internacionais .
Num mundo cada vez mais interdependente, mas ainda longe de generalizadamente poder admitir formas de governação supra-estatais, a criação de Instituições como a Organização Mundial de Comércio, e como a proposta Autoridade Monetária Internacional, parece ser a solução que no imediato possa ajudar a resolver os múltiplos problemas que se nos colocam, desde a demografia à alimentação, ao uso da água e das fontes de energia – e obviamente quanto à regulação do crescimento.
20.Novembro.2011.
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A reforma da Administração Local
Como já mencionei nestas páginas em intervenção anterior, foi apresentado pelo Governo um importante conjunto de documentos incidindo sobre as acções a tomar no âmbito da reorganização do Poder Local constantes do Memorando de Entendimento estabelecido entre o Governo Português, a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional, no âmbito do qual foi assumido o compromisso político da reorganização da Administração Local até Junho de 2012, acções que são particularmente relevantes no que respeita à problemática das freguesias, pois tem sido esquecido que aí reside grande parte de uma saudável e imperiosa reorganização do poder político democrático.
Assim, e embora os documentos governamentais, nomeadamente o "Documento verde sobre a reforma da Administração local", contenham diversas propostas quanto ao poder municipal (este de mais difícil reformulação), entendo contudo que se devem concentrar as atenções mais no reforço das atribuições e competências dos órgãos das freguesias, obviamente acompanhado pela outorga dos recursos necessários para tal efeito, reforço que não deve exceder - mas sim e preferencialmente reduzir - os encargos financeiros globalmente envolvidos.
Tais reforços de meios, e dos necessários redimensionamentos das Freguesias, serão desejáveis desde que se tenha em consideração que em muitos casos os órgãos das Freguesias do despovoado interior são praticamente o único ponto de contacto da população com a Administração pública, e que a Freguesia ideal, em que os conceitos de vizinhança e conhecimento mútuo podem ter algum significado, não deveria ter mais de 4000 habitantes.
Tal princípio levaria a que passasse a haver cerca de 2500 freguesias - redução consentânea com os objectivos do Memorando de Entendimento - havendo pois que proceder a agregações nas que actualmente tivessem entre 500 e 3000 pessoas residentes, e reflectir sobre quais as que pela sua interioridade ou insularidade deveriam continuar a existir; bem como sobre um aspecto a que o "Documento verde" não se refere: como abordar o problema das grandes freguesias em que a população excede largamente as 4 ou 5000 pessoas.
Neste caso, e porque em grandes freguesias urbanas não parece fácil proceder-se à sua divisão em freguesias menores, o necessário aumento das atribuições, competências e recursos - à custa da transferência respectiva a partir dos Municípios, à luz dos princípios saudavelmente expostos no "Documento verde" - transformaria tais Freguesias numa espécie de mini-concelhos, como tem sido aventado para o caso de Lisboa.
Porém e para que tal fosse eficaz, à luz do salutar propósito (claramente referido no "Documento verde") de se procurar manter a Freguesia como espaço reconhecível pela comunidade de cidadãos, seria necessária a criação simultânea de pequenas delegações dos órgãos autárquicos das Freguesias, que permitissem uma auscultação permanente da população correspondente - não superior ao número aventado de 4000 residentes - sem o que os cidadãos continuariam a sentir-se "longe" dos seus representantes, e assim mais “afastados” da participação política.
Cabe entretanto dizer que alguns pontos dos documentos apresentados pelo Governo suscitam mais alguns comentários, que se expressam no espírito da discussão pública neles desejada.
Assim, não parece muito claro se os municípios e freguesias das Regiões Autónomas estão abrangidos pelos princípios orientadores dos documentos acima citados, pois se tal não for legalmente susceptível de aplicação não há dúvida que haverá que corrigir tal situação.
Por outro lado a revisão da Lei das Finanças Locais não deveria ser feita fora do âmbito da reforma da Administração Local - como ocorrerá se não for adequadamente modificado o estipulado no "Documento verde" - pois tal é indissociável dos conceitos a aplicar quanto às atribuições, competências e recursos que serão objecto de redimensionamento e de articulação, os quais devem visar o reforço do poder de proximidade das novas Freguesias (de acordo com o desejado no "Documento verde"), e que não podem deixar de incluir a redefinição das atribuições e competências entre os Municípios e as Freguesias, também expressa no mesmo Documento (bem como o princípio de não dever haver transferências dos Municípios para as Freguesias que impliquem aumentos de despesas nem de funcionários).
Cabe aos cidadãos exercerem o seu direito de opinião em matéria tão importante para a “democracia real”, pois em caso contrário a “democracia formal” poderá não ser capaz de resistir aos tempos de crise que se vivem e que provavelmente se agravarão.
13.Novembro.2011
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Grécia, militares, maus prenúncios.
Não tem sido muito comentado o episódio da recente demissão de toda a cúpula militar da Grécia, que surpreendeu a generalidade dos observadores da política daquele país.
Porém é óbvio que indicia sinais preocupantes quanto à instabilidade dos militares gregos, e à possibilidade de ter estado em preparação um golpe de Estado, pois os chefes militares agora demitidos tinham sido inesperadamente nomeados pelo Governo de centro-direita pouco antes das eleições de Outubro de 2009, as quais levaram ao poder o actual Governo de centro-esquerda.
O facto de após a derrocada - em 1974 - do regime militar que vigorava na Grécia, o qual era conhecido como o "regime dos coroneis", as chefias militares terem passado a ser designadas por critérios em que eventuais simpatias políticas eram factor de ponderação não podia deixar de voltar a prenunciar sinais de instabilidade caso a situação poítica e social se viesse a deteriorar, como agora ocorre.
A adesão da Grécia à CEE, em 1981, reforçou as condições para que deixasse de haver possibilidades de novos golpes militares, pois permitiu um período de assinalável crescimento económico, mas que porém assentou em bases pouco sólidas como a situção actual plenamente demonstra.
Assim, se a situação financeira e económica naquele país se continuar a degradar não é de excluir a hipótese de um novo golpe militar, nomeadamente se a Grécia sair da zona Euro e eventualmente da própria União Europeia, situação que contribuiria para o fim da própria União como já é geralmente admitido.
A União tem por consequência a "obrigação" de ajudar aquele Estado-Membro a superar as suas dificuldades, porém acautelando disposições que evitem o "fartar vilanagem" que caracterizou a permanência dos gregos na União.
Por seu turno Portugal deve estar especialmente atento, tanto no plano externo como no interno, e tomar posições que ajudem a União a manter a sua coesão - o que será do interesse global.
06.Novembro.2011
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Inquietação e Constituição
Aumentam os sinais de inquietação na sociedade portuguesa.
A população interroga-se sobre as razões do já sentido decréscimo do nível de vida, e da degradação anunciada para os próximos anos, sentindo-se a falta de explicações isentas e claras tanto quanto ao passado como relativamente a opções para o futuro.
Uma sondagem feita há apenas um ano, por empresa credível e a que me referi nestas net-páginas no início de 2011, referia que o cenário económico e social seria já considerado por quase metade da população pior, quando comparado com a vida há 40 anos - ou seja, antes de 1974. E não parece que desde há um ano tenha havido sentimento de melhorias.
O Presidente da República interroga-se sobre a justiça e equidade relativas das disposições propostas em termos orçamentais.
Os partidos políticos da maioria parlamentar são confrontados com as promessas feitas em campanha eleitoral, e o maior partido da oposição tem reduzida margem de manobra dado o Memorando de entendimento firmado com a Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional (a apelidada "Troika").
Subsídios vitalícios a políticos e diversos exemplos de gastos injustificados, bem como revelações de outros escândalos e de deficiências na Justiça, contribuem para aumentar o fosso entre dirigentes e cidadãos,
António Barreto, há cerca de um mês: "A Constituição salvou a democracia mas "perdeu prazo de validade".
O Presidente do Supremo Tribunal de Justiça - STJ - quiçá aproveitando a onda de redução de organismos públicos, advoga a supressão do Tribunal Constitucional, acompanhada pela criação de uma Secção adequada no STJ.
E o reputado constitucionalista Prof. Gomes Canotilho refere, aquando da sua recente jubilação, que várias formalidades constitucionais têm sido ultrapassadas face à emergência em torno das contas públicas, seguindo a máxima antiga "a necessidade pública é a ultima lei".
Todos estes dados têm como origem profunda a existência de um sistema que, longe de aproximar os eleitos e os eleitores, transformou aqueles numa casta que apenas reage ao que de mais determinante vem à superfície nos meios de informação pública.
Assim, talvez a anunciada revisão dos recursos da Administração Local, orientada no sentido de uma maior descentralização e maior participação dos cidadãos na vida colectiva, possa contribuir para uma salutar descompressão do sentimento colectivo e para possibilitar uma maior ligação entre os partidos políticos e os eleitores.
Pena é que tal tenha sido - aparentemente - por imposição da famosa "Troika", e não por inciativa dos portugueses.
Que têm que reflectir seriamente sobre a Constituição, e mesmo sobre os limites materiais que actualmente são impostos às revisões da Lei fundamental.
30.Outubro.2011 .
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A opacidade das contas públicas.
Ao reler há poucos dias o famoso PEC 4 (Programa de Estabilidade e Crescimento para 2011/2014), elaborado em Março do corrente ano, constatei o que pareceu ser - ao leigo que nesta matéria sou - a aparentemente grande semelhança entre as respectivas análises, bem como consequentes disposições, e muitas das que têm vindo a ser consideradas pelo actual Governo, nomeadamente no que respeita à proposta de orçamento para 2012.
A ausência de dados sobre os encargos do BPN e o desconhecimento que em Março existia quanto às anomalias financeiras na R.A.Madeira terão sido situações "corrigidas" ainda no exercício orçamental do corrente ano através do recurso a receitas extraordinárias, pelo que não se compreendem bem as disparidades tão flagrantes entre as cargas fiscais propostas para 2012 por cada uma das duas alternativas.
Aliás também não se compreende facilmente a reacção do Partido Social-Democrata relativa ao PEC 4, assente no facto de nele ser proposto um aumento da carga fiscal, pois tal metodologia viria a ser retomada, e com redobrado (ou quadruplicado...) vigor, na proposta de orçamento para 2012.
Parece também deduzir-se do PEC 4 que a estratégia a ele subjacente assentava no princípio de que caso aprovado pela Comissão Europeia (a quem era apresentado), esta apoiaria o inevitável pedido de Portugal às instâncias apropriadas da União para que lhe fosse concedido um vultoso empréstimo para o saneamento das contas públicas, e cuja execução seria acompanhada pela própria Comissão - sem recurso ao Fundo Monetário Internacional.- procedimento que iria igualmente permitir que Portugal visse melhorada a sua capacidade creditícia no âmbito internacional.
O mistério que ainda envolve os episódios relacionados com o PEC 4, nos quais avulta também o facto de ter havido especulação sobre a possibiliade de ter sido elaborado sem o conhecimento da oposição parlamentar e do próprio Presidente da República, está por resolver. E a recente discordância pública do Prof.Dr.Aníbal Cavaco Silva sobre os critérios fiscais apresentados na proposta orçamental para 2012 mais não fazem do que adensar tais mistérios.
Um coisa é certa: a opacidade de que se revestem as contas públicas para o cidadão comum não ajuda à democracia, pois a respectiva administração tem que ser límpida, tal como um orçamento familiar o tem que ser para ter hipóteses de sucesso.
Esperemos pois que o famoso Conselho das Finanças Públicas cuja criação está prevista na proposta de Orçamento para 2012 (aliás como o estava igualmente no famoso PEC 4) consiga produzir um documento mensal que em linguagem e quadros acessíveis nos dê conta da real situação financeira do País.
23.Out.2012
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Ética e campanhas eleitorais
Circula na Internet uma recente composição de excertos de intervenções televisivas do actual Primeiro-Ministro, recordando diversas tomadas de posição sobre perspectivas políticas e propósitos de actuação, opiniões que mostravam notórias diferenças nomeadamente entre as proferidas durante a recente campanha eleitoral e as ocorridas já durante o exercício governativo.
Admito que existam análogos documentos a propósito de outros responsáveis políticos, quer mais recentes, quer relativamente a mandatos anteriores, pois tem sido prática constante o recurso a promessas em campanha eleitoral que sistematicamente não serão cumpridas.
Um exemplo paradigmático, e bem recente, é o relativo á política fiscal, como ressalta da citada composição de intervenções, cujos termos aliás não se afastam muito dos enunciados pelo principal dirigente do outro partido da coligação governamental.
As consequências de tais mudanças contribuem para afundar ainda mais o já escasso crédito que o sistema político demonstra perante os cidadãos, pois se em vez de ser prometido que não se aumentariam impostos o discurso fosse condicionado ao conhecimento exacto das condições financeiras e à evolução da conjuntura mundial, os eleitores não deixariam de ficar conscientes de quais as linhas orientadoras das intenções políticas em matéria tão sensível como esta, o que lhes permitiria então formular perguntas sobre a real situação financeira do país, para as quais não haveria desculpa quanto a ausências de claras respostas quer por parte do Governo em funções, quer de entidades credíveis na matéria.
Em verdade, quem poderá acreditar agora na validade de novas promessas de intenções ? E que espaço para a Ética na Política ?
16.Out.2011
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Diálogos sobre a crise.
Há dias assisti a um curioso diálogo entre dois amigos meus, e que incidia - claro - sobre a crise que atravessamos. Ambos eram pouco versados em matérias de raiz financeira, se bem que um deles tivesse experiência enquanto administrador de uma pequena empresa, mas tal não impediu uma interessante e pragmática troca de ideias cujos pontos mais relevantes tentarei reproduzir.
A noção considerada mais relevante foi a de que o desenvolvimento das comunicações electrónicas, nomeadamente após a expansão da Internet ocorrida em meados da década de 90, permitiu a criação exponencial de riqueza financeira sem qualquer relação com o aumento mais vagaroso da riqueza efectiva, "produtos financeiros" esses sustentados apenas sobre como que um baralho de cartas pronto a caír ao primeiro abanão.
Porém tais produtos financeiros podiam ser transformados em bens reais, quer de natureza física, quer sob a forma de transferências de rendas e remunerações, como será o caso dos fundos de pensões, e serem convertidos em outros títulos de rendimento, mas obviamente beneficiando na sua grande maioria as entidades pessoais e colectivas que à partida dispunham de maior capacidade de investimento, assim criando como que um infernal círculo em que os lucros se acumulavam cada vez mais nas mãos de dessas entidades, uma minoria face ao resto do mundo.
As instituições bancárias, que anteriormente procuravam aplicar os depósitos em actividades criadores de riqueza real, emprestando capital numa perspectiva de retorno dentro de alguns anos, no máximo duas ou três dezenas, envolveram-se assim e desde há apenas década e meia num jogo especulativo que mais tarde ou mais cedo iria ruir, e que começou obviamente na maior economia do mundo com os episódios Enron, Bear Sterns e Lehman Brothers, em que nos útimos casos a bolha hipotecária foi o detonador de uma crise que dura e durará enquanto não houver um ajustamento e saneamento financeiro radical à escala do globo.
A gigantesca corrida para frente a que temos assistido, e que levou a que tivessem que ser emprestados pelas autoridades centrais de emissão de moeda créditos a bancos para recomeçarem ou continuarem a sua actividade, provocou desre modo a situação de tais empréstimos não serem mais do que o produto antecipado do esforço colectivo dos próximos anos do trabalho de centenas de milhões de pessoas, sem que tivessem sido adoptadas disposições que evitassem que os bancos entretanto "recuperados" voltassem a entrar no caminho que tinham vindo a seguir, e obviamente centrando as suas atenções agora nos Estados mais endividados, a fim de especulando com os servços de dívida obterem o mesmo nível de rendimentos especulativos que anteriormente conseguiam.
Num sistema em roda livre, e sem qualquer regulação a nível mundial, sucederá assim o inevitável: à custa de uma minoria possidente diversas econmias cairão em cascata, acabando por de forma paradoxal - ou seja, a de um jogo em que todos deveriam ganhar, precisamente todos perderão...
O que acontece agora na Zona Euro - exemplo perfeito do que foi dito - propagar-se-á a todo o mundo caso não sejam adoptadas adequadas regras financeiras a nível mundial.
E não parece que o famoso G-20, que se reunirá em Novembro, seja capaz de em tempo útil conseguir a aprovação e institucionalização (na ONU ?) de tais regras e das necessárias novas instituições para as fazer cumprir ...
Assim terminou a conversa a que assisti. E eu acrescentaria que a opção é entre um mundo globlalizado, em que todos lucram, ou o regresso ao proteccionismo e ao empobrecimento.
9.Outubro.2011
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A reforma da Administração Local
Acaba de ser apresentado pelo Governo um importante conjunto de documentos incidindo sobre as acções a tomar no âmbito da reorganização do Poder Local constantes do Memorando de Entendimento estabelecido entre o Governo Português, a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional, no âmbito do qual foi assumido o compromisso político da reorganização da Administração Local até Junho de 2012, acções que são particularmente relevantes no que respeita à problemática das freguesias, assunto a que tenho vindo a dedicar atenção desde há alguns anos, pois considero que aí reside grande parte de uma saudável e imperiosa reorganização do poder político democrático..
É pena que tais acções pareçam vir na sequência de "conselhos" de entidades estrangeiras, e que não sejam o fruto de uma saudável "revolta" do povo contra um modelo que, sendo de raiz democrática, reserva para os partidos políticos grande parte do poder; e que tal só tenha sido até agora possível em situações em que um poder central forte - como tem ocorrido diversas vezes na nossa História - consegue impor, se bem que de modo algo paradoxal, uma redristribuição do seu próprio poder para autarquias locais.
Assim, e embora os documentos governamentais, nomeadamente o "Documento verde sobre a reforma da Administração local", contenham diversas propostas quanto ao poder municipal (de mais difícil reformulação (ou não são as "concelhias" o cerne da organização dospartidos políticos?), a minha perspectiva assenta contudo mais no reforço das atribuições e competências dos orgãos das freguesias, e no seu redimensionamento, conjugado com uma (por enquanto inconstitucional) modificação dos respectivos poderes políticos de intervenção a nível nacional através de fórmulas de representação indirecta, traduzidos por exemplo na eleição de um Senado, tal como tenho vindo a defender em alguns jornais (nomeadamente no Público e no Expresso) e nestas net-páginas, fórmulas que no presente texto não desenvolverei.
Tais reforços de meios, e redimensionamento das Freguesias, serão desejáveis desde que se tenha em consideração que em muitos casos as Freguesias do despovoado interior são o único ponto de contacto com a Administração pública, e que a Freguesia ideal, em que os conceitos de vizinhança e conhecimento mútuo podem ter algum significado, deveria a meu ver ter cerca de 3000 habitantes.
Tal princípio levaria a que passasse a haver cerca de 3000 freguesias - redução consentânea com os objectivos do Memorando de entendimento, havendo pois que proceder a agregações nas que actualmente tivessem entre 500 e 3000 pessoas residentes, e reflectir sobre quais as que pela sua interioridade ou insularidade deveriam continuar a existir.
No que respeita à redução do número de eleitos, e independentemente das fórmulas de redução que a lei eleitoral poderia modificar, bastaria mediante uma pequena modificação constitucional aplicar-se o que propus há alguns meses nas minhas net-páginas e na "Visão: o mapa de eleitos seria feito em função do número de votantes, o que seria incentivador da participação política dos cidadãos.
Alguns pontos dos documentos apresentados pelo Governo suscitam entretanto mais alguns comentários, que expresso no espírito da discussão pública salutarmente desejado pelo Governo.
Não me pareceu muito claro e após uma primeira leitura se os municípios e freguesias das Regiões Autónomas estão abrangidos pelos princípios orientadores dos documentos acima citados, pois se constitucionalmente tal não lhes é aplicável não há dúvida que em sede de revisão constitucional haverá que corrigir tal situação, contribuindo-se para que os desaforos existentes e detectados até agora sejam corrigidos.
A revisão da Lei das Finanças Locais não deveria ser feita - como previsto - fora do âmbito da Reforma da Administração Local, pois tal é indissociável dos conceitos a aplicar quanto à atribuições, competências e recursos que serão objecto de redimensionamento e de articulação, os quais visam o reforço do poder de proximidade das novas Freguesias, e que não podem deixar de incluir a redefinição das atribuições e competências entre os Municípios e as Freguesias, também expressa no Documento Verde (tal como o princípio de não dever haver transferências de competências dos Municípios para as Freguesias que impliquem aumentos de despesas nem de funcionários).
Finalmente, assinale-se o salutar propósito de se procurar manter a Freguesia como espaço reconhecível pela comunidade de cidadãos, na sequência de ampla discussão entre cidadãos e os seus representantes nos Órgãos Autárquicos de Freguesia e Municipais, devendo as propostas ser submetidas à Assembleia da República.
É o que deste modo procuro aqui fazer.
02.Outubro.2011
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Sobre o futuro do Homem (Ensaio)
O desejo de perpetuação das espécies vivas faz parte do seu código genético, e se no caso da generalidade dos animais é lícito admitir que o desejo da reprodução se limite apenas à criação da geração seguinte, no que respeita ao Homem o horizonte já abrange uma visão que compreende algumas das gerações seguintes, bem como os conceitos de família e de grupo social .
Porém seria uma pena que uma espécie como a humana tivesse apenas uma visão e horizonte limitados, pois aparentemente nenhuma outra atingiu o grau de conhecimento, de técnica e decisão que permitiu a chegada ao ponto em que se encontra, e que deixa antever uma possiblidade de um futuro de desenvolvimento equilibrado.
Não devemos porém esquecer que a Terra não só é finita mas que há probabilidades de se tornar inabitável para o Homem - pensemos por exemplo em cinzas provocadas por fortes erupções vulcânicas, ou em episódios de elevada poluição radioactiva.
Daqui se infere a determinação lógica para o que deveria ser o objectivo comum sempre presente no espírito de todos os cidadãos: o da preservação da raça humana tendo em conta a probabilidade de a vida na Terra poder vir a desaparecer.
Para tal deverá ser dada prioridade à investigação científica internacional no sentido de, tal como Stephen Hawking já advogou, serem tentadas soluções que permitissem quer a expedição voluntária de pessoas para outros planetas susceptíveis de acolherem a vida humana, quer outras fórmulas baseadas por exemplo no desenvolvimento da criogenia.
Tais ideias, porque intimamente associadas ao instinto da preservação da raça humana, poderão igualmente contribuir para o aumento de um espírito de concórdia entre as pessoas, fomentando a cooperação e a resolução pacífica de conflitos em conjugação com a necessária competitividade que é fundamental para o desenvolvimento.
Deste conjunto de ideias ressaltam linhas programáticas óbvias: a necessidade de uma maior e melhor colaboração internacional, a criação de mais agências e organismos especializados no seio da ONU, e o apoio à investigação e ao investimento tecnológico.
Por outro lado, importa que tais conceitos sejam igualmente aplicados à perspectiva de ser necessário o encontro de soluções que permitam entretanto a sustentação harmoniosa do cada vez maior número de habitantes do nosso planeta, sem o que o inevitável grau de conflituaidade daí resultante impedirá ou prejudicará o esforço de preservação da raça humana.
A disseminação generalizada destes conceitos ajudará a tornar as pessoas mais conscientes do facto de estarem "embarcadas" numa "nave espacial Terra", cuja vida não é eterna, e que temos a responsabilidade colectiva de procurar encontrar soluções que permitam a sobrevivência dos nossos netos.
25.Setembro.2011
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O "Tribunal" de Contas e as irresponsabilidades políticas.
Foi notícia o facto de o Tribunal de Contas ter sistematica e regularmente dado a conhecer os pareceres sobre as finanças públicas das regiões autónomas a mais de 30 personalidades de entre as que figuram nos mais elevados níveis do Estado - para além da respectiva publicação no Diário da República, e dos ecos (se bem que por vezes fracos) nos meios de informação pública.
É evidente que agora se esqueceu igualmente que iguais alertas foram dados aquando de outros pareceres, igualmente sombrios, sobre as contas do Estado e de entidades públicas empresariais, mas tal não retira mas antes agrava o facto de ter havido como que um esquecimento colectivo (salvo algumas honrosas excepções) dos graves riscos que tais desequilíbrios provocaram na sobrevivência do país enquanto Estado independente - que aliás já está dependente de empréstimos externos.
Tratou-se, mais do que de esquecimento, de grave irresponsabilidade política nos mais altos patamares do Estado, não bastando para os desculpar o facto de em belos discursos haver referências ao calamitoso estado da nossa economia, pois seria necessária a tomada de iniciativas que ajudassem a colmatar e a corrigir os caminhos que nos trouxeram à presente situação.
Agora é fácil tomar a a Região Autónoma da Madeira como alvo (independentemente do facto de Alberto J.C.Jardim ter um execrável comportamento político e ter levado o nepotismo e a dissipação de réditos a um nível elevadíssimo). Mas os problemas globais, e de que aquela Região é pequena parcela, continuam.
Assim, temos um "Tribunal" que apenas se pode limitar a emitir uns "vistos" prévios em obras menores - que muitas das de vulto de tal legalmente são dispensadas - e a cujas "sentenças" escapam os principais responsáveis.
Pobre Democracia portuguesa, cujo sistema político, porque pouco participativo, permite tais graus de alienação e de irresponsabilidade ...
24.Setembro.2011
Um "jardim" a cultivar...
A recente revelação do ocorrido com as contas públicas da Região Autónoma da Madeira suscita interrogações de diversa ordem, a começar pelo que parece ser a notória incompetência do Estado para apresentar a qualquer momento o ponto de situação em tal matéria, quer a nível central, quer das regiões autónomas ou no plano local.
As consequências atingirão a credibilidade do país, que a começava a recuperar junto dos " mercados" e que se poderão traduzir por novo retrocesso nas cotações de Portugal em momento particularmente delicado quando se tentava que deixàssemos de estar associados ao perfil grego de possível bancarrota.
Por outro lado, diversos procedimentos de A.J.C.Jardim demonstram bem as insuficiências legislativas no que respeita aos sistemas de responsabilização financeira a nível político, pois enquanto um empresário administre mal a sua firma e a leve à falência pode ser punido com a perda de bens seus, já a um político que seja culpado de decisões que se traduziram em prejuizos do erário público nada acontece - e muitas vezes é reeleito para as mesmas funções.
É certo que tem sido uma constante a descoberta periódica de novos "buracos" nas contas públicas a nível central, porém não com a dimensão relativa do ocorrido na Região Autónoma da Madeira, sendo lícito admitir que caso não estivesse em curso um profundo exame à situação financeira portuguesa realizado por instâncias internacionais talvez só viesse a lume daqui a alguns anos.
Também não deve ser esquecido o desconforto da maioria dos portugueses perante o permanente despautério de A.J.C.Jardim que, aliado ao notório nepotismo que tem demonstrado, suscita legítimas interrogações sobre o nível de solidariedade que deve ser prestado a quem notoriamente desrespeita os valores da democracia e das boas maneiras, bem patente nas últimas intervenções daquela "personalidade".
Há que resolver, pois, o problema da necessidade de transparência e actualização das contas públicas, bem como o da administração dos créditos cujo último avalista é o Estado.
Há que igualmente legislar sobre as penalizações devidas a quem administrar danosamente os bens públicos.
E, finalmente, que se encontrem meios para se evitarem ou reduzirem comportamentos grosseiros como os demonstrados por A.J.C.Jardim em termos de tentativas de manipulação das opiniões, e do evidente nepotismo de que tem sido acusado.
18.Set.2011
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Um "PREC" na Banca ?

Segundo veio a público recentemente o Banco Central Europeu já concedeu quase 50 mil milhões de Euros em créditos à Banca portuguesa (o que, conjuntamente com outras operações análogas a Bancos de outros países, bem como compras maciças de dívida pública na zona Euro para aliviar a pressão especulativa dos "mercados" sobre certas dívidas soberanas, terá talvez contribuído para que se tenha demitido o alemão Stark das suas funções de economista-chefe do BCE, possivelmente por desacordo com uma política que corresponderia mais à do previsto Fundo de Estabilização Financeira).

Tais empréstimos à Banca portuguesa demonstram a sua notória descapitalização, em que as provas de esforço ("stress tests") a que tem sido submetida apenas asseguram uma sobrevivência que contudo não é suficiente para assegurar os financiamentos que são necessários para o desenvolvimento da economia, situação que certamente contribui para a grande desvalorização das respectivas acções bolsistas.

Aguarda-se assim com óbvia curiosidade o resultado da análise que os representantes da Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional começaram a fazer há dias aos bancos no quadro do Memorando de Entendimento firmado há quatro meses com as autoridades portuguesas visando a concessão de um empréstimo tendente a equilibrar as finanças públicas.
Tal análise não deixará de ter presente a existência dos resultados negativos da nacionalização do Banco Português de Negócios (rondando, ao que se diz, 5 mil milhões de Euros - aos quais há que felizmente descontar os 40 milhões obtidos com a sua venda ...) e a possível descapitalização do Fundo de Pensões dos Bancários que irá ser transferido para os cofres da Segurança Social.
Não será assim de admirar que possa ocorrer a breve prazo a possibilidade prevista no citado Memorando da emissão de obrigações bancárias garantidas pelo Estado até ao montante de 35 mil milhões de euros, incluindo o previsto no pacote existente de medidas de apoio (12 mil milhões de Euros), o que pode vir a implicar a entrada do Estado no capital de diversos Bancos.
Ou seja, uma forma "mitigada" de nacionalização parcial.
Os portugueses por certo começariam então (tal como já ocorre noutros países) a interrogar-se sobre a forma de funcionamento do sistema bancário nacional e internacional, pois sem adequadas (e por certo difíceis) explicações julgariam que quando há lucros são os accionistas quem mais ganha - pese embora a fiscalidade - mas que quando há prejuízos são distribuídos por todos.

Como é conhecido, a expressão " Processo revolucionário em curso " foi associada, entre outros episódios, à nacionalização da Banca em 1975. Caso ocorresse agora uma nacionalização, mesmo que parcial, talvez assim se viesse a apelidar de "PREC - Processo Reorganizativo Em Curso" ...
11.Set.2011
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My name is Bond ...
... Euro Bond.

E nem com este nome os 017 países da Zona encontram uma solução para a grave crise financeira que se vai propagando, ao ponto de a Bélgica e a própria França já terem sido agregadas à Espanha e à Itália no rol de dívidas soberanas sob vigilância dos "mercados".

Além disso perdem poder negocial - ao não se poderem exprimir de modo concertado - no desejável processo de saneamento e reorganização financeira que é vital para o conjunto das nações.

Não tenhamos dúvidas: a continuarmos assim toda a economia mundial entrará em profunda recessão, e os efeitos positivos da globalização da economia transformar-se-ão em negativos, com o inevitável regresso do proteccionismo comercial.

Sem uma nova moeda de referência mundial, baseada por exemplo num novo conceito dos Direitos Especiais de Saque, para cuja definição concorreriam as principais moedas e em função do respectivo desenvolvimento económico, e sem organismos reguladores das
transacções financeiras internacionais e nacionais, a economia global caminhará para uma recessão cujos contornos não auguram nada de positivo.

O reequilíbrio do sistema passará pois por uma diminuição temporária dos padrões de vida das sociedades mais desenvolvidas, uma vez que será necessário corrigir o excesso de endividamento que caracterizou os últimos vinte anos.

Para tal, é necessário falar aos povos com clareza, e fomentar os processos de informação e decisão a partir das pequenas comunidades de base, sem os quais não haverá participação nem adesão consciente.

Haverá dirigentes que o façam ?

Doutro modo, esperam-nos nuvens negras no horizonte.

03.Set.2011
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Dois recentes episódios contribuem para voltar de novo ao tema do futebol profissional, nomeadamente aos seus piores aspectos e àos paradoxos que provoca.
O primeiro é o que é ilustrado na fotografia que se pode ver a partir daqui e que demonstra o "desportivismo" de um treinador de futebol, cuja arrogância e sobranceria mais tarde ou mais cedo contribuirão para a queda do pedestal em que o colocaram (também graças às centenas de milhões de euros que custam os jogadores de elite das equipas que tem dirigido), e que em nada ajudam à imagem dos portugueses no mundo.
O segundo episódio diz respeito às declarações do presidente de um clube e correspondente sociedade anónima "desportiva" criticando implicitamente a designação de um árbitro para um jogo de futebol, e que levaram à renùncia do próprio - declarações que lamentavelmente constituem mais uma acha para a fogueira de controvérsias que estão na origem de muitas situações de violência entre adeptos.
Como já referi nestas páginas há algum tempo, se dúvidas houvesse sobre se este tipo de espectáculos pode ser considerados de natureza desportiva, tais reacções bastariam para as tirar, pois o Desporto deve corresponder a elegância de atitudes e de respeito por decisões arbitrais - se não transforma-se em algo perto de um combate.
Acrescentaria que só quando se perceber que o futebol profissional não é mais do que um comércio de artistas, com apostas mais ou menos sucedidas nas "aquisições" é que se caminhará contra a alienação que atinge tantas pessoas que noutras áreas têm notória lucidez mas que não conseguem abstrair-se do facto de se tratar de um negócio no mundo do espectáculo, comparável de certo modo às representações circenses.
Os clubes de futebol profissional não são mais do que empresas que investem numa bolsa em que as acções em carteira correspondem a apostas no desempenho de actores que são atletas de profissão - e quem tem sorte, ou aposte nos artistas que são os melhores de entre esses atletas, é quem obtem melhores desempenhos para a sua própria empresa, traduzidos obviamente em maiores rendimentos financeiros.
Parece também inconcebível que personalidades de entre as mais conhecidas na vida portuguesa se deixem envolver nos meandros que rodeiam este espectáculo, e que diversas de entre elas colaborem nos tortuosos e sombrios esquemas financeiros a ele associados, desde a construção de estádios à contratação de artistas do futebol, esquemas esses bem demonstrados por escutas telefónicas nunca desmentidas pelos seus participantes.
Repito assim o que já aqui expressei : muito falta ainda, infelizmente, até que esta forma de alienação deixe de contribuir para o esquecimento de tantos outros assuntos que deveriam ocupar bastante mais do nosso tempo.
20.Ago.2011
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Madeira, Jardim: basta!
O país tem assistido desde há dezenas de anos a um desfiar de intervenções de Alberto João Cardoso Jardim, Presidente do Governo da Região Autónoma da Madeira, que se pautam quer por linguagem insolente e desbragada, quer por nítido desrespeito das instituições políticas da República ou até dos seus responsáveis – incluindo Presidentes da República.
Sempre com ameaças veladas ou expressas, tem conseguido que os portugueses em geral cubram os excessos de natureza financeira que têm pautado a sua governação, e que excedem em muito os deveres de solidariedade nacional perante os designados custos da insularidade.
Vem agora tentar justificar as dívidas (mais de 270 milhões de euros) contraídas pelo seu governo e detectadas não só pelo Governo central como também pela comissão tripartida nomeada pelo FMI, BCE, e Comissão Europeia para acompanhar a execução das acções necessárias para a manutenção de um volumoso empréstimo à República.
E tenta justificá-lo argumentando que tentou defender o povo da Região Autónoma de disposições orçamentais (que incidiram sobre toda a população portuguesa) que segundo aquela personagem eram da responsabilidade do “governo socialista” – o mesmo perante o qual subservientemente se curvou quando recebeu um avultado financiamento para prover aos prejuízos provocados pelas fortes inundações que há meses assolaram a Madeira – financiamento cuja aplicação integral suscitou dúvidas públicas.
Jogando com a ameaça de uma independência da região vir a retirar parte apreciável de um dos grandes trunfos de Portugal a nível do globo – a Zona Económica Exclusiva – e com o facto de até agora ter pedido empréstimos cuja possibilidade de pagamento acabaria por ter que recair sobre o Governo da República, tem até agora sobrevivido politicamente porque é fácil gastar o que não se tem.
E o remédio para tais despautérios passaria apenas e afinal pelo estrito cumprimento da lei, bem como da respectiva revisão no que respeita a excessos de natureza orçamental – não sendo por ora necessário o recurso a métodos que segundo consta terão sido usados pelo então Brigadeiro Carlos Azeredo.
Os madeirenses reconheceriam por certo que o dever da solidariedade nacional obriga, no momento difícil que Portugal atravessa, à participação nos sacrifícios que nos são impostos – e que todos desejamos sejam repartidos da forma o mais justa possível.
A situação actual é que não se deve manter. Há que dizer “basta!”.
13.Agosto.2011
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Mota Amaral e o recenseamento eleitoral.
Em recente artigo no Expresso o Deputado João Bosco Mota Amaral advogou a elaboração de um novo recenseamento eleitoral, de base voluntária, visando assim a redução do absentismo.
Sendo uma boa ideia dada a sua essência democrática, não creio que fosse agora a melhor solução, pois estamos longe dos tempos em que havia a forte mobilização que uma jovem democracia suscitava.
Assim, dado que o número médio de votantes nos últimos anos tem sido de cerca de 5,5 milhões, o que provavelmente poderia acontecer com o novo sistema seria a redução do universo eleitoral para não mais de 6 milhões, o que satisfaria muitas consciências na medida em que as abstenções pareceriam menores.
O actual problema das inscrições a mais é essencialmente devido aos emigrantes que continuam recenseados em Portugal, o que poderia ser resolvido cruzando-as com a base de dados das inscrições consulares e subsequente pergunta sobre a opção de local de voto – se em Portugal, se no círculo da emigração.
Outra solução, a que já me referi nestas páginas (em 28.Maio.2011), consistiria na elaboração do mapa de deputados, bem como da determinação do número de eleitos locais, com base no número de votantes - e não no dos recenseados.
Espero que a nova legislatura que acaba de ser iniciada estude estas questões, e adopte uma solução que termine de vez com o uso da expressão "eleitores-fantasma", que tanto desprestigia o nosso sistema eleitoral.
06.Agosto.2011
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Legislação e comunicação
Recebi há dias por correio electrónico diversas mensagens de pessoas escandalizadas pelo facto de a novel Presidente da Assembleia da República ter atribuído um gabinete, uma Secretária, viatura de serviço e motorista ao ex-Presidente da Assembleia, deputado João Bosco Mota Amaral, ocorrendo que apenas algumas mensagens dessas transcreviam o Despacho respectivo publicado no Diário da Assembleia.
O referido Despacho tem o seguinte preâmbulo:
"Ao abrigo do disposto no artigo 13.º da Lei de Organização e Funcionamento dos Serviços da Assembleia da República (LOFAR), publicada em anexo à Lei n.º 28/2003, de 30 de Julho, e do n.º 8, alínea a), do artigo 1.º da Resolução da Assembleia da República n.º 57/2004, de 6 de Agosto, alterada pela Resolução da Assembleia da República n.º 12/2007, de 20 de Março, determino o seguinte:"
Eis um exemplo perfeito da falta de sensibilidade reinante na Administração Pública, em que se esquece que nomeadamente em determinados assuntos que mais tocam a opinião pública a habitual linguagem seca dos legisladores deveria ser acompanhada de adequada elucidação do que nela se contem.
Teria sido assim mais apropriado que se tivesse feito preceder o preâmbulo em causa de um texto em que se referisse que a Assembleia da República tinha deliberado em 2003 que aos ex-Presidentes da Assembleia da República que se mantivessem no exercício do mandato de Deputado seria atribuído, nas instalações da Assembleia da República, um gabinete próprio, podendo ser apoiados por um funcionário, e que em 2004 fora decidido atribuír-lhes viatura oficial.
Evitar-se-iam assim os comentários que ocorreram referindo ou insinuando que a Presidente do Parlamento, mal tinha tomado posse, se tinha apressado a conceder privilégios a um ex-Presidente (independente de ser discutível se tal âmbito e extensão de privilégios deve ocorrer tanto no presente caso como no dos ex-Presidentes da República - e, noutras dimensões como a das reformas, a ex-Deputados).
A terminar: se bem que não ressalte claramente dos textos legais citados a possibilidade de atribuição de motorista, não há dúvida que faltou a capacidade de melhor esclarecer os cidadãos, demonstrando-se assim uma falta de sentido de oportunidade que poderia ter sido colmatada por uma perspectiva inovadora em termos de redacção de textos legais, e que bem poderia e deveria ser seguida pela Administração Pública.
31.Julho.2011
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Über alles ? "Porreiro, pá".
Bastou uma breve alusão de Angela Merkel à situação financeira da Itália para que de imediato houvesse reflexos nos juros do mercado secundário das dívidas italiana e espanhola.
Isto, apesar de tal alusão ter ocorrido no dia seguinte ao da reunião do Conselho Europeu em que se decidiu renovar o apoio à Grécia, o que muitos interpretaram - apressadamente - como um relançar da União Europeia .
O facto é que ficou demonstrada uma vez mais a inexistência política de Van Rompuy, de Barroso, bem como do Parlamento Europeu, não se devendo também olvidar o Serviço de Representação Externa (Diplomáttica).
No que respeita à Comissão Europeia, não devemos deixar de nos interrogar sobre a razão que levou a que - dispondo de uma elite técnica financeira altamente qualificada - não tivesse alertado para os riscos
da adopção do Euro por países com economias de sustentação mais duvidosa, nem se impôs quando os critérios de Maastricht começaram a ser desrespeitados, inclusivé pela própria Alemanha.
E, mais recentemente, quando não previram os reflexos que a crise financeira dos EUA iniciada em 2007/2008 iriam ter na solidez de diversos Estados da zona Euro, bem como na própria moeda.
Os resultados estão à vista: a Comissão Europeia "desapareceu", tendo deixado de cumprir um papel equilibrador das tensões entre Estados-membros, permitindo que a conhecida expressão "porreiro, pá" desse lugar a uma situação em que a Alemanha aparecesse - acolitada pela França - como a única entidades dirigente da União Europeia. "Über alles" ...
24.Julho.2011
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Revisões constitucionais.
A anunciada decisão de extinguir os cargos de Governadores Civis pressupõe obviamente uma revisão do texto constitucional, dado o facto de nele lhes serem expressamente cometidas funções de representação do Governo.
Logicamente deveriam ser também extintos os distritos, o que implicaria também uma urgente mudança da lei eleitoral da Assembleia da República, cujos círculos (no Continente) são actualmente baseados nos distritos.
Por outro lado, dadas as disposições contidas no já bem conhecido "Memorando de entendimento", no sentido de serem substancialmente reduzidos os números de municípios e de freguesias, e que foram aceites pelos três maiores partidos políticos, bem como pelo Governo,esperar-se-ia adequada iniciativa parlamentar em tal sentido, ou apresentação governamental de proposta de lei.
Porém como o prazo de um ano constante do "Memorando" para a apresentação de uma nova divisão autárquica - que seria já aplicada nas eleições previstas para 2013 - parece ser insuficiente para estudar e aprovar as leis para tal necessárias, o Governo já terá dado a entender que iria propor aos subscritores do "Memorando" que mediante adequadas disposições em contrapartidas financeiras fosse apenas reduzido o número de freguesias das actuais cerca de 4000 para cerca de 2500 a 3000, mantendo-se inalterados os concelhos.
Percebe-se porquê, pois as estruturas de base em que se apoiam os partidos políticos residem precisamente nos concelhos... E obviamente são assim deitados por terra os penosos esforços dos defensores dos círculos uninominais, que só seriam possíveis caso houvesse fusões de concelhos.
Por outro lado terá sido também afirmado a nível governamental que não seriam extintas nem objecto de agregações as freguesias do interior do país que estivessem em situação de maior isolamento, donde se deduzirá que as uniões de freguesias tenderiam a incidir sobre as cerca de 2500 cuja população esteja entre 500 e 3000 pessoas.
Todos estes considerandos apontam para que se acabe por fazer uma revisão constitucional que neste âmbito se venha revelar como modesta, em vez de se discutirem questões de fundo como as que se situam na eventual opção por um círculo nacional único, e se esqueça a premente necessidade de serem concretizadas adequadas transferências de atribuições, recursos e competências das autarquias municipais para as autarquias locais de base - as freguesias - contribuindo assim para aproximar realmente o povo e os seus eleitos.
17.Julho.2011
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"União" Europeia: acordará agora ?
Iniciado há poucos dias o período de seis meses cuja responsabilidade compete à Presidência Polaca, cedo esta criticou a forma como se está a processar o apoio financeiro à Grécia.
Porém mais importante teria sido diligenciar de imediato no sentido de ser convocado um Conselho Europeu extraordinário para apreciar a situação actual da União, à luz de todas as suas vertentes e em especial das de natureza financeira.
Competindo formalmente ao Presidente Van Rompuy a convocação do Conselho Europeu, teria assim este a oportunidade de pelo menos fazer corresponder as preocupações que quanto ao Euro recentemente exprimiu, com uma atitude política que o retirasse da sombra em que tem permanecido.
(Nota: no dia seguinte ao da publicação deste "Ponto de vista" Van Rompuy convocou uma reunião de altos responsáveis visando apreciar a crise do Euro...)
Seria aliás esta igualmente uma excelente ocasião para a diplomacia portuguesa concertar com a grega e a irlandesa uma iniciativa no mesmo sentido, e mostrar ao quase inexistente Presidente da Comissão Europeia - que , como tenho vindo a referir, é institucionalmente a "guardiã" dos Tratados da União - que perdera uma oportunidade única para se afirmar perante as outras Instituições através da tomada de acções conducentes ao mesmo fim.
Esperemos entretanto que os novos e recentes sinais do Banco Central Europeu no que respeita à continuação de empréstimos à banca portuguesa signifiquem o início de uma mudança na política monetária e financeira da Zona Euro, pois é difícil imaginar que aquela Instituição proceda isoladamente nesta matéria.
Não devemos esquecer que este primeiro empréstimo à República visou a procura do equilíbrio orçamental até 2013 e a obtenção de bases para o início da retoma da economia, mas que serão necessários novos financiamentos para que tal processo seja estável e a um ritmo de crescimento que permita o pagamento das dívidas em prazo razoável, bem como a sustentabilidade futura da aplicação dos critérios que são a base do funcionamento da União Económica e Monetária..
10. Julho.2011
Opiniões contestáveis em matéria eleitoral.
Em artigo de opinião no Expresso de 2 de Julho passado, o distinto Professor Catedrático do Instituto Superior Técnico e reputado especialista na área dos tranportes, José Manuel Viegas, propõe uma reforma do sistema eleitoral assente em algumas ideias que merecem alguma contestação.
Em primeiro lugar, advoga que o Cartão de Cidadão possa ser usado para o voto em qualquer assembleia eleitoral dotada de "ligaçao à rede", presumindo-se que proponha assim a generalização do voto por meios electrónicos.
Por outro lado, defende a posibilidade de nas eleições autárquicas haver a opção entre o voto no local de residência e no local de trabalho, ou eventualmente a capacidade de uso de "meio voto" em cada um daqueles locais, para tal argumentando ser absurdo o facto de a sua "qualidade de vida" no seu local de trabalho - para onde contribui para o desenvolvimento económico - poder ser afectada por determinações de dirigentes em quem não pode votar.
Em meu entender, são opiniões que contradizem a essência da democracia, pois a assembleia eleitoral de vizinhança é o cerne da vida política, o qual deve ser fomentado tanto mais quanto a proliferação de instrumentos de comunicação electrónicos - inegavelmente úteis para melhorar o conhecimento e o debate de ideias - tende a levar ao afastamento físico entre as pessoas, insubstituível em sociedades saudáveis.
Acresceria que por exemplo caso um cidadão trabalhasse a meio tempo em dois municípios diferentes já seria mais difícil a distribuição das "parcelas de voto" ...
Refere-se finalmente o articulista à ideia da representação parlamentar dos votos em branco aravés da respectiva "presença" em assentos não ocupados na Assembleia da República, cuja (in)visibilidade contribuiria para suscitar a respectiva transformação em votos em forças políticas aquando das eleições seguintes.
Tal ideia, que José Manuel Viegas certamente desconhece já ter sido publicamente apresentada há alguns anos pelo menos por Luís Campos e Cunha, não parece susceptível de provocar tal efeito fomentador de opções políticas, pois quem optou por votar em branco fê-lo certamente por convicção de que de entre as propostas apresentadas nenhuma seria satisfatória, pouca influência tendo provavelmente uma última fila vazia no Parlamento para que houvesse uma mudança de opinião.
03.Julho.2011
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Os erros do costume.
O anterior Primeiro-Ministro anunciou logo no início do seu mandato, com pompa e circuntância, que iria ser permitido que certos medicamentos fossem vendidos em hipermercados e lugares afins, e que as férias judiciais seriam reduzidas, disposições que causaram surpresa não pelo seu eventual mérito intrínseco mas sim por terem sido acções práticas que foram anunciadas em solene discurso de posse, e consequentemente algo fora do contexto de que tal discurso se deveria revestir. E, ao que parece, foi longa e deficiente a respectiva tradução em prática.
O actual Primeiro-Ministro incorreu em erro análogo ao anunciar como (única) decisão inicial de carácter prático do seu Governo a intenção de não nomear novos Governadores Civis, sendo obviamente omisso quanto à eventual suspensão das atribuições e competências que lhes cabem. De certo modo desvalorizando assim e tal como o seu antecessor um discurso que se desejaria essencialmente programático, cometeu também outro erro ao não recordar que a supressão daqueles cargos está condicionada a revisão constitucional, e portanto decorrente de acordos que ainda não se encontram estabelecidos de modo a se obter a necessária maioria para a sua concretização - e dando assim trunfos a outras forças políticas aquando das inevitáveis discussões sobre a matéria.
Cedeu também, ao assim proceder, à adesão a um dos lugares comuns que têm vindo a ser papagueados como essenciais para a reforma do sistema político: a citada extinção dos cargos dos governadores civis, que a par da introdução dos círculos uninominais parecem ser a panaceia que transformará o nosso país num modelo de eficiência política.
Não se discutem tais necessidades, se bem que a introdução de círculos uninominais tenha como consequência um afastamento ainda maior entre eleitores e eleitos, como já o tenho vindo a sustentar. Mas haveria que as enquadrar - se aprovadas - na articulação entre a revisão constitucional e as disposições do "Memorando de Entendimento" sobejamente conhecido, nomeadamente quanto à obrigação neste expressa da redução significativa do número de municípios que, saliente-se, deverá entrar em vigor no próximo ciclo eleitoral local (2013/2017), devendo o respectivo plano de redução estar pronto até Julho de 2012.
Sim, daqui a um ano.
O Primeiro-Ministro deveria antes de entrar em pormenores de aplicação duvidosa ter relembrado aos portugueses que a aplicação do "Memorando" citado obrigaria a uma revisão constitucional que, por urgente, teria um carácter limitado, cujo horizonte legal de cinco anos acabaria por coincidir com a consolidação da desejada recuperação da economia - momento em que seria então desejável proceder-se a uma revisão constitucional séria e profunda
26.Junho.2011
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A nova "União" Europeia
Surgiu aparentemenre um "novo" Estado-Membro na "União" Europeia: a "Alemança", cujo dirigente - também bicéfalo - tem um nome ainda por definir, mas que poderia ser quer "Nicolangela Sarkel" ou "Merkosy" (este talvez mais adaptado às presentes circunstâncias em que os mercados financeiros ditam as suas leis...).
Desdobrando-se em declarações sobre os empréstimos à Grécia, fazem apagar ainda mais a resignada presença formal do Presidente da Comissão Europeia - não esqueçamos ser a guardiã dos Tratados - ou do não menos obscuro Presidente da União.
Não devia ter chegado a este ponto um tão apaixonante projecto de União pacífica dos países que estiveram na base dogrande desenvolvimento mundial ocorrido nos últimos 500 anos - se bem que muitas vezes à custa da opressão de outros povos.
E por que razão estamos agora com a sensação de que tudo se pode desmoronar a partir por exemplo de uma cisão na zona Euro com a criação de duas moedas, ou de outras soluções que poderão levar à deterioração da zona Euro ou da própria União?
A resposta - uma das respostas - estará no facto de não se ter dado prioridade às pessoas, privilegiando-se os mercados na pressuposição de que estes induziriam a aproximação política, esta sim a resposta consistente para os desejos de construção de uma união de Estados?
E chegàmos assim à manta de retalhos que caracteriza a "União" Europeia, em que por exemplo nem todos os Estados-Membros pertencem à NATO, nem há uma política de defesa e intervenção comum, em que só alguns adoptaram o Euro, outros a livre circulação Shenghen, e o novel serviço diplomático é tudo menos coerente...
Tivesse havido uma aposta profunda na mobilidade dos jovens (muito para além dos tímidos progamas Erasmus e Leonardo), em vez de se dispenderem somas gigantescas para uma "Política Agrícola Comum" que apenas procurava defender os interesses de agricultores de países mais ricos), e não estaríamos agora a assistir à eventual princípio da desagregação de alguns dos seus Estados-Membros e da própria União.
Para se tentar obviar a tal, e enquanto é tempo, caminhe-se para a reformulação dos sistemas políticos com vista à maior aproximação entre eleitores e representantes, bem como no sentido de uma maior união política entre os Estados-Membros.
19.Junho.2011
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10 de Junho. Discurso presidencial (extractos)
Dia de Portugal... É dia de congratulação. Pode ser dia de lustro e lugares comuns. Mas também pode ser dia de simplicidade plebeia e de lucidez.

Ainda hoje soubemos prestar homenagem a Salgueiro Maia. Nele, festejámos a liberdade, mas também aquele homem. Que esta homenagem não se substitua, ritualmente, ao nosso dever de cuidar da democracia.

Desde então, muito mudou. O regime democrático consolidou-se. Recheado de defeitos, é certo. Ainda a viver com muita crispação, com certeza. Mas com regras de vida em liberdade.
Evoluiu a situação das mulheres, a sua presença na sociedade. Invisíveis durante tanto tempo, submissas ainda há pouco, as mulheres já fizeram um país diferente.

A Sociedade e o Estado são ainda excessivamente centralizados. As desigualdades sociais persistem para além do aceitável. A injustiça é perene. A falta de justiça também. 0 favor ainda vence vezes de mais o mérito. O endividamento de todos, país, Estado, empresas e famílias é excessivo e hipoteca a próxima geração.

Em momentos de crise económica, de abaixamento dos critérios morais no exercício de funções empresariais ou políticas, o bom exemplo pode ser a chave, não para as soluções milagrosas, mas para o esforço de recuperação do país.
(Extractos do discurso do Presidente da Comissão Organizadora da Comemorações do Dia de Portugal, Dr.António Barreto, em 10 de Junho de 2011).
11.Junho.2011
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Eleições, apelos e resultados.
Presidente da República, todos os 3 ex-Presidentes, 47 "personalidades" relevantes na vida pública nacional - seguidas por mais algumas dezenas de "figuras públicas" - desdobraram-se ao longo dos útimos dois meses em apelos a consensos e concórdias no país, expressando igualmente o desejo de que a campanha eleitoral fosse esclarecedora, tendo em atenção que o Governo português assinaria um "Memorando de entendimento" baseado em Decisão do Conselho Europeu sobre a concessão de assistência financeira a Portugal, e cujas linhas gerais já eram conhecidas.
Tal Decisão pressupunha que o Fundo Monetário Internacional participasse conjuntamente com a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu (BCE) na elaboração do citado Memorando, que envolveria "devidamente os principais partidos políticos".
É então publicado, ainda antes do início da campanha eleitoral, o Memorando em causa, cujas linhas gerais foram apresentadas pela comissão tripartida de representantes das três entidades internacionais oportunamente referidas, comissão a que alguém se lembrou de designar, de forma totalmente desapropriada, por "troika" - termo que bovinamente quase todos os portugueses adoptaram (mesmo a maioria dos mais altos dignitários).
E, curiosa e aparentemente, não foi conhecida qualquer diligência dos partidos políticos que deram o seu aval aos termos do Memorando no sentido de constituirem grupos de trabalho para prepararem - no caso de ganharem as eleições de 5 de de Junho - a apresentação das disposições que deverão ser apreciadas pelas três entidades internacionais, nomeadamente aquelas cujos prazos terminam em 31 de Julho - isto é, cerca de 3 semanas (quiçá 2) após a provável aprovação do programa do novo governo.
Admite-se entretanto que o actual governo tenha procurado preparar propostas de concretização das disposições mais urgentes, mas não é certo que mereçam a aprovação do novo executivo. ...
Entretanto as campanhas eleitorais e debates pouco ou nada referiram sobre a grande maioria dos principais termos do Memorando, exceptuando-se talvez as questões relativas à modificação da "Taxa social única", e quase não abordaram o modo de apresentação de propostas sobre as questões para as quais se requerem decisões até 31 de Julho - como por exemplo as reduções de custos nas empresas públicas e as respectivas revisões de tarifas, a supressão das acções de direitos preferenciais do Estado ("golden shares"), e a avaliação dos riscos orçamentais das "Parcerias Público-Privadas").
Tudo isto sob o silêncio aterrador do Presidente da República, que deveria publicamente recordar estas questões, e informalmente procurar contribuir para que a crispação crescente no período de campanha eleitoral fosse mitigada e reorientada para a análise dos problemas de fundo.
E esta situação toda num quadro surrealista, ao qual já me referi nestas páginas: três partidos convidados a participarem num compromisso de pelo menos uma legislatura, apresentando programas eleitorais baseados em pressupostos que ou não conheciam plenamente ou que poderão estar longe de permitirem a sua plena aplicação, para governarem de acordo com um programa financeiro plurianual elaborado por um governo de gestão apoiado por um dos partidos que poderá não vir a participar no próximo governo ...
Não há dúvida: o sistema político está doente. Mas por enquanto ainda há formas de no quadro democrático poder vir a ser melhorado.
5.Junho.2011
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Sobre os "eleitores-fantasma": uma solução.
Já me tenha referido nestas páginas, bem como em artigos publicados no Imprensa (nomeadamente no "Expresso") aos problemas suscitados pelo grande nível de abstenções, decorrentes de estarem inscritos nos cadernos eleitorais talvez algumas centenas de milhar de emigrantes.
Regresso ao assunto, pois voltou a ser objecto de destaque nos meios de informação pública, nomeadamente na "Visão", onde se refere a perspectiva de uma distribuição incorrecta de mandatos poder vir a influenciar os resultados das próximas eleições para a Assembleia da República, uma vez que há distritos onde estariam recenseados muitos emigrantes e por consequência terem atribuídos mais deputados dos que os que deveriam ter, e obviamente haver outros distritos com menos - sendo que a tendência eleitoral em alguns dos distritos provavelmente poderia ser diferente da existente nos outros.
Terá contribuído para tal problema o facto de o actual sistema de recenseamento ter passado a assentar no automatismo da inscrição de todos os eleitores que possuem bilhete de identidade ou cartão de cidadão (incluindo assim muitos emigrantes).
Para corrigir esta situação poderia aplicar-se o princípio de não serem contabilizadas as abstenções, o que não prejudicaria as eleições em círculo nacional (único) como o são as do Presidente da República e dos Deputados ao Parlamento Europeu, e introduziria maior justiça nas eleições de Deputados à Assembleia da República, na medida em que a distritos com maior emigração - onde há muitos eleitores não residentes habitualmente - não seriam atribuídos mais Deputados do que os que correspondessem ao verdadeiro "peso" eleitoral dos respectivos círculos, argumento que seria igualmente válido para as eleições locais (nestas, contribuindo-se para um correcto ajustamento do número de eleitos).
Haveria entretanto que manter uma excepção quanto ao número de Deputados pelos círculos da emigração, para os quais se manteria o actual sistema, bem como nos referendos, para cuja validade a Constituição impõe que a participação seja superior a 50 por cento dos inscritos.
Assim, e no caso da Assembleia da República, o mapa de deputados seria elaborado a seguir à publicação dos resultados oficiais de cada círculo - e não antes, como sucede actualmente.
Passados que foram cinco anos sobre a última revisão constitucional, poderá a Assembleia da República modificar adequadamente os artigos da Constituição necessários para que tais disposições entrassem em vigor, nomeadamente os artigos números 149 e 239, por certo contribuindo assim para uma maior mobilização do eleitorado.
28.Maio.2011
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Juventude e insatisfação política
As manifestações que têm ocorrido em Espanha são bem demonstrativas da decepção dos jovens perante a falta de oportunidades que sentem quanto ao seu futuro, bem como no que respeita ao sistema político.
Não rejeitando a democracia - antes pelo contrário - expressam o desejo de que evolua numa perspectiva de maior participação, pondo assim em causa o modo constitucional em que estão organizados os partidos políticos.
De certo modo foram precursoras de tal sentimento as manifestações que em Portugal ocorreram em 6 de Março passado, e que mostraram bem o afastamento da juventude e de outros sectores populacionais relativamente ao modelo político.
Muito contribuíram as redes sociais da Internet para que fosse mais rapidamente conhecido o sentimento de insatisfação existente, bem como para a rápida capacidade de mobilização das manifestações públicas que ocorreram e que se deverão repetir.
E agora, em que a maioria dos participantes se interroga sobre o que fazer, há que procurar caminhos possíveis para se tentar corresponder ao desejo evidente de uma maior participação na vida política e de transformação e aperfeiçoamento do sistema democrático.
Tenho nestas páginas procurado mostrar alternativas, cuja aplicação - se bem que dirigida para o sistema constitucional português - seria susceptível de ser estendida a outras democracias.
Incidem em alguns princípios simples, que aqui recordo.
- O de as freguesias serem redimensionadas no sentido de terem cerca de 5000 cidadãos (ou seja, redução para metade do presente número de freguesias).
- O de aos respectivos poderes autárquicos serem outorgadas muito mais atribuições, bem como competências e recursos, que seriam retirados dos órgãos municipais.
- O de as Assembleias respectivas constituírem um colégio que elegeria por exemplo dois terços dos deputados do Parlamento, sendo o terço restante de eleição em círculo nacional, bem como dos círculos correspondentes á emigração.
À inevitável maior participação na vida colectiva local, dada a possibilidade de aumento mais célere dos processos de decisão sobre normas e infra-estruturas, acresceria o facto de os eleitos para as Assembleias de Freguesia se transformarem nos primeiros interlocutores políticos dos cidadãos eleitores, assegurando assim uma maior proximidade entre representados e representantes, e contribuindo para uma refundação dos partidos políticos.
Enquanto há tempo, isto é, até ao momento em que, fatigados e defraudados, os jovens (e também os descrentes no sistema político) se insurjam mais violentamente, com todas as consequências de resultados imprevisíveis daí decorrentes, há que promover esta nova "visão constitucional".
E, note-se, não escrevi "revisão constitucional".
22.Maio.2011
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As Forças Armadas e a dignidade de Portugal.
Já tinha a intenção de me debruçar sobre uma das condições constantes do Acordo entre o Governo e a comissão tripartida sobre o empréstimo internacional ao nosso país, quando José Pacheco Pereira se referiu publicamente ao assunto, em moldes que - se bem que possivelmente até agora não muito acompanhados por outrem - têm toda a minha concordância.
Trata-se de no citado Acordo, tal como veio a público, figurar uma cláusula obrigando à redução em 10% dos efectivos das Forças Armadas.
Isto sem a audição formal do Conselho Superior de Defesa Nacional, do Conselho de Estado e da Comissão Permanente da Asembleia da República, e quiçá sem o conhecimento do próprio Presidente da República e Comandante Supremo das Forças Armadas.
Creio que a tais omissões José Pacheco Pereira não se terá referido, pelo que volto ao assunto embora numa perspectiva algo diferente.
Sendo evidente que as Forças Armadas não devem deixar de colaborar nas reduções da despesa púbica que são necessárias para a concessão de empréstimos a Portugal, o facto é que se imporia uma outra redacção que - referindo tectos de despesas na área da Defesa Nacional - não mencionasse expressamente quaisquer diminuições de efectivos militares - símbolos por excelência da nossa soberania.
Caberia então ao Governo, e seguindo os procedimentos constitucionais, adequar os efectivos militares aos termos decorrentes do Acordo citado, tomando em consideração as prioridades nacionais e os recursos disponíveis.
Tivesse havido pelo menos um mínimo de dignidade, no pouco que nos resta de soberania nacional.
15.Maio.2011
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Um sombrio "Dia da União Europeia".
9 de Maio.
Penosamente as instituições oficiais da União Europeia celebram o que deveria ser um dia diferente, um dia de esperança no futuro e numa Europa solidária.
Em vez disso, constatam os cidadãos que apesar de duas importantes iniciativas associadas ao nome de Lisboa (a que há 10 anos se propunha tornar a União no conjunto económico mais competitivo do mundo, e o recentemente aprovado e conhecido por Tratado de Lisboa), a União perdeu vigor, não tem uma política externa consistente, e regrediu na sua coesão interna.
Isto, apesar de uma das suas mais importantes instituições - a Comissão Europeia - ter como missão principal a defesa do interesse público da União.
Presidida há vários anos por um cidadão português, conta entre os seus funcionários pessoas de elevada competência técnica, que porém ou não foram capazes de estudar por exemplo as dificuldades da adopção do Euro, ou de criticar as opções políticas que se terão sobreposto aos critérios técnicos.
E outra das suas instituições, o Banco Central Europeu - onde perora um vice-presidente português - colabora numa tentativa de quadratura do círculo procurando conciliar a cotação do Euro, a inflação, e o inevitável definhamento económico face ás potências mundiais.
Em vez de se ter procurado começar por uma União dos cidadãos, seguiu-se o caminho da competição comercial.
Os resultados estão à vista. Com a falta de verdadeiros estadistas, a União Europeia arrasta-se penosamente - e com ela, Portugal.
8.Maio.2011
Post scriptum - sugestão : remeter ao Parlamento finlandês este video sobre Finlândia e Portugal.
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Nem com os 3 Reis Magos ...
Menos de uma semana passou após os apelos de quem, secundado pelos 3 Reis Magos que pressurosamente compareceram em Belém, quase implorou a concórdia e unidade nacionais perante as dificuldades que se deparam no presente e no futuro de Portugal.
Em cerimónia generalizadamente aplaudida pelos meios de informação pública e a que não faltaram as condecorações da Liberdade perante as "forças vivas da nação", cujo clero e "nova nobreza" tiveram direito a lugares sentados enquanto as poucas dezenas de elementos do povo assistiam respeitosamente de pé, o venerando Presidente tentou mobilizar os portugueses e em especial as forças políticas para procurarem entendimentos que permitissem ultrapassar as dificuldades actuais e as que se avizinham.
Porém em cruel menosprezo por tão devotos desejos os dois maiores partidos representados no Parlamento ora dissolvido cedo reiniciaram hostilidades, perante o por certo espanto dos representantes das entidades que aparentemente subordinarão a concessão de empréstimos a prévia concertação de uma maioria política estável.
Um dos Reis Magos ainda tentou promover o diálogo, em tentativa de exercício de uma "magistratura activa" que, anunciada em 9 de Março passado pelo locatário de Belém, se limitou a uma ou outra intervenção pública - uma delas no estrangeiro com o "êxito" que se conheceu - e ao pedido de apreciação constitucional de aspectos formais de resolução parlamentar sobre a premente questão da avaliação de professores.
Contudo até tal tentativa de exercício de influência não teve aparentemente resultados visíveis, pelo que é lícito admitir que o poder das palavras presidenciais sofreu forte erosão, restando apenas para o exercício do poder, dentro dos limites constitucionais e da interpretação que o Presidente da República deles tem feito, a eventual imposição de um Primeiro-Ministro que não seja um dos dirigentes dos partidos políticos que tenham subscrito o possível acordo condição de empréstimo à República (ou que tenham optado por uma alternativa de reestruturação da dívida de que agora se voltou a falar).
E tudo isto numa situação surrealista: três partidos convidados a um compromisso de pelo menos uma legislatura, apresentando programas eleitorais baseados em pressupostos que ou não conhecem ou que poderão estar longe de permitirem a sua plena aplicação, para governarem de acordo com um programa financeiro plurianual elaborado por um governo de gestão...
Onde param assim o ouro, o incenso e a mirra ?
01.Maio.2011
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Cravos negros.
Com cada vez mais portugueses descrentes do mérito dos partidos políticos em geral, como diversas sondagens e estudos de opinião constatam, interrogamo-nos por certo sobre se os actos principais que se antevêem serão capazes de reanimar a confiança dos portugueses no sistema democrático.
Os actos a que me refiro são os 4 discursos "presidenciais" previstos para 25 de Abril na sumptuosidade do Palácio de Belém, as manifestações na Avenida da Liberdade, em Lisboa (tal como noutras povoações), e em 1 de Maio, e as eleições legislativas de 5 de Junho.
Excepção feita às eleições, diversos partidos políticos - cujos representantes habitualmente discursavam em 25 de Abril no Parlamento - estarão alheados da tradicional manifestação na Avenida da República, mais contribuindo assim para o seu distanciamento face ao eleitorado, bem como para a clivagem de adesão política aos ideais da democracia e da liberdade.
Se, como já o referi nestas páginas, os discursos previstos para Belém ocorressem na Praça dos Restauradores, talvez o país ganhasse algum ânimo para superar os anos de chumbo que nos esperam, e desse algum sinal aos partidos políticos de que sem uma profundo aperfeiçoamento da sua ligação ao povo o nosso país definhará.
Infelizmente antevejo o enfraquecimento das raizes políticas em que assenta a democracia, nisto incluindo a possibilidade de fenecer o poder moderador e impulsionador do Presidente da República.
Oxalá me engane, mas será que os cravos começam a estar negros ?
24.Abril.2011
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Um quarteto na Avenida da Liberdade ?
(Lamento voltar ao assunto a que me referi em 9 de Abril passado, mas apareceram entretanto mais 3 personagens presidenciais ...)
Terá o Presidente da República pensado na hipótese de, dada a grave situação que atravessamos e tendo em conta os seus apelos em prol de uma união de esforços dos portugueses para a superação da presente crise, se dirigir ao País em discurso proferido na Praça dos Restauradores no final da tradicional manifestação que em 25 de Abril ali terá o seu termo, convidando igualmente os três ex-Presidentes a pronunciarem apropriada intervenção ?
Já não avento a hipótese de ser o próprio Presidente a encabeçar a manifestação, cujo objectivo principal e único deveria ser sempre a celebração da liberdade política, pois tal decisão seria provavelmente um esforço enorme para o que aparenta ser o seu perfil - embora se acompanhado pelos três ex-Presidentes, que mais estatura aparentemente teriam para não terem vergonha de se "misturarem" com o povo sem ser em campanha eleitoral, talvez acedesse a tal -
Mas caso se concretizasse a perspectiva de serem proferidos o seu discurso e os dos seus antecessores perante a própria Avenida da Liberdade ganharia por certo um capital de liderança que seria útil a Portugal nos tempos negros que se avizinham.
E assim provavelmente veríamos também a desfilar muitas pessoas de diversos quadrantes políticos que até agora poucas vezes terão celebrado na rua o dia que prenunciou a liberdade em Portugal ...
Porém, lamento dizê-lo, creio que não se virá a concretizar qualquer perspectiva de aparição presidencial na Avenida da Liberdade, e que continuaremos a assistir a interpretações do cargo que provavelmente estarão longe do que o país precisa: um empenhado Presidente de todos os portugueses.
E quem sabe se ao invés não leremos daqui a algum tempo uma declaração ao abrigo do disposto no artigo 131º da Constituição ?
17.Abril.2011
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Encavacando ?
Foi há dias noticiado que a Assembleia da República não realizará este ano a habitual sessão comemorativa da data de 25 de Abril de 1974, uma vez que foi dissolvida e se aguarda a realização de novas eleições que possam ajudar à superação do gravíssimo momento que atravessamos.
Foi igualmente dado a conhecer que o Presidente da República, que tradicionalmente proferia a propósito daquela data um discurso na Assembleia, tencionava dirigir-se ao País a partir do Palácio de Belém.
A comemoração daquela efeméride tem sido caracterizada pela realização de manifestações públicas, entre as quais assume particular relevo a que ocorre habitualmente em Lisboa na Avenida da Liberdade.
No entanto é público e notório que em tal manifestação tem sido mais predominante a participação dos sectores mais conotados com a esquerda do espectro político - aliás um pouco em consonância com o porte ou não de cravos na sessão da Assembleia da República...
Ocorrerá assim perguntar se terá o Presidente da República pensado na hipótese de, dada a grave situação que atravessamos e tendo em conta os seus apelos em prol de uma união de esforços dos portugueses para a superação da presente crise, se dirigir ao País em discurso proferido na Praça dos Restauradores no final da manifestação que ali teria o seu termo ?
Já não avento a hipótese de ser o próprio Presidente a encabeçar a manifestação, cujo objectivo principal deveria ser sempre a celebração da liberdade política, pois tal decisão seria provavelmente um esforço enorme para o que aparenta ser o seu perfil, mas caso concretizasse a perspectiva de proferir o seu discurso perante a própria Avenida da Liberdade ganharia por certo um capital de liderança que seria útil a Portugal nos tempos negros que se avizinham.
E assim provavelmente veríamos também a desfilar muitas pessoas de diversos quadrantes políticos que até agora poucas vezes terão celebrado na rua o dia que prenunciou a liberdade em Portugal ...
Porém, lamento dizê-lo, creio que não se virá a concretizar qualquer perspectiva de aparição presidencial na Avenida da Liberdade, e que continuaremos a assistir a interpretações do cargo que provavelmente estarão longe do que o país precisa: um empenhado Presidente de todos os portugueses.
E quem sabe se ao invés não leremos daqui a algum tempo uma declaração ao abrigo do disposto no artigo 131º da Constituição ?
09.Abril.2011
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Encavacando ?
Foi há dias noticiado que a Assembleia da República não realizará este ano a habitual sessão comemorativa da data de 25 de Abril de 1974, uma vez que foi dissolvida e se aguarda a realização de novas eleições que possam ajudar à superação do gravíssimo momento que atravessamos.
Foi igualmente dado a conhecer que o Presidente da República, que tradicionalmente proferia a propósito daquela data um discurso na Assembleia, tencionava dirigir-se ao País a partir do Palácio de Belém.
A comemoração daquela efeméride tem sido caracterizada pela realização de manifestações públicas, entre as quais assume particular relevo a que ocorre habitualmente em Lisboa na Avenida da Liberdade.
No entanto é público e notório que em tal manifestação tem sido mais predominante a participação dos sectores mais conotados com a esquerda do espectro político - aliás um pouco em consonância com o porte ou não de cravos na sessão da Assembleia da República...
Ocorrerá assim perguntar se terá o Presidente da República pensado na hipótese de, dada a grave situação que atravessamos e tendo em conta os seus apelos em prol de uma união de esforços dos portugueses para a superação da presente crise, se dirigir ao País em discurso proferido na Praça dos Restauradores no final da manifestação que ali teria o seu termo ?
Já não avento a hipótese de ser o próprio Presidente a encabeçar a manifestação, cujo objectivo principal deveria ser sempre a celebração da liberdade política, pois tal decisão seria provavelmente um esforço enorme para o que aparenta ser o seu perfil, mas caso concretizasse a perspectiva de proferir o seu discurso perante a própria Avenida da Liberdade ganharia por certo um capital de liderança que seria útil a Portugal nos tempos negros que se avizinham.
E assim provavelmente veríamos também a desfilar muitas pessoas de diversos quadrantes políticos que até agora poucas vezes terão celebrado na rua o dia que prenunciou a liberdade em Portugal ...
Porém, lamento dizê-lo, creio que não se virá a concretizar qualquer perspectiva de aparição presidencial na Avenida da Liberdade, e que continuaremos a assistir a interpretações do cargo que provavelmente estarão longe do que o país precisa: um empenhado Presidente de todos os portugueses.
E quem sabe se ao invés não leremos daqui a algum tempo uma declaração ao abrigo do disposto no artigo 131º da Constituição ?
09.Abril.2011
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O futuro de Portugal?

1.Abril.2011
Negronegronegronegronegronegronegronegronegronegroneonegronegronegro
gregogregogregogregogregogregogregogregogregogregogregogregogregogrego
negronegronegronegronegronegronegronegronegroneonegronegronegronegro
pregopregopregopregopregopregopregopregopregopregopregopregopregoprego
alegroentregogregocegopregonegroalegroentregogregocegopregonegro?
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Extractos imaginários de encontros das quintas-feiras, em Belém - 2011.
6.Jan.:
- Permita-me que o cumprimente, senhor Presidente, pelo discurso de Ano Novo, cuja sensatez e equilíbrio muito me impressionaram.
- Pode continuar a contar, senhor Primeiro-Ministro, com a minha franca cooperação, dentro dos limites constitucionais e daqueles que a campanha eleitoral circunscreve. E, em traços gerais, como está a situação financeira do país ?
- Continuamos a desenvolver os nossos esforços no sentido de a execução que ora começa do orçamento do Estado venha a permitir mostrar aos mercados que estamos no caminho correcto, e assim aliviando a pressão que temos sentido.
13.Jan.:
- Senhor Presidente, o Ministro da Administração Interna assegura-me que tudo está a decorrer normalmente no que respeita à preparação do acto eleitoral do próximo dia 23.
- Muito folgo, senhor Primeiro-Ministro, e faço votos por que tudo se desenvolva com a tranquilidade e eficácia que têm caracterizado as eleições.
27.Jan.:
- Permita-me que lhe renove as minhas felicitações pela sua reeleição, e espero que possa em breve, em próxima alocução, assinalar os esforços e consequentes progressos do Governo.
- Senhor Primeiro-Ministro: tal como referi no meu discurso, o meu próximo mandato, que se iniciará em 9 de Março, será pautado por uma magistratura que não deixará de seguir atentamente a acção governativa.
Espero entretanto que sejam apuradas responsabilidades quanto aos problemas ocorridos no acto eleitoral.
10.Fev.:
- Senhor Presidente: tenho boas notícias quanto à execução orçamental de Janeiro, e as perspectivas futuras parecem positivas.
- Muito bem; e considera que há condições para que tal ritmo se mantenha sem necessidade de recurso a medidas complementares, tendo em atenção a possibilidade do aumento do custo de matérias-primas alimentares e energéticas?
- Penso que não haverá necessidade de outras medidas quanto ao orçamento deste ano. Em todo o caso, não deixaremos de estar atentos pois como sabe em Abril deveremos apresentar o Programa de Estabilidade e Crescimento para os póximos dois anos.
24.Fev.:
- Senhor Primeiro-Ministro: espero que os trabalhos de preparação do Programa de Estabilidade e Crescimento já se tenham iniciado, pois já só restam dois meses para o seu termo nos prazos fixados.
- Senhor Presidente: a preparação decorre normalmente sob a direcção do Ministro das Finanças, e será apresentado à Assembleia da República em devido tempo.
10.Mar.:
- Senhor Presidente: apresento-lhe os meus votos formais de um exercício do seu alto cargo de um modo que ajude o Governo a ultrapassar as preocupações que ambos partilhamos em matéria de recuperação económica e financeira, e a que - aliás em tom que algo me surpreendeu - se referiu no seu acto de posse.
- Senhor Primeiro-Ministro: tal como afirmei ontem, penso exercer o meu cargo no sentido de ser recentrada a nossa agenda de prioridades, e estou certo de que o Governo a tal dará a sua melhor colaboração.
Em 11 de Março estava já o Primeiro-Ministro em Bruxelas, apresentando um Programa de Estabilidade e Crescimento sem que dele aparentemente houvesse nas instâncias políticas antecipado conhecimento.
Teria tal Programa, para cuja elaboração contribuiram técnicos do Banco Central Europeu e da Comissão Europeia em diversas reuniões ocorridas em Lisboa, sido elaborado em tão grande segredo que de tal não tivessem chegado ecos ao Presidente da República, nem aos Grupos Parlamentares ?
Mistérios que se espera o tempo venha a esclarecer.
26.Março.2011.
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Dívidas e dúvidas
De uma conversa com um amigo:
Em primeiro lugar, será que o Eurogrupo e a União Europeia consideram que caso Portugal não solicite ajuda ao Fundo de Estabilidade haverá que a forçar caso se admita que o próprio Euro ficará com falta de credibilidade ?
E se o BCE deixar - como se pressente - de financiar os bancos portugueses dado já ter iniciado a subida da taxa de juro da zona Euro (subida incompatível com o prosseguimento dos financiamentos à Banca) apesar das reservas do Banco de França a tal subida ?
Se tal ocorrer (retirada do apoio do BCE) terá que haver pedido do Governo à ajuda do Fundo de Estabilidade Financeira, pois a notação da República não permite à Banca financiar-se a taxas comportáveis nos mercados internacionais.
Se a Banca, mesmo assim, conseguir manter alguma margem de manobra até Junho, resta saber se a República conseguirá superar as fortes dificuldades de financiamento que terão o seu cume em Abril e naquela data.
Se admitirmos que a atitude recente do Governo tem sido a de provocar uma crise política aparentando que não a deseja, a fim de provocar eleições que ainda permitam ao Partido Socialista manter uma capacidade residual, mas decisiva, de bloqueio - ou necessária para a formação de governo - tal permitirá ao Governo de gestão salvar a face e solicitar a intervenção do Fundo (obvia e necessariamente com impulso presidencial, quiçá a contragosto de A.Cavaco Silva...).
Uma coisa é certa: não se deve confundir um equilíbrio orçamental, mesmo que se chegue a um "deficit" de 2% do Produto Interno Bruto - provavelmente acompanhado de recessão económica - com a necessidade de crescimento daquele Produto a taxas que permitam o pagamento de uma dívida soberana crescente.
E tal só se consegue com um profundo empenhamento do povo português, com uma mudança no grau e no modo de participação política que tenho vindo a advogar - e enquanto é tempo, se ainda o há.
Infelizmente o único actor político com credibilidade institucional não parece ter o perfil mobilizador que para tal se imporia.
Probabilidade de evolução ? Reestruturação da dívida soberana, com a diminuição da credibilidade do país, eventualmente acompanhada por uma intervenção externa - ao nível financeiro - ou interna, de contornos por enquanto indefiníveis, mas nem por isso menos preocupantes ...
19.Março.2011.
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Reuniões "institucionais".
Embora o Presidente da República tenha afirmado que após a sua eleição para novo mandato se absteria de comentar publicamente a vida política portuguesa até à nova tomada de posse, certamente não terá deixado de manter as habituais reuniões semanais com o Primeiro-Ministro e de nelas se inteirar da acção governativa, bem como de com menor ou maior grau procurar assegurar a "cooperação estratégica" que referiu iria observar desde a sua eleição em 2006.
Por outro lado, no discurso que proferiu em 9 de Março no seu acto de posse relativo ao novo mandato não deixou de acentuar que iria procurar exercer uma "magistratura activa", o que obviamente implicaria a manutenção de um fluxo de informação por parte do Governo, tendo o seu primeiro responsável comentado que iria respeitar o princípio da colaboração institucional com os orgãos de soberania.
O Ministério das Finanças, porém, estava entretanto preparando um vultoso conjunto de disposições que se destinavam a reforçar o combate ao desequilíbrio orçamental, e que o Primeiro-Ministro viria a apresentar no Conselho Europeu que teve lugar em 11 de Março, ao mesmo tempo que o Ministro Teixeira dos Santos dava delas conhecimento aos portugueses na mesma manhã.
Porém, nem tais disposições tinham aparentemente sido aprovadas em Conselho de Ministros, nem delas tinha sido dada qualquer informação ao Presidente da República nem ao Parlamento.
O grande conjunto de decisões tomadas por certo não foi preparado apenas em dois ou três dias, pelo que se constata que não terá começado da melhor forma a apregoada colaboração institucional.
Maus prenúncios para os tempos ainda mais difíceis que se deparam a Portugal.
12.Março.2011
Final do discurso do Presidente da República.
E agora dirijo-me em especial à juventude, nomeadamente à que sente menos esperança no futuro, e também aos portugueses sem emprego, jovens ou não.
O nosso país, concluido inevitavelmente o ciclo imperial, encetou um novo caminho, centrado por um lado na integração na União Europeia, e por outro na abertura ao Atlântico e ao resto do mundo.
O inevitável e difícil período de ajustamento que ainda vivemos não conseguiu porém concretizar o desejável ritmo de crescimento económico para cuja realização teria sido essencial o aumento das exportações, bem como a diminuição das importações.
Só assim teria sido e será possível a criação e a manutenção de emprego, em especial do de acentuada qualificação, permitindo a criação de reservas financeiras que assegurem uma boa prestação de serviços pelo Estado.
As empresas susceptíveis de aumentar consideravelmente as nossas exportações, e de contribuirem para a redução das importações, melhorando assim simultaneamente a nossa balança de pagamentos, assentam essencialmente na iniciativa privada, que deve ser adequadamente apoiada pelo Estado, nomeadamente em termos de incentivos fiscais.
Irei assim recomendar ao Governo que desencadeie as acções necessárias para a concretização de tais objectivos, diminuindo em contrapartida a despesa pública não essencial, e à Assembleia da República que colabore na prossecução destes fins, sempre e obviamente sem prejuízo da acção valorativa e fiscalizadora que devem ser seus atributos.
Por outro lado, o nosso País só progredirá verdadeiramente se for colmatado o notório afastamento dos cidadãos, e em particular dos jovens, relativamente à vida política, pelo que apelo à Assembleia da República, que nesta legislatura tem poderes constituintes, para promover entre os cidadãos intensos debates em tal matéria, que lhe permitam fomentar e aprofundar a participação que deve constituir o cerne da vida em democracia, e que constituirá a base que contribuirá para a moralização da nossa vida em comunidade.
Finalmente: a todos os que sintam desânimo e falta de horizontes quero recordar que Portugal soube sempre superar os momentos difíceis da sua História.
E nestes momentos difíceis, por certo o fará, desde que os nossos cidadãos tenham o sentimento que haverá justiça na assunção dos sacrifícios que nos serão solicitados.
5.Março.2011
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Impasse político: muitas análises, poucas soluções.
É frequente, cada vez mais frequente, lermos ou ouvirmos de diversos quadrantes políticos - inclusivamente na área que apoia o Governo - referências ao esgotamento do modelo político seguido no nosso país.
Recentemente o próprio Presidente da Câmara Municipal do Porto terá chegado a afirmar que "estamos a viver o fim do regime do 25 de Abril".
Análises não têm faltado, embora com poucas propostas de soluções, as quais se têm limitado a pouco mais do que a adopção de círculos uninominais coexistindo com um círculo nacional, a de um reforço dos poderes presidenciais, ou a imposição constitucional de governos maioritários.
Infelizmente creio que nenhuma de tais soluções possa resolver ou atenuar o problema de fundo: a falta de participação política dos cidadãos que não militam em partidos, e que não vão além do exercício do voto - quando não se abstêm.
Tal apenas poderá ser colmatado através de um reforço do poder local de base, mediante a redistribuição de recursos das Câmaras Municipais, e da reformulação do sistema eleitoral no sentido de os escolhidos para as Assembleias de Freguesia constituirem um colégio que elegeria uma parte do Parlamento - a outra sendo constituída por um círculo nacional - ou, alternativamente, constituirem uma segunda Câmara parlamentar, à semelhança do que ocorre em França. E princípios análogos seriam adoptados para a escolha dos representantes municipais.
Teríamos assim um verdadeira aproximação do eleitor aos seus representantes, pois os cidadãos saberiam que as Freguesias disporiam de mais meios e que os eleitos - muito mais próximos deles do que os deputados - teriam uma maior capacidade de fazerem ouvir a voz dos que os escolheram.
Os efeitos destas modificações far-se-iam sentir de modo consistente, com reflexos imediatos na diminuição da corrupção e na qualidade das leis e da sua execução.
Infelizmente, dado que os partidos políticos provavelmente não se atreverão a tão importantes modificações constitucionais, nem o escrupuloso Presidente da República será capaz de os convencer, ou de descobrir alternativas, parece assim estarmos perante uma situação de impasse.
Será que Rui Rio terá razão ?
27.Fevereiro.2011
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A atribuição de deputados por círculos eleitorais.
As abstenções na eleição do Presidente da República atingiram valores preocupantes e reveladores do desencanto do eleitorado quanto ao seu papel no sistema político.
Embora se deva ter em consideração a existência de uma "abstenção técnica", provocada por inevitáveis desfasamentos entre o universo real de eleitores e o recenseamento respectivo, e cujo valor pode normalmente oscilar entre os 3 e os 5% (admitindo-se possa ter sido maior nesta eleição), o facto é que a abstenção total foi anormalmente elevada.
Tal situação é denunciadora de uma grave crise no nosso sistema democrático, apenas susceptível de ser resolvida por novos métodos que levem os portugueses a participar mais na vida política, melhorando assim o estado da democracia.
Tendo já sugerido publicamente formas de aperfeiçoamento do sistema democrático, nomeadamente através da instituição de um Senado, não me irei debruçar de novo sobre tais modelos, mas sugerir uma reflexão sobre uma outra forma de participação eleitoral, dada a circunstância de o actual sistema de recenseamento, assente no automatismo da inscrição de todos os cidadãos que possuem bilhete de identidade ou cartão de cidadão (incluindo assim muitos emigrantes), permitir que a abstenção atinja valores ainda mais elevados e – importante - sem uma distribuição uniforme no território nacional dada a existência de muitos emigrantes aqui recenseados.
Assim, um novo método assentaria no princípio de não serem contabilizadas as abstenções, o que não prejudicaria as eleições em círculo nacional (único) como o são as do Presidente da República e dos Deputados ao Parlamento Europeu, e introduziria maior justiça nas eleições de Deputados da Assembleia da República, na medida em que a distritos com maior emigração - onde há muitos eleitores não residentes habitualmente - não seriam atribuídos mais Deputados do que os que correspondessem ao verdadeiro "peso" eleitoral dos respectivos círculos, argumento que seria igualmente válido para as eleições locais (nestas, contribuindo-se para uma justa redução do número de eleitos).
Haveria entretanto que manter uma excepção quanto ao número de Deputados pelos círculos da emigração e regionais, bem como nos referendos, para cuja validade a Constituição impõe que a participação seja superior a 50 por cento dos inscritos.
Deveria também adoptar-se um novo sistema para a elaboração dos cadernos eleitorais (já possível com o actual recenseamento informatizado ) baseado na ordem alfabética por secções eleitorais assentes em agrupamentos de ruas, ou – como o Governo acaba de propor - por ordem dos números de identificação civil, o que permitiria eliminar a existência do número de eleitor, mantendo-se assim o salutar princípio do voto de proximidade.
Estes novos métodos contribuiriam por certo para uma maior mobilização do eleitorado, e seriam de fácil concretização.
19.2.2011
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Comissão Parlamentar sem conclusões.
A polémica que ocorreu na sequência da eleição do Presidente da República, no passado dia 23 de Janeiro, decorrente da impossibilidade de diversos eleitores não conseguirem confirmar o respectivo número de eleitor, assenta num conjunto de situações que têm de ficar bem esclarecidas, não só pelo facto de um dos alicerces da democracia ser o recenseamento eleitoral, como também porque importa identificar as responsabilidades que a tal polémica conduziram, pelo que se torna necessário responder cabalmente a diversas questões relacionadas com o cartão de cidadão e com o número de eleitor, e às quais os limites do inquérito pedido à Universidade do Minho poderão ter impedido o necessário aprofundamento do assunto, tal como se constatou no decorrer da Comissão Parlamentar que convocou anteontem o Ministro e a Secretária de Estado da Administração Interna.
Assim, pergunta-se: quem propôs, e quem decidiu, que fosse retirado o campo "número de eleitor" da plataforma informática de apoio ao cartão de cidadão, e por que razões ?
Quem, decidida que foi tal supressão, determinou que fosse seguida a ordenação alfabética dentro de cada freguesia ?
Quem propôs depois que tal ordenação fosse substituída pela ordem dos ainda existentes números de eleitor constantes da então base de dados do recenseamento ?
Quem determinou que o STAPE fosse extinto e passadas as suas atribuições a uma difusa "Administração Eleitoral" integrada numa "Direcção-Geral da Administração Interna" sem o prestígio obtido ao longo dos anos pelo organismo extinto ?
Quem foi o autor da disposição prevendo que o código postal fosse o elemento de referência para a determinação da freguesia de recenseamento dos detentores de cartão de cidadão, provocando assim diversas distorções devidas à não coincidência, em muitos casos, de freguesias com códigos postais ?
Quem foram os responsáveis, no âmbito da Presidência do Conselho de Ministros e no do Ministério da Administração Interna, em especial na Unidade das Tecnologias de Informação de Segurança, pelo fracasso dos sistemas informáticos concebidos para informar os eleitores de qual o local de voto respectivo ?
Quem foi o responsável pela inexistência de prévia notificação postal sobre qual o local de voto aos eleitores detentores de cartão de cidadão emitido desde as eleições de 2009?
Porque não lançou a Comissão Nacional de Eleições uma adequada acção de informação pública dirigida a tais eleitores ?
Espera-se que as respostas a tais perguntas venham a ser do conhecimento público, e que os responsáveis pela melhoria do sistema delas tirem as ilações adequadas.
E que, como por vezes ocorre, as responsabilidades políticas não sejam ocultadas através do recurso a sanções a funcionários que com zelo e dedicação tentam conciliar decisões de carácter político com impossibilidades técnicas.
13.Fevereiro.2011.
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Abstenções, novo sistema eleitoral e de recenseamento.
Embora se deva ter em consideração a existência de uma "abstenção técnica", provocada por inevitáveis desfasamentos entre o universo real de eleitores e o recenseamento respectivo, e cujo valor pode normalmente oscilar entre os 3 e os 5%, o resultado da eleição do Presidente da República atingiu valores preocupantes e reveladores do desencanto do eleitorado quer com os candidatos, quer quanto ao seu papel no sistema político, quer mesmo quanto ao próprio sistema em si.
Saliente-se por exemplo o facto de uma significativa percentagem do eleitorado participante ter optado por uma forma de voto que se poderia apelidar de "abstenção militante", considerando-se que cerca de 6% dos votantes se deslocaram às assembleias de voto em dia frio e invernoso no território nacional para deliberadamente recorrerem ao voto em branco ou ao voto nulo.
Tal fenómeno de "abstenção militante", para o qual me foi chamada a atenção pelo ilustre Neurocirurgião Prof.Ernesto de Carvalho, cidadão que desde há muito tempo se interessa pela qualidade da vida em democracia, juntando-se ao elevado nível de abstenção ocorrido nestas eleições, que rondou os 54%, e ao qual poderíamos acrescentar cerca de 6% de votos em candidatos que se poderiam caracterizar como votos de "protesto" - é denunciadora de uma grave crise no nosso sistema democrático, apenas susceptível de ser resolvida por novos métodos que levem os portugueses a participar mais na vida política corrigindo assim as situações de deficiente funcionamento do regime.
Tendo já por diversas vezes sugerido publicamente formas de aperfeiçoamenro do sistema democrático, não me irei debruçar de novo sobre tais modelos, mas sugerir uma reflexão sobre uma outra forma de participação eleitoral, dada a circunstância de o novo método de recenseamento, assente no automatismo da inscrição de todos os cidadãos que possuem bilhete de identidade, permitir que a chamada "abstenção técnica" anteriormente referida atinja valores mais elevados e sem a certeza de uma distribuição uniforme no território nacional.
O novo método que proponho assenta no princípio de não serem contabilizadas as abstenções, o que não prejudica as eleições em círculo nacional (único) como o são as do Presidente da República e dos Deputados ao Parlamento Europeu, e introduz maior justiça nas eleições de Deputados da Assembleia da República, na medida em que a círculos com maior emigração - onde há muitos eleitores não residentes - não seriam atribuídos mais Deputados do que os que correspondessem ao verdadeiro "peso" eleitoral dos respectivos círculos, argumento que seria igualmente válido para as eleições regionais e locais (nestas, contribuindo-se para uma justa redução do número de eleitos).
Haveria entretanto que manter uma excepção quanto ao número de Deputados pelos círculos da emigração, bem como relativamente aos referendos, para cuja validade a Constituição impõe que a participação seja superior a 50 por cento dos inscritos.
Ao mesmo tempo poderia passar-se a adoptar um novo sistema para a elaboração dos cadernos eleitorais (uma vez que o recenseamento informatizado já o permitiria) baseado na ordem alfabética por secções eleitorais assentes em agrupamentos de ruas, o que permitiria dispensar a existência do número de eleitor, mas permitindo a manutenção do salutar princípio do voto de proximidade.
Estes novos métodos (a não contabilização das abstenções, e a elaboração de cadernos eleitorais por ordem alfabética dentro de cada secção eleitoral) contribuiriam para uma maior mobilização do eleitorado, e seriam de fácil adopção.
Resta saber se os legisladores estarão na disposição de "simplexificar" ...
06.Fevereiro.2011
Cartão de cidadão e número de eleitor: em 2007 e 2009 foram feitos avisos sobre os problemas que poderiam ocorrer - e ocorreram - nas recentes eleições presidenciais . 25.Jan.2011
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O futuro do regime.
Recente sondagem, encomendada por um grupo que concretizou uma iniciativa designada por "Projecto Farol", apresenta resultados extemamente pessimistas sobre a opinião que os portugueses têm quanto ao perfil dos dirigentes políticos e quanto ao estado de Portugal.
Embora não tenha aparentemente sido difundida a respectiva ficha técnica, que tal como a lei o exige deve acompanhar os resultados ou a sua síntese, o perfil da empresa que realizou a sondagem leva a crer que terá utilizado metodologia credível, pelo que a opinião pública dos portugueses sobre a vida política e o futuro do nosso país assume graus de pessimismo muito preocupantes, ao ponto de cerca de 90% dos cidadão não confiarem nos políticos, e de 70% nos tribunais, na administração pública e nos sindicatos.
Inclusivamente, quase 50% - segundo a súmula dada a público - considera que Portugal estava melhor há 40 anos, ou seja, cerca de 1970.
Entretanto, e para além de outras opiniões de figuras conhecidas que afinam por um sentimento de acentuado pessimismo quanto ao nosso futuro, destacou-se recentemente Vasco Pulido Valente ao afirmar há dias que "só se resolve a crise mudando de regime".
Podemos assim interrogarmo-nos sobre as razões de uma aparente - no mínimo - derrocada do sistema de democracia parlamentar em que vivemos, e que levou a um tão grande divórcio entre os partidos políticos e o povo, a um ponto tal que até se fala em mudança de regime.
E as razões são relativamente simples e assentam no seguinte ponto: embora vivamos numa democracia formal, há uma enorme falta de participação política, nomeadamente ao nível local, que leva ao progressivo afastamento entre os cidadãos e as pessoas que por estes são eleitas.
Tal falta de participação pode ser colmatada pela redistribuição de recursos ao nível das autarquias locais, nomeadamente entre as Câmaras e as Freguesias, bem como pela atribuição a estas de maiores competências de natureza política, em termos que por diversas vezes tenho apresentado publicamente, quer na imprensa, quer nestas páginas.
Todas as alternativas passam por soluções artificiais, como a dos círculos uninominais, que em nada contribuirão para melhorar o sistema democrático, ou pelo recurso a sistemas mais ou menos ditatoriais, insusceptíveis de serem aceites no seio da União Europeia, e - creio ainda - pela maioria do povo português.
E agora que se entra num ciclo de anos de profunda crise económica e financeira, há que recordar que a responsabilidade pelo aperfeiçoamento do sistema democrático é de todos nós, e não apenas de alguns - eleitos ou por estes nomeados - que aparentemente apenas desejam a manutenção de privilégios ilegítimos.
22.Janeiro.2011 .
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Ídolos, Castros e Mares de Paixão
(Candidaturas, debates e carências de igualdade. )
O Tribunal Constitucional, no uso das competências que lhe são atribuídas, deu por concluído no prazo legalmente previsto (3 de Janeiro) o processo de admissão de candidaturas à eleição do Presidente da República, tendo assim determinado a existência de 6 candidaturas válidas de entre as que tinham sido apresentadas até 23 de Dezembro.
Embora o Diário da República daquele dia e do dia seguinte não tenham publicado a citada decisão, esta foi comunicada aos orgãos de informação e transcrita nas páginas Internet daquele Tribunal, se bem que sem menção da data, presumindo-se que tenha sido dada a conhecer oficialmente a todos os candidatos.
Recorda-se entretanto que compete à Comissão Nacional de Eleições (CNE), entre outras importantes missões, assegurar a igualdade de oportunidades de acção e propaganda das candidaturas durante as campanhas eleitorais, tendo-se subentendido até agora que tal pode abranger o período não oficial da campanha eleitoral, ou seja, o que tem sido hábito designar-se por "prè-campanha".
Julgo saber que a CNE terá em devido tempo e como tem sido habitual recordado este assunto aos meios de informação pública, suponho que visando essencialmente o período legal da campanha (Janeiro de 2011), e por inferência o período preliminar.
Contudo 5 dos candidatos, ou respectivos mandatários, participaram num processo de programação televisiva que foi objecto de longas negociações durante Novembro de 2010, processo esse que tendo optado pela concretização de debates (entre 14 e 29 de Dezembro) no formato de "frente a frente" com moderação de jornalista, não previu a presença dos outros cidadãos que tinham dado a conhecer a intenção de apresentar candidatura.
Poderia dizer-se que os então prè-candidatos "escolhidos" pelas emissoras de televisão para tais debates seriam os que estariam associados a notoriamente importantes grupos de cidadãos promotores das respectivas candidaturas, e que teriam o respectivo processo bastante adiantado, mas é evidente que tal argumento não só não é legal como também não se reveste de solidez.
Argumentar-se-á com a existência de critérios de interesse jornalístico ? Mas o candidato excluído dos debates cedo veio a demonstrar a sua capacidade em tal plano, não sendo lícito em qualquer caso determinar antecipadamente que não teria qualquer interesse a respectiva participação em debates televisivos.
E o facto de um dos candidatos desempenhar funções em que diz representar todos os portugueses poderá ser demonstrativo de como que uma "cumplicidade" aparente com um processo eivado de carência democrática - "cumplicidade" que terá também havido da parte dos restantes que participaram nos debates, embora sem o grau de responsabilidade do primeiro.
Teria ficado bem a todos exigirem que os debates televisivos tivessem lugar com a participação de todos os candidatos não rejeitados pelo Tribunal Constitucional, logicamente após a data de 3 de Janeiro, nem que para tal tivesse que ser adoptado um modelo diferente, e dando assim cumprimento à recomendação da Comissão Nacional de Eleições.
Além disto, a CNE poderia (deveria?) ter feito nova recomendação no dia 4 de Janeiro, e por outro lado qualquer dos candidatos (o que seria elegante) e nomeadamente um deles poderia ter também a partir daquela data exposto o assunto ao Tribunal Constitucional, caso as principais estações televisivas não viessem a colaborar.
Teria havido tempo para num intervalo entre Ídolos, Castros, e Mares de Paixão ou análogos, se terem incluído os 5 debates que não foram realizados em frente a frente. E, entre o dia 18 e o dia 21, talvez ainda pudesse haver ...
Pela minha parte, penitencio-me por não ter escrito e dado conhecimento destas sugestões no dia 4.
Diz-se que a democracia, para ser plena, deve respeitar os direitos das minorias, pelo que mal continuará o nosso país caso se confirmem estes atropelos reveladores de carências em matéria de democracia.
15.Janeiro.2011
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Inquérito a Camarate, e gravadores.
A Assembleia da República acaba de criar mais uma Comissão de Inquérito às circunstâncias em que se deu a queda do avião em que viajava o então Primeiro-Ministro Francisco Sá Carneiro, bem como outras pessoas de relevo na vida política nacional.
Tal Comissão será presidida pelo Deputado Ricardo Rodrigues, Vice-Presidente do Grupo Parlamentar do Partido Socialista, Membro do Conselho Superior do Ministério Público eleito pela Assembleia da República e Membro da Comissão Permanente da Assembleia da República, bem como da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias.
O citado Deputado também se notabilizou recentemente quando se apropriou indevidamente de dois gravadores que registavam uma entrevista concedida ao semanário "Sábado", que apresentou queixa às competentes autoridades, não se conhecendo (creio) o respectivo resultado.
Francisco Assis, Presidente do Grupo Parlamentar do Partido Socialista garantiu a sua «solidariedade, respeito e consideração» ao citado Deputado, e a Comissão Parlamentar de Ética rejeitou (por maioria de votos) a hipótese de analisar a conduta do deputado Ricardo Rodrigues.
Os portugueses terão por certo opiniões a propósito deste assunto.
O que certamente muitos não compreenderão será o facto de em matéria tão sensível como a da investigação ao que ficou conhecido como o "caso Camarate", em que por certo serão usados gravadores para registar o decorrer das sessões testemunhais, seja escolhido precisamente o Deputado Ricardo Rodrigues para presidir à respectiva Comissão de Inquérito.
Mais um golpe na credibilidade das instituições democráticas ?
9. Janeiro.2011
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Faleceu Vítor Alves.
Aqui presto a minha homenagem ao Coronel Vítor Alves, cujo trato, sensatez e inteligência me impressionaram vivamente desde que o conheci, e marcaram a sua notável presença política - e humana - no nosso País.
9.Jan.2011
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2011, um ano excepcional.
Excepcional, porque as disposições tomadas pelos orgãos apropriados quanto à recuperação do desequilíbrio do orçamento de Estado são um caso de força maior.
Excepcional, porque poucos dias após publicadas começaram logo a surgir novas normas isentando certos grupos de por elas serem abrangidas.
Excepcional, porque as disposições em causa não se revestem, paradoxalmente - ou talvez não - de um padrão de aplicação universal, em que os critérios tenham em conta adequada as disparidades sociais existentes.
Excepcional, porque ainda nem sequer chegados ao primeiro dia do novo ano já se tomavam medidas aparentemente excepcionais quanto a promoções e reajustamentos de carreiras.
Excepcional, porque por exemplo na véspera do novo ano é activada uma Empresa (GERAP) para a área de recrutamento e selecção do pessoal da Administração Pública - ou seja, mais uma espécie de empresa pública, e logo para uma actividade em que não se antevê a possibilidade de lucros "empresariais".
Excepcional, porque por certo as Directivas Europeias passarão a ser transpostas mais rapidamente (ao contrário do que sucedeu com as destinadas a reforçar a solidez financeira).
Excepcional, porque continuará a haver falta de clareza sobre as razões que levaram acções bancárias a valorizarem-se para mais do dobro em apenas dois anos, e porque tal não suscitou dúvidas aos seus detentores.
Excepcional, porque o deputado Ricardo Rodrigues saberá os resultados do julgamento da queixa apresentada a propósito do "furto" de gravadores de jornalistas contendo uma entrevista sua; e que o seu Grupo Parlamentar lhe retirará a confiança "política" - questões aparentemente menores, mas essenciais como barómetro de uma vida política saudável.
Excepcional, porque finalmente alguém com responsabilidades explicará com simplicidade e clareza o que aconteceu às finanças públicas portuguesas, e quais os melhores caminhos para a sua recuperação (e que não passam apenas pela simples aprovação de um Orçamento, mas também por uma perspectiva de longo prazo).
Excepcional, porque os portugueses compreenderão que a falta de confiança nos seus representantes eleitos a nível dos orgãos superiores do Estado precisa de ser resolvida com medidas que fomentem a participação política de base.
Excepcional ? Ou talvez não ?

1 de Janeiro de 2011 




                                                                                                                       010108